Sebastião da Gama: o poeta da serra da Arrábida

Seguiu a cartilha dos afetos como uma pedagogia ou missão de vida. Nos poemas que escrevia, nas aulas de Português que dava, Sebastião da Gama aplicava em tudo sensibilidade, generosidade, amor. Apaixonado pela natureza, defendeu-a quando começou a ser destruída. E na mesma serra da Arrábida que amava, procurava versos como quem procura flores.

Havia uma urgência em ser e fazer, como se adivinhasse o fim. Na vida de Sebastião da Gama aconteceu tudo muito cedo e de forma intensa. Começou a fazer poesia ainda estudante, a todos cativava pela generosidade e simplicidade das palavras e dos gestos. Fez o estágio para professor de Português na escola Comercial Veiga Beirão, experiência letiva que narrou no seu “Diário”, publicado em 1958. Defendia uma relação de proximidade entre aluno e professor, dizia que “ensinar é amar”. O longo texto, uma reflexão pedagógica, marcou gerações e é tido como exemplo a seguir. 

Nascido em Vila Nogueira de Azeitão, Sebastião da Gama terá problemas de saúde que, por indicação médica, o levam ao ar puro da serra da Arrábida. Rodeado por todas as tonalidades de verde, com o mar ao fundo, escreve verdadeiros hinos à natureza e desenvolve uma consciência ambiental. A defesa do seu “paraíso” que começava a ser destruído pelo asfalto das estradas, inspira a fundação da Liga para a Proteção da Natureza, em 1948, a primeira associação ambientalista portuguesa. 

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O jovem autor, professor, ativista, vai morrer aos 27 anos. São muitos os livros que deixa; poemas, cartas e textos cuidadosamente preservados pela viúva, Joana Luísa da Gama, que dedica a vida inteira a resgatar a memória de Sebastião da Gama, o poeta do otimismo, das coisas vivas e belas. E dos sonhos.  

Pelo sonho é que vamos, 
comovidos e mudos. 
Chegamos? Não chegamos? 
Haja ou não haja frutos, , 
pelo sonho é que vamos. 
Basta a fé no que temos. 
Basta a esperança naquilo 
que talvez não teremos. 
Basta que a alma demos, 
com a mesma alegria, ao que desconhecemos 
e ao que é do dia-a-dia. 
Chegamos? Não chegamos? 
Partimos. Vamos. Somos. 

Pelo Sonho É Que Vamos, livro póstumo publicado em 1953

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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante
  • Tipologia: Extrato de Magazine Cultural - Reportagem
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2023