As mudanças na produção e nas relações de trabalho
A Revolução Industrial alterou as formas de produção e as relações de trabalho. A manufatura deu lugar à maquinofatura. A fábrica substituiu a oficina. Os desenvolvimentos técnicos na indústria têxtil e metalúrgica aumentaram a capacidade produtiva e os trabalhadores começaram a ter outras funções e estatuto. No início do século XIX surgiu um movimento de protesto contra o novo modelo, o movimento ludista, que pré-anunciou a o sindicalismo.
A Revolução Industrial alterou profundamente as formas de produção e as relações de trabalho. As transformações foram rápidas e radicais. No Antigo Regime o mercantilismo tinha desenvolvido as manufaturas, os trabalhadores trabalhavam em pequenas oficinas com recursos rudimentares e produziam numa escala muito reduzida.
O trabalho do artesão era especializado, essencialmente manual, e a relação com o empregador, ou o mestre, era de proximidade, podendo mesmo viver em instalações cedidas pelo empregador. As profissões eram reguladas por estatutos próprios muito rígidos: corporações de ofícios. Através deles, estas instituições garantiam aos seus membros ajuda em momentos de dificuldades económicas, estabeleciam regras que evitavam a concorrência e asseguravam padrões de qualidade, preservando desta forma o prestígio das profissões.
Dentro desta lógica, os membros das corporações estavam distribuídos da seguinte forma: aprendizes, jovens que aprendiam o ofício com o mestre e recebiam moradia e comida dos seus mestres; após a aprendizagem podiam trabalhar para um mestre e receber salário, podendo mais tarde abrir a sua própria oficina; finalmente, os mestres donos das oficinas e dos equipamentos, geralmente pequenas unidades, que controlavam todo o processo produtivo.
A industrialização desfez este mundo, aparentemente imóvel, protecionista e previsível. A introdução da máquina exigia outras condições de trabalho e alterou a relação laboral. A unidade de produção passou a ser a fábrica, que substituiu a oficina. Surgiram grandes unidades produtivas que produziam em larga escala, o trabalho deixou de ser manual e passou a ser efetuado por uma máquina, controlada pelo homem que agora era operário e não artesão.
A relação entre mestre e aprendiz desapareceu por completo, o dono da fábrica, que investia, pretendia o lucro rápido, controlava os meios de produção e impunha as condições de trabalho, sem regulação. O mundo das corporações desapareceu.
De facto, a introdução das novidades tecnológicas nas indústrias de arranque, têxtil e metalúrgica, foi responsável por um grande crescimento económico e por alteração drástica da organização do trabalho. No campo do têxtil, a invenção da lançadeira mecânica para os teares, de John Kay, permitiu aumentar a largura dos tecidos e multiplicou por dez a produtividade. Com a sua difusão, o fio começou a escassear, pelo que era necessário apurar a técnica nesta área. Surgiu a máquina de fiar, a Jenny, que permitiu aumentar a capacidade de fiação. Esta dinâmica repercutiu-se na tecelagem, surgindo os teares mecânicos e as unidades de produção começaram a crescer em número de trabalhadores.
Na metalurgia, fornecedora de máquinas e de outros equipamentos, também se inovou e começou-se a usar o coque em vez de carvão vegetal aumentando as reservas de combustível. A par disto houve melhoramentos nos altos-fornos e nas fundições, aumentando a produção em larga escala.
Com o aparecimento da máquina, os operários sentiram as mudanças e começaram a organizar-se em Trade Clubs. Tentavam replicar aqui as corporações, nomeadamente a ajuda mútua em caso de necessidade. Estas organizações mantinham uma estrutura que era preciosa em tempos de dificuldades. O Estado reprimiu quem pertencesse a estes clubes. Em 1799 foram legisladas as Combination Acts, onde o governo determinava o degredo a quem pertencesse àquelas organizações.
Estas leis, em vez de reduzirem a participação dos operários, aumentaram a sua unidade e reforçaram os seus laços. Entre 1802 e 1817 houve um movimento de reação à maquinofatura, conhecido como o movimento ludista. Surgiram grupos de operários organizados que se diziam comandados pelo general Ludd, que teria o seu quartel general na floresta de Sherwood. A analogia com Robin Wood é evidente, significava a luta dos oprimidos. De início durante a noite e depois de dia destruíam as máquinas.
Era uma organização complexa, bem estruturada e atingiu vários condados ingleses. A destruição era planeada e não era aleatória, só eram destruídas as máquinas que concorressem com o seu trabalho. Algumas das suas reivindicações eram pertinentes e mostravam a consciência de uma nova realidade. Assim os ludistas exigiam: salário mínimo; controlo do trabalho infantil e feminino; arbitragem dos conflitos entre patrões e operários e o direito de associação. Os ludistas foram também os primeiros a lançar a ideia das 10 horas de trabalho e são os precursores do sindicalismo britânico, as Trade Unions.
Síntese:
- A Revolução Industrial alterou as relações laborais e as formas de produção.
- A manufatura deu lugar à maquinofatura e a produção em série aumentou a produção.
- Os antigos artífices revoltaram-se contra o novo modelo e iniciaram um movimento de contestação que ficou conhecido como Ludismo.
Temas
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Definir os conceitos de maquinofatura e de indústria, distinguindo-os das noções de artesanato, manufatura e indústria assalariada ao domicílio. Referir a importância da incorporação de avanços científicos e técnicos nas indústrias de arranque (têxtil e metalurgia). Reconhecer as “revoltas luditas” como primeira modalidade de reação a consequências negativas, para as classes populares, do processo de industrialização.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/ Nuno Pousinho
- Ano: 2021
- Imagem: Interior de fábrica por volta de 1900, Museum of New Zealand - PICRYL