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A guerra civil e a consolidação do poder Bolchevique na Rússia

A guerra civil e a consolidação do poder Bolchevique na Rússia

À “Revolução de Outubro” de 1917 seguiu-se uma guerra civil, que opôs os bolcheviques aos mencheviques, deixando a Rússia em ruínas. Lenine introduziu medidas socioeconómicas que ficaram conhecidas como “comunismo de guerra”, mas depressa teve de as reverter perante a insatisfação e oposição da população. O “comunismo de guerra” deu então lugar à Nova Política Económica.

A tomada do poder em outubro de 1917 não foi o fim da revolução. Os sovietes assumiram o poder perante o desmoronamento da antiga estrutura administrativa. As tendências autoritárias do Partido Bolchevique rapidamente se fizeram sentir e a violência e o terror generalizaram-se. Lenine, o seu líder, não tolerava qualquer oposição nem críticas, reivindicando o direito de mandar fechar jornais que lhe fossem hostis.

Foi igualmente criada uma força policial secreta, a Cheka. A oposição aos bolcheviques, que surgiu imediatamente em diversas regiões, conduziu o país a uma guerra civil que opôs o “Exército Vermelho” ao “Exército Branco”. Este último integrava diferentes correntes políticas, unidas apenas pela hostilidade aos bolcheviques.

A guerra civil contou com a intervenção dos Aliados, que apoiaram o “Exército Branco” (mencheviques), enviando tropas e armamentos. Num primeiro momento, esperavam que a vitória dos mencheviques mantivesse a Rússia na guerra contra a Alemanha e, depois do armistício, pretendiam destruir o governo bolchevique que apelava a uma revolução mundial.

 

O “Comunismo de Guerra”

Lenine adotou uma nova política de controlo da economia, que ficou conhecida como “comunismo de guerra”. A banca e grande parte da indústria foram nacionalizadas e incorporadas numa economia centralizada. Pôs fim ao comércio privado, impôs aos camponeses a requisição forçada de produtos agrícolas e procurou coletivizar a agricultura.

Algumas destas medidas foram essenciais para que os bolcheviques vencessem a guerra, mas tiveram consequências sociais e económicas desastrosas. Quando o conflito terminou, esta política era responsável por uma grave crise económica e social. A produção de carvão tinha diminuído drasticamente e a indústria estava paralisada. Os camponeses semeavam menos para não terem de entregar os excedentes e as quintas eram menos produtivas.

A fome generalizou-se e as revoltas eram controladas pela força, com milhares de camponeses a serem fuzilados ou presos. A nova Constituição russa, de 1918, concedia o direito de voto a todos os trabalhadores, independentemente do sexo e da nacionalidade, mas retirava-o às classes antes privilegiadas, isto é, às antigas autoridades czaristas, aos mencheviques, aos camponeses ricos (pejorativamente designados de kulaks), aos clérigos, e a outros grupos.

A perseguição aos “inimigos de classe” fizeram praticamente desaparecer a elite culta e instruída e milhares de russos tiveram de procurar refúgio noutros países. O problema foi agravado com o final da guerra civil e a desmobilização de milhões de soldados, agora desempregados, armados e com fome, que provocavam distúrbios por onde passavam.

Em 1921, uma vaga de greves na cidade de Petrogrado coincidiu com a revolta dos marinheiros da base naval de Kronstadt, que haviam apoiado os bolcheviques, mas que agora vinham para a rua denunciar os abusos e os métodos coercivos do novo regime. À vaga grevista, debelada de forma brutal, o governo respondeu com a imposição da lei marcial.

 

A introdução da Nova Política Económica (NEP)

Lenine teve de recuar em 1921, substituindo o “comunismo de guerra” por uma nova política, que ficaria conhecida como “NEP” (Nova Política Económica). As requisições cessaram e foram substituídas por um imposto em espécie.

O governo apostava agora na estabilização da moeda. O projeto de nacionalização foi suspenso, enquanto estrangeiros foram convidados a investir no país. Apenas a indústria pesada (ferro, aço e carvão) ficou sob controlo do Estado, tal como os transportes e a banca. Foi reintroduzido o comércio privado e as pequenas indústrias foram devolvidas aos seus antigos proprietários.

As escolas e os cuidados médicos, que antes tinham sido declarados gratuitos, passaram a ser pagos, enquanto o acesso a pensões de reforma, a subsídios de desemprego e doença passaram a basear-se num sistema de contribuições. O recuo que a NEP significou em relação à construção de uma sociedade comunista deixou muitos bolcheviques dececionados. Para Lenine, esta estratégia fora necessária perante a situação económica e era apenas uma fase de transição. No entanto, esta abertura não se refletiu no plano político. Todos os partidos políticos foram proibidos e as críticas eram duramente reprimidas.

Na sequência da Guerra Civil e da vitória dos bolcheviques, em 1922 foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que juntava 15 nações num novo Estado.

Síntese:

  • As tendências autoritárias do Partido Bolchevique rapidamente se fizeram sentir e a violência e o terror generalizaram-se.
  • A oposição aos bolcheviques, que surgiu imediatamente em diversas regiões, conduziu o país a uma guerra civil que opôs o “Exército Vermelho” ao “Exército Branco”.
  • Lenine adotou uma nova política de controlo da economia, que ficou conhecida como “comunismo de guerra”.
  • Lenine teve de recuar em 1921, substituindo o “comunismo de guerra” por uma nova política, que ficaria conhecida como “NEP” (Nova Política Económica).

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Descrever as principais etapas de implantação do regime comunista entre 1917 e 1924 (Guerra civil e Comunismo de Guerra, NEP, formação da URSS). Avaliar o impacto da Revolução Bolchevique na Europa Ocidental e no Mundo em geral.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/ Cláudia Ninhos
  • Ano: 2021
  • Imagem: Poster de propaganda Bolchevique 1925, fonte: https://dlib.rsl.ru/viewer/01009511702