Bacias Hidrográficas – Portugal
Num cenário global de crescente perda dos recursos hídricos, em resultado das alterações climáticas, é necessário racionalizar o seu uso e proceder ao seu tratamento para reutilização posterior. Neste contexto, importa conhecer os recursos essenciais à vida, em particular os limites político-jurídicos das áreas drenadas pelas diferentes redes hidrográficas, com o intuito de promover a sua gestão e preservação.
A bacia hidrográfica corresponde a uma área da superfície terrestre em que toda a água de escorrência é canalizada diretamente para o rio principal, ou de forma indireta através dos seus afluentes e subafluentes. Por outras palavras, cada rede hidrográfica (conjunto do rio principal e seus tributários) tem associada uma área de drenagem – bacia hidrográfica – a partir da qual é alimentado todo o seu caudal. No limite, teremos tantas bacias quantos os cursos de água pertencentes a uma rede hidrográfica o que significa que a bacia do rio principal irá incluir as sub-bacias de todos os seus tributários.
Normalmente, o limite de bacia hidrográfica corresponde ao interflúvio ou linha de cumeeira (pontos mais elevados em redor da bacia) que fazem a separação entre as águas que escoam para o seu interior e aquelas que escoam para o exterior em direção ao rio principal de outra rede hidrográfica contígua.
Em Portugal continental estão delimitadas dezanove bacias hidrográficas com áreas muito diferentes umas das outras em função da densidade e extensão da rede hidrográfica de drenagem de cada um dos territórios (Fig.1).
De entre as dezanove bacias hidrográficas, destacam-se as bacias luso-espanholas dos rios internacionais – Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana. A do rio Douro é a maior a nível de área ocupada, no entanto, quando analisada a parte da área correspondente a território nacional, a bacia do rio Tejo é a que ocupa a maior superfície.
Exclusivamente nacionais, as bacias do Mondego, Vouga, Cávado e Sado são as mais importantes, logo seguidas de outras de menor dimensão como as dos rios Ave, Arade e Mira. Entre as mais pequenas e menos densas, salientam-se as bacias de: rio Âncora e ribeiras costeiras; Leça e ribeiras costeiras; Lis e ribeiras costeiras; Neiva e ribeiras costeiras; Ribeiras do Oeste; Ribeiras do Alentejo e Ribeiras do Algarve.
O escoamento superficial das bacias hidrográficas são o reflexo, entre outros aspetos, do relevo e composição litológica conjugados com as condições climáticas específicas de cada um dos territórios ocupados pelas bacias. Hoje em dia, recorrendo a WebSIGs, é possível sobrepor e selecionar as camadas relativas a cada variável de modo a que a análise multifatorial e multiescalar permita explicar a variabilidade espacial do escoamento e consequente organização da rede hidrográfica.
Normalmente, um relevo com maior altitude e um clima mais húmido, associados a um substrato rochoso mais impermeável, traduzem-se, regra geral, em áreas de maior escoamento superficial (Fig.2A, 2B, 2C).
Em consequência, as redes hidrográficas da região norte são mais densas do que as do sul, onde a menor precipitação leva a uma redução do escoamento e consequente caudal dos rios. Considerando como exemplo as bacias hidrográficas do rio Ave e do rio Mira (Fig.3A, 3B), representando bacias da região norte e sul, respetivamente, e tomando como ponto de partida valores de área total muito aproximados (1388Km2 e 1575Km2), a bacia do rio Ave apresenta um número superior de afluentes relativamente ao número de afluentes da bacia do rio Mira, verificando-se, igualmente, maior escoamento no primeiro caso do que no segundo (Fig.4 e Fig.5).
Esta variabilidade espacial é também acompanhada por outra, a intra e interanual, na medida em que, no inverno, e em anos mais húmidos, a maior precipitação dá origem a maior escoamento, muitas vezes, com ocupação do leito de inundação. Pelo contrário, no verão, ou em anos mais secos, não extravasando o leito de estiagem pela redução do caudal, muitos rios tendem a evidenciar o seu regime francamente irregular.
Por sua vez, a intensidade e turbulência do escoamento está diretamente relacionado com o poder erosivo do leito e das margens, sendo os vales da região norte mais profundos e encaixados em termos de perfil transversal. Na região a sul do Tejo, os vales mais abertos testemunham o relevo mais plano e um clima mais quente e seco que agrava o caráter irregular do regime dos cursos de água.
A construção de barragens e o armazenamento da água em albufeiras (Fig.6) permite regularizar a disponibilidade dos recursos hídricos. No entanto, a gestão é bem mais complexa quando os limites político-administrativos não se compactuam com a livre circulação das águas entre várias jurisdições. Quer isto dizer que não importam os limites de regiões, de bacias hidrográficas ou quaisquer outros limites definidos juridicamente, quando, por um lado, problemas como a escassez de água ou poluição deste recurso não se encontram confinados a limites geográficos e, por outro, quando a gestão, utilização e preservação deste recurso não é da responsabilidade de um número restrito de cidadãos, mas sim de todos.
SÍNTESE
- A rede hidrográfica corresponde ao conjunto do rio principal e seus tributários; já o conceito de bacia hidrográfica remete para toda a área da superfície terrestre que é drenada por essa rede hidrográfica.
- Portugal continental está dividido em 19 bacias hidrográficas das quais se destacam as bacias luso-espanholas dos rios internacionais Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana. Exclusivamente nacionais, as bacias do Mondego, Vouga, Cávado e Sado são as bacias mais importantes, logo seguidas de outras de menor dimensão como as dos rios Ave, Arade e Mira.
- A norte do rio Tejo, o relevo mais montanhoso e o clima mais húmido propiciam maior escoamento superficial, sendo as redes hidrográficas mais densas e os vales mais profundos. Na região sul, pela diminuição da precipitação e planura do relevo, os cursos de água, com vales mais abertos, apresentam um escoamento consideravelmente inferior que se agrava no verão e em anos mais secos, tornando o regime irregular dos rios mais acentuado.
- A construção de barragens e acumulação de água nas respetivas albufeiras permite regularizar as disponibilidades, cedendo em épocas de abundância e reservando em épocas de escassez.
- A gestão, utilização e preservação dos recursos hídricos é transversal a todos os territórios que partilham esses recursos, pelo que as ações deverão ser concertadas entre todas as regiões/entidades independentemente dos limites administrativos.
Temas
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Meio Natural - Os recursos naturais e os recursos hídricos
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação de Professores de Geografia
- Ano: 2021
- Imagem: Estuário do Sado, Sanjorgepinho / Wikipédia