Portugal dos Pequenitos: a grande encenação do Estado Novo

A escala pode ser para brincar, porém a mensagem do parque infantil inaugurado em 1940 nada tem de inocente. Com minúcia e engenho encolheram-se casas regionais, edifícios emblemáticos nacionais e das antigas colónias ultramarinas para dar lições de história e geografia de um Portugal monumental e imperial. Mas as miniaturas de encantar representam também de forma exemplar as ideias que o salazarismo tinha e queria para o país. Eram instrumentos de propaganda em ponto pequeno. O arquiteto Nuno Távora chama-lhe conto de fadas. É com ele que visitamos esta obra do Estado Novo.

Desenho da entrada do Portugal dos Pequenitos

No princípio eram as casinhas tradicionais, com as suas hortas, pomares e jardins. Reproduções perfeitas de uma arquitetura que muitos defendiam ser tipicamente portuguesa, mas que não marcava a paisagem do Portugal profundo. O mundo rural encenado pelo Estado Novo no parque infantil de Coimbra, transformava pobreza em simplicidade e modéstia, transmitia a imagem de um país seguro e estável, promovia os valores da família e da pátria, da ideologia nacionalista. Uma fantasia mimosa destinada a crianças e a adultos idealizada por Bissaya Barreto e projetada pelo arquiteto Cassiano Branco.

Depois da ruralidade o recinto cresceu em monumentalidade. A seguir à inauguração em 1940, o trabalho de minúcia prolongou-se por mais duas décadas a replicar castelos, mosteiros, torres e pequenos pavilhões em representação das colónias ultramarinas. Um concentrado de miniaturas para contar a história maiúscula de Portugal. A lição do Estado Novo no “Portugal dos Pequenitos”, um dos parques temáticos mais antigos do mundo, perdeu-se no tempo. Cada vez mais tudo parece um museu neste lugar que continua a atrair turistas do país e do mundo.  

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Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada - Portugal dos Pequenitos, Coimbra
  • Tipologia: Excertos de Programa de Cultura Geral
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2015