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A bienal

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A primeira bienal, a Bienal de Veneza, é criada em 1895, fundando um modelo de apresentação da produção artística mais recente organizado por países. Exemplo que irá prevalecer até finais do século XX, apesar de programas expositivos que se baseavam já em propostas alternativas, casos da documenta 5 (1972) ou da terceira edição da Bienal de Havana (1989). Durante o século XXI, o número de bienais continuará a aumentar, crescimento que se relaciona também com a tentativa de promoção global de cidades ou países por via da sua atuação no campo cultural.

É na década de 1850 que se realizam duas exposições que se encontram na génese do modelo da primeira bienal a ser fundada, a Bienal de Veneza, partilhando um mesmo princípio de afirmação no concerto das nações oitocentista. Em 1851, em Inglaterra, tem lugar a Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações, realizada no Crystal Palace de Londres, propositadamente construído para o efeito.

Nesta mostra, que pretendia situar o avanço da indústria inglesa face aos restantes países, inaugura-se um modelo de representação nacional que assumirá foros de verdadeira disputa entre estados nas exposições mundiais que se lhe seguirão. Quatro anos mais tarde, em 1855, realiza-se em Paris a Exposição Universal, iniciativa que se situava no seguimento da exposição de Londres, ainda que com uma especificidade. A mostra alargava-se da produção industrial à agricultura e às artes, realizando-se assim a primeira grande mostra internacional dedicada às artes.

O Salão de Paris
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O Salão de Paris

Deste modo, a Bienal de Veneza nasce em 1895 na direta continuação deste modelo: uma apresentação dedicada à produção artística mais recente, organizada por países. Exemplo que irá prevalecer até meados do século XX, em que tanto a Bienal de Veneza, como outras entretanto fundadas, apenas amiúde o substituíram ou fizeram acompanhar por revisões temporalmente mais alargadas da produção artística.

Até finais do século XX há quatro momentos que ajudam a enquadrar as alterações ao modelo iniciado em Veneza.

Em 1951 é fundada a Bienal de São Paulo, iniciando um longo movimento que continuará até aos dias de hoje, em que a geografia da arte contemporânea e os seus locais de reconhecimento e consagração se alargam a outras zonas do globo. Fora, portanto, dos circuitos preferenciais já estabelecidos entre galerias, museus e outras bienais, usualmente circunscritos ao Ocidente. Mas se a bienal paulista prolongaria ainda o modelo veneziano, na edição de 1989 da Bienal de Havana, a terceira desde que havia sido criada em 1983, dá-se um conjunto de mudanças profundas. Elimina-se a atribuição de prémios e, ao abandonar-se a organização por país, apresentam-se não só obras de artistas a laborar fora dos habituais pontos nodais dos circuitos da arte, mas também de autores em atividade nesses mesmos centros que integravam a diáspora dos mais diversos pontos do globo. 

Esta alteração implicava o reequacionar de um modelo social, político, económico e cultural ocidental, em que a noção de progresso enquadrava uma competição entre nações, das quais resultava uma visão do mundo que fazia do ocidente a medida da vanguarda e o arquétipo para a modernização das suas periferias. Propunha-se assim desfazer uma relação de subalternidade implicada por uma versão da globalização definida por um movimento de expansão do centro, o Ocidente europeu e norte-americano, para as restantes geografias. O que era conseguido através do reconhecimento do papel fundamental que as diversas diásporas haviam assumido na redefinição social, cultural, económica e política desse mesmo centro.

O mercado da arte
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O mercado da arte

De certo modo, este longo movimento iniciado com a Bienal de São Paulo completa-se em 2002, ano em que o curador nigeriano Okwui Enwezor (1963-2019) é responsável pela documenta 11. Aí, Enwezor elabora sobre este princípio de anulação da distinção entre centro e periferia, precisamente numa das exposições internacionais que, desde a sua fundação, em 1955, havia sido fundamental para a história da arte do ocidente. 

Foi na documenta, mostra que se realiza de cinco em cinco anos em Kassel, na Alemanha, que em 1972 Harald Szeeman (1933-2005) vai fazer uma proposta de exposição que ajuda a enquadrar uma mutação de fundo no campo institucional da arte. Na documenta 5, Szeeman fugirá simultaneamente ao modelo veneziano e ao de Arnold Bode (1900-1977), que na primeira edição da documenta apostara numa revisão da arte do século XX. Aí proporia um tema que contextualizava toda a exposição e respetivos eventos ao longo de 100 dias, “Inquiry into reality – visual worlds today”.

Afirmando como nunca até esse momento a figura do curador como elemento central na atribuição de significados, a partir de enquadramentos teóricos que medeiam a produção artística e a sua apresentação e perceção pública. Este papel do curador se fortalecer-se-á ao longo das décadas seguintes nos mais diversos locais de exposição, permanecerá igualmente visível na bienalização do campo da arte que se registará daí em diante. Até aos dias de hoje, o número e a relevância das bienais ao redor do globo foi aumentando exponencialmente, crescimento que se relaciona também com a tentativa de promoção global de cidades ou países por via da sua atuação no campo cultural. 

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Síntese

  • A primeira bienal, a Bienal de Veneza, é criada em 1895, fundando um modelo de apresentação da produção artística mais recente organizado por países.
  • Até finais do século XX o modelo de Veneza irá prevalecer, apesar de programas expositivos que se baseavam já em propostas alternativas - casos da documenta 5 (1972) ou da Bienal de Havana (1989).
  • Entre finais do século XX e o século XXI, o número e a relevância das bienais nos diversos continentes continuará a aumentar exponencialmente.

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Ficha Técnica

  • Título: A bienal
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação de Professores de História/André Silveira
  • Ano: 2021
  • Imagem: Cartaz da Bienal de Veneza de 1895