Como se constrói a notícia
O que é uma notícia?
Uma notícia é um facto que aconteceu recentemente. É algo que é novo. É algo extraordinário, fora do normal. O descarrilamento de um comboio é notícia; a chegada de um comboio sem incidentes não. Daí as pessoas acharem muitas vezes que os noticiários e os jornais só falam de desgraças.
Porque é que precisamos de notícias?
Se estivermos informados, tomamos melhores decisões. Isso aplica-se a tudo na nossa vida. Se não vires as notícias antes de sair para a escola, pode nesse dia haver uma greve dos transportes públicos e não teres como lá chegar. Se precisares de um telemóvel novo e não tiveres lido as notícias que diziam que o novo modelo tem uma série de bugs, corres o risco de fazer uma má compra. Se um banco é mal gerido e pode ir à falência, não vais querer ter lá o teu dinheiro. Se estivermos informados, também podemos ser solidários: se tiver havido uma zona do país que ardeu e deixou muita gente sem casa, podes querer ajudar. Estarmos informados ajuda-nos a agir de forma mais correta e a construirmos um mundo melhor.
O que determina se algo é notícia?
Vamos usar um palavrão: é a relevância da informação. Ou seja: se tem importância para as pessoas, para a sua vida. Se não, poderia ser apenas uma coscuvilhice.
Uma notícia é composta por factos. O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Porquê? são as seis perguntas a que uma notícia deve tentar responder.
Uma notícia é um texto escrito por um jornalista. Bem, mas porque é não pode ser escrito por qualquer outra pessoa desde que responda às seis perguntas, estarás tu a perguntar. É que os jornalistas têm um código deontológico ( https://jornalistas.eu/novo-codigo-deontologico/) que os obriga a cumprir uma série de regras, entre as quais verificar a informação. Uma notícia tem de estar correta, e esse é o trabalho dos jornalistas.
Outra regra que os jornalistas têm de cumprir é ouvir os dois lados de uma da história. Um exemplo: numa notícia sobre uma greve numa empresa, para explicar o porquê, o jornalista deve ouvir os donos da empresa e os trabalhadores. E isto porque o jornalista quer chegar o mais próximo possível da verdade.
Como sei, quando estou a ler um texto, se é ou não uma notícia?
Uma notícia é um texto informativo, que responde às seis perguntas de que falámos em cima. Por isso, uma notícia tem nomes, lugares, números, datas.
Uma notícia é baseada em factos. Se tiver opiniões, têm de estar atribuídas a alguém. Uma notícia não deve ter a opinião de quem escreve.
As notícias que lemos, vemos e ouvimos são escolhidas por quem?
Não é possível, claro, uma rádio, uma televisão ou um jornal noticiar tudo o que se passa em todo o mundo! Por isso, uma função muito importante dos jornalistas é escolherem as notícias que dão.
Já falámos do primeiro critério: relevância da informação. Uma notícia tem de ser interessante e importante.
Outro critério que os jornalistas usam é a proximidade: algo que se passa perto de nós é mais valorizado do que algo que se passa longe. Se houver um acidente numa autoestrada na Alemanha, isso não será noticiado em Portugal (a não ser que haja portugueses mortos ou feridos, porque isso já nos aproxima do assunto), mas, se for na A1, entre Lisboa e o Porto, sê-lo-á com toda a certeza.
Quando ouvimos, lemos ou vemos as notícias, é muito importante ter presente isto: trata-se sempre de uma escolha. Daí ser fundamental ler, ver ou ouvir notícias em mais do que um meio. Da mesma forma que variamos os alimentos que comemos, é bom variarmos os locais onde vamos buscar informação – mas todos têm de ser credíveis, da mesma forma que os alimentos têm de ser saudáveis. E, sobretudo, não podemos estar informados apenas através daquilo que nos aparece nas redes sociais: essas notícias são escolhidas por um algoritmo. Se deixarmos que seja um algoritmo a decidir aquilo que sabemos, então não estamos informados e corremos o risco de sermos manipulados.
Como é que os jornalistas sabem as notícias?
As redações dos jornais recebem informação através das agências noticiosas. As agências noticiosas são empresas jornalísticas que distribuem informação a outros órgãos de comunicação social, e não diretamente ao público. A informação está a sempre chegar, através de computador (e hoje entra até diretamente nos sites informativos da maior parte dos jornais, rádios e televisões nacionais). Portugal tem uma agência noticiosa, a Lusa.
Além disso, os jornalistas também sabem as notícias através de contactos com as suas fontes de informação (políticos, polícias, juízes, bombeiros, médicos, especialistas, investigadores, etc.). Às vezes, são os próprios telespectadores/ouvintes/leitores que telefonam a dar uma notícia, que, de seguida, o jornalista vai verificar.
O que é uma notícia de última hora?
Algo que acabou de acontecer é habitualmente chamado de «notícia de última hora». Difunde-se a informação imediatamente (tendo apenas o título, por exemplo «tremor de terra em Itália»), sem se conhecer as respostas a outras perguntas (em que parte do país foi, que estragos causou, quanto tempo durou).
O que é uma notícia em primeira mão?
É uma informação que ainda ninguém deu. Os jornalistas chamam-lhe «cacha». Com a internet, é possível hoje dar uma notícia mal a informação chega. A concorrência entre órgãos de comunicação social, para ver quem dá uma notícia primeiro, pode fazer com que se transmita uma notícia sem estar completamente confirmada ou verificada. A pressa é inimiga do rigor.
Como se escreve uma notícia?
Uma notícia responde a seis perguntas: o quê, quem, quando, onde, como e porquê. A informação deve ser escrita de forma a que os factos mais importantes estejam no princípio e os menos importantes no final. A esta técnica chama-se pirâmide invertida. A parte em que se responde às cinco primeiras perguntas chama-se lead, e ao desenvolvimento da informação corpo da notícia. Além disso, uma notícia escrita deve também ter um título e pode ter um superlead (a frase a negro e com letras maiores, entre o título e o texto).
Temas
Ficha Técnica
- Título: Como se constrói a notícia
- Área Pedagógica: Ensino para os Media
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Cláudia Lobo - Associação Literacia Para os Media e Jornalismo (ALPMJ)
- Produção: RTP
- Ano: 2021
- Imagem: Foto de RODNAE Productions no Pexels