José Saramago sobre “As Intermitências da Morte”
«No dia seguinte ninguém morreu». A primeira frase do romance de José Saramago anuncia um novo tempo sem morte, o sonho da imortalidade subitamente concedido a homens e a mulheres de um país sem nome. Mas o autor, habituado a "manejar" absurdos, vai transformar a utopia em distopia. O que acontece a um mundo onde não é possível morrer, mas onde se continua a envelhecer? Saramago responde aqui. E explica a diferença entre "matar" e "dar a morte".
Todos os livros de José Saramago partem de um absurdo, de uma impossibilidade ou, pelo menos, começam com uma improbabilidade. Este seu romance, escrito aos 82 anos, confirma a regra. Em “As Intermitências da Morte”, o autor retira a “serial killer” de funções e liberta-nos do medo de morrer. Depois de conquistada a imortalidade, o narrador habilmente explora as consequências da hipótese avançada, e progressivamente transforma o maior sonho do homem no pesadelo mais terrível.
A mudança é tão rápida e profunda que a sociedade, perigosamente, tende a ceder ao caos. O governo não sabe como pagar as pensões, a igreja não sabe como manter o rebanho unido, as famílias não sabem o que fazer com os seus velhos; só as máfias parecem preparadas para tirar partido da nova desordem. Até que a morte, depois de experimentar o amor, se “rende à evidência” que tem de voltar a matar para salvar a Humanidade.
Nesta alegoria sobre a vida e sobre a morte, Saramago coloca-nos ainda perante a angustia do camponês que, em grande sofrimento causado por uma doença incurável, pede para morrer, introduzindo desta forma os complexos e delicados temas da eutanásia e do suicídio assistido. Sem alongar-se em argumentos éticos ou morais, o Nobel da Literatura sublinha na entrevista a Ana Sousa Dias a diferença entre matar e dar a morte, uma síntese da explicação que deu a alunos de Ética e Deontologia Médica da Faculdade de Medicina.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Por Outro Lado
- Tipologia: Extrato de Programa - Entrevista a José Saramago, Prémio Nobel da Literatura
- Autoria: Ana Sousa Dias
- Produção: RTP
- Ano: 2005