“O Delfim”, de José Cardoso Pires

Escrita no fim do salazarismo, em período de guerra colonial, esta obra retrata o universo da família Palma Bravo na Gafeira. Uma localidade provinciana, conservadora, características que poderiam ser atribuídas a parte da sociedade portuguesa de época.

Este foi o terceiro trabalho publicado por José Cardoso Pires, após “O Anjo Ancorado” e “O Hóspede de Job”. Considerado um dos melhores livros da literatura portuguesa do século vinte, “O Delfim” situa a ação na Gafeira, uma terra imaginária a centena e meia de quilómetros de Lisboa, onde ocorrem duas mortes misteriosas que suscitam a curiosidade a um escritor amigo da família Palma Basto.

Com uma escrita realista, o autor faz um retrato cáustico de uma sociedade em que é possível encontrar homens como o engenheiro Tomás Palma Bravo (o Infante), profundamente machista, racista, e incapaz de aceitar qualquer mudança. Estamos na década de sessenta, um período de grandes alterações em Portugal e de dúvidas sobre o futuro de um regime político que dava todos os sinais de podridão (Salazar deixaria o poder em Setembro deste ano, 1968).

O narrador, papel desempenhado pelo escritor que visita a Gafeira, é uma figura central de “O Delfim”, pois por ele passa não só a recolha da informação sobre os acontecimentos funestos ali ocorridos como a sua interpretação. Num período em que a censura intervém de forma ativa, Cardoso Pires não deixa de abordar temas tabu do Portugal da época, como a homossexualidade, a traição e o incesto.

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Ficha Técnica

  • Título: Grandes Livros - O Delfim
  • Tipologia: programa de televisão
  • Autoria: RTP
  • Produção: RTP