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Ser cidadão no século XXI

Participação nas comunidades virtuais: onde e como os jovens discutem ideias

Participação nas comunidades virtuais: onde e como os jovens discutem ideias

As formas de participação social estão a mudar. Até há uns anos, discutíamos os assuntos que diziam respeito à vida social, cultural e política da nossa comunidade ou das comunidades em que estávamos inseridos, nas escolas, nas assembleias – de freguesia ou municipais – nos nossos grupos religiosos, nos grupos de jovens, nos convívios sociais… até que o avanço das novas tecnologias trouxe a internet e o seu, embora gradual, rápido desenvolvimento. Com a Internet começámos a partilhar a nossa opinião em sites, blogues e redes sociais, deixando, muitas vezes, de o fazer com o vizinho do lado ou com o amigo que fazia connosco o caminho entre a escola e a nossa casa… Com a internet, passámos a criar comunidades virtuais: ou seja, partilhamos agora a nossa opinião, não com aqueles que nos estão mais próximos fisicamente, mas sim com aqueles com quem nos identificamos mais a nível de interesses e de sentimentos perante determinada coisa. Juntamo-nos, muitas vezes, com pessoas que estão a largos milhares de quilómetros porque temos afinidades comuns, experiências semelhantes ou culturas idênticas. 

Isto tem um lado bom e um lado mau… ou menos bom. Primeiro, há que lembrar que a nossa opinião ou ponto de vista vai ficar na internet para sempre e que qualquer pessoa pode lê-lo ou vê-lo muitos anos mais tarde. Isto não significa que não devamos dar a minha opinião, muito pelo contrário… devemos é ter cuidado com a forma como vamos dizê-lo, para que isso não se revele negativo para nós uns tempos mais tarde… 

Talvez o lado melhor deste avanço tecnológico seja o facto de que, mais facilmente, podemos participar nos assuntos que dizem respeito à nossa vida social, fazendo assim crescer a nossa cultura democrática. Não faltam sítios na Internet onde possamos expressar livremente a nossa opinião sobre determinado assunto. São a nova Ágora. A palavra pode parecer estranha, mas remete-nos para a Grécia Antiga e para o local onde se discutiam os assuntos que diziam respeito à Polis, ou seja, à cidade… e à vida de todos aqueles que nela viviam… 

As redes sociais são, quase sempre, nos dias de hoje, a nossa Ágora. E aqui, há um enorme alerta a ter em conta: qualquer pessoa pode criar informação e qualquer pessoa pode lê-la. Até há mais ou menos duas décadas, mais coisa menos coisa, eram os media, os meios de comunicação social, que criavam as verdades e nos davam a informação fidedigna. Agora, até os media estão remetidos para um segundo plano quando comparados com as redes sociais. Mas, a verdade é que neste novo mundo encontramos de tudo: as verdades e as mentiras que surgem disfarçadas como se de algo verdadeiro se tratasse. E, este pode ser o maior desafio de ser cidadão no século XXI… o desafio de não se deixar levar pelas informações falsas e pela primeira coisa que lemos na Internet. Uma luta que se estende depois também a esta nova cultura democrática, que nos leva a dizer tudo o que pensamos e o que não pensamos na internet, mesmo coisas que, no antigamente, no cara-a-cara nos faltaria coragem para dizê-lo. 

Mas é inevitável: ser cidadão hoje em dia, no século XXI é fazer parte destas novas comunidades virtuais e ter uma espécie de vida de agente duplo: uma coisa é aquilo que somos na realidade, outra é a imagem que criamos de nós próprios na Internet e nas redes sociais. 

De certo modo, a cultura democrática pode até ficar um pouco comprometida. Aliás, volta a ser um pau de dois bicos. Se, por um lado, temos mais facilidade e formas de expressar a nossa opinião, por outro, como disse há pouco, na internet, as pessoas tendem a juntar-se em comunidades com pontos de vista comuns, afinidades e crenças semelhantes e isso enviesa a discussão séria dos assuntos. Por exemplo, é muito fácil eu expressar a minha opinião a favor de uma determinada causa ambiental se me juntar a um grupo de ativistas que defendem essa mesma coisa. E, na internet, estas associações, estas ligações são imediatas e inconscientes. Aliás, quando não o são, a nossa tendência é fugir automaticamente desses grupos. 

No meio disto tudo, convém sabermos analisar as informações que lemos e termos, sobretudo, espírito crítico, quando participamos neste tipo de discussões online. E é aqui que os media podem ter um papel muito importante. Para isso, é preciso que não se deixem levar pelo imediatismo e pela ditadura do que aquilo que vale é chegar primeiro, porque o mais importante é chegar bem e transmitir a informação de forma rigorosa, factual e isenta, para que todos nós, quando quiseremos fundamentar a nossa opinião e termos uma participação mais ativa, possamos recorrer aos media. 

Todos os cidadãos têm um papel essencial para a construção de uma sociedade mais democrática e melhor, onde todos estejam presentes, independentemente da raça, etnia, sexo, escolaridade, cultura, etc. A cidadania ativa deve ser para todos e feita com todos. E aqui os media podem ter um papel fundamental, sobretudo os do setor comunitário.  

Em Portugal, ainda não são reconhecidos por lei os media comunitários (rádios e televisões), que nascem nas comunidades para lhes dar voz, promover a boa governança local, criar espaços de discussão e debate, e alertar para eventuais discriminações ou outros problemas sociais. Por exemplo, as rádios-escolas são também rádios comunitárias e seguindo a filosofia destes meios de comunicação, todos devem ter acesso à sua programação, independentemente da idade, etnia, sexo, orientações políticas, etc. Todos são bem-vindos a participar ou a realizar o seu próprio programa, não havendo qualquer tipo de filtro, quer ao nível dos conteúdos e das temáticas abordadas, quer ao nível técnico, uma vez que essa formação é recebida de forma contínua e voluntária. 

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Ficha Técnica

  • Título: Ser cidadão no século XXI - Participação nas comunidades virtuais: onde e como os jovens discutem ideias
  • Área Pedagógica: Ensino para os Media
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Miguel Midões - Associação Literacia Para os Media e Jornalismo (ALPMJ)
  • Produção: RTP
  • Ano: 2021
  • Imagem: Foto de Anete Lusina no Pexels