Do Mar Verde a Madina do Boé

O fiasco da operação "Mar Verde", em finais de 1970, o assassinato de Amilcar Cabral, em janeiro de 1973 e, nove meses depois, em Madina do Boé, a Declaração Unilateral de Independência da República da Guiné-Bissau. São três momentos fundamentais e profundamente interligados da história da luta armada levada a cabo pelo PAIGC contra a ocupação portuguesa.

Perante as dificuldades das forças armadas portuguesas em território guineense, é enviado para a colónia, como governador, em 1968, o então brigadeiro António de Spínola. O propósito era apenas um: derrubar Amílcar Cabral e a guerrilha do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde). Mas a Guiné vai revelar-se o grande desafio militar, onde Portugal perde 30 por cento dos homens que morreram a lutar em África.

É o capitão-tenente dos fuzileiros, Alpoim Calvão, quem desenha a operação “Mar Verde”. Consta como a mais arriscada e irregular da guerra colonial. Decorreria na Guiné-Conacri e tinha como objetivos libertar 26 soldados portugueses, simular um golpe de estado e matar o presidente. Destruir as bases do PAIGC neste país vizinho apoiante da guerrilha guineense, matar Amílcar Cabral e colocar no poder um governo fantoche. Falhou tudo, exceto o resgate dos soldados.

Até 1972 a situação piora para os militares portugueses e Spínola admite que não é possível vencer a guerra pela força das armas, mas Lisboa recusa o início de negociações com o PAIGC. Em janeiro de 1973, o líder do movimento independentista é assassinado por guineenses numa conjura com a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) que já tinha tentado assassinar Amílcar Cabral por quatro vezes.

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A partir desse momento e com a ajuda internacional, nomeadamente da União Soviética, a guerra torna-se absolutamente catastrófica para Portugal. A guerrilha começa a usar mísseis terra-ar e a levar a cabo operações de grande envergadura, até que a Assembleia Nacional Popular, reunida em Madina do Boé, por convocatória do PAIGC, proclama, a 24 de setembro de 1973 a Independência Unilateral da Guiné-Bissau.

O Estado português, que já tinha sido condenado pelas Nações Unidas devido à operação “Mar Verde”, foi novamente enxovalhado a nível internacional. O Conselho de Segurança da ONU, tal como a OUA (Organização de Unidade Africana), reconhece a independência e classifica Portugal como país ocupante. É proposta a adesão da Guiné-Bissau como novo país da ONU. A 10 de setembro de 1974, Portugal reconhece a independência do país. É a primeira colónia a consegui-lo.

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Ficha Técnica

  • Título: História a História África - Do Mar Verde a Madina do Boé, episódio 11
  • Tipologia: Documentário
  • Autoria: Fernando Rosas
  • Produção: RTP / Garden Films
  • Ano: 2017