“Servidões”, de Herberto Helder

O livro final de Herberto Helder não é como os outros que o poeta escreveu. É um lugar com mais de oitenta anos de idade, itinerário de servidões em registo quase confessional. Entre o amor e a morte estão palavras subtis, cruas, fortes, luminosas, simbólicas, a ligar esta íntima autobiografia do poeta obscuro, avesso a qualquer exposição mediática. Perto do fim, o corpo velho renasce na poesia, matéria vital, clara e precisa, que reinventa com disciplina. Da obra fala o ensaísta Arnaldo Saraiva.

A morte aproxima-se, mas Herberto Helder continua a devorar o mundo com poesia forjada em palavras renovadas de sentidos e significados. Apresentam-se aos leitores, o poeta e o eu das memórias, juntos no livro crepuscular. A intenção biográfica vem anunciada na prosa inicial, longa e intimista, a convocar tempos de vida, a terminar assim, nesta passagem: “Compreendi então: cumprira-se aquilo que eu sempre desejara – uma vida subtil, unida e invisível que o fogo celular das imagens devorava. Era uma vida que absorvera o mundo e o abandonara depois, abandonara a sua realidade fragmentária. Era compacta e limpa. Gramatical”.

Com uma gramática que fez sua, servidão cumprida numa vida de Servidões, reencontramos a poesia a que nos habitou, depurada e luminosa: “sabe Deus quanto a beleza me custa e quanto o ganho é imponderável”, confessa nas páginas da obra publicada aos 82 anos. A idade aparece mas não transparece no fulgor dos poemas, “constante incitação ao assombro” para ler sempre devagar, defende Arnaldo Saraiva. Acrescenta ainda o ensaísta que toda a obra  herbertiana é um poema contínuo com influências bíblicas, românticas, surrealistas, esotéricas e exóticas. Uma voz original, até ao último verso.

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Ficha Técnica

  • Título: Ler +, ler melhor
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Autoria: Teresa Sampaio
  • Ano: 2013