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O extremismo islâmico torna-se global

O extremismo islâmico torna-se global

O terrorismo global associado ao integrismo islâmico caracteriza-se pela execução de atentados contra a população civil, em qualquer local do mundo, para tentar criar uma ordem mundial sujeita à Sharia e contra a hegemonia americana. Curiosamente foi a intervenção dos EUA no Iraque que espoletou o recrudescimento do terrorismo, difícil de anular, mesmo com medidas tomadas a nível internacional.

O terrorismo global serve os interesses do integrismo islâmico que, a partir de uma interpretação radical dos princípios do Corão, defende a obediência total dos fiéis e a aplicação da Sharia (a lei islâmica) às práticas sociais, políticas, ideológicas e culturais, tentando criar uma nova ordem mundial. Por isso, se tornou uma ameaça à segurança internacional, sobretudo a partir do fim da guerra fria, quando os EUA se sentiram livres para intervir em conflitos onde quer que os seus interesses fossem postos em causa.

A 1ª guerra do Golfo liderada pelos EUA, em 1991, contra o Iraque (seu anterior aliado na luta contra o Irão), pareceu reforçar a sua presença no mundo árabe, assumindo o presidente Bush uma «nova ordem mundial» assente na democracia e direitos humanos. No entanto, a ingerência dos EUA na zona, nomeadamente o apoio a Israel, fez recrudescer o terrorismo subordinado ao integrismo islâmico, tendo Ossama bin Laden criado o grupo terrorista Al-Qaeda, com base na formação de guerrilha, que recebera da CIA, para lutar contra a URSS no Afeganistão. Esse grupo lançava ataques, sobretudo contra os interesses americanos e em defesa do Islão, em qualquer ponto do mundo semeando o terror entre a população civil ou certos indivíduos em particular.

Retrato do terrorismo na Europa
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Em 1994 as práticas terroristas foram condenadas como crimes contra a humanidade, pela ONU, não se lhes reconhecendo qualquer fundamento legítimo. A Declaração de Medidas para Eliminar o Terrorismo Internacional serviu de suporte a ações de combate ao terrorismo, tendo a ONU criado o Comité Antiterrorismo após o 11 de setembro de 2001, que chamou a atenção para o perigo do uso de armas de destruição maciça (químicas, biológicas e nucleares) por grupos terroristas.

O 11 de setembro foi um ataque da Al-Qaeda contra o centro económico-financeiro (o World Trade Center nas Torres Gémeas em Nova Iorque) e o centro militar (o Pentágono em Washington) dos EUA, justificado por bin Laden como uma resposta à humilhação e degradação imposta ao mundo muçulmano pelo Ocidente. A «guerra contra o terror» foi a resposta americana, tendo o presidente republicano Bush (filho) ordenado logo em outubro de 2001 o ataque ao Afeganistão para capturar bin-Laden e, apesar de não o ter conseguido, implantou uma democracia após a destituição do governo dos Taliban (grupo terrorista sunita criado por Mullah Mohammed Omar em 1994 em operação no Afeganistão e Paquistão).

Em 2003, a coberto da luta contra o terrorismo e à revelia da ONU, os EUA iniciaram a 2ª Guerra do Golfo com o pretexto de que Sadam Hussein, o presidente do Iraque, teria ligações à Al-Qaeda e um vasto arsenal de armas de destruição maciça que poderia fornecer a esse grupo terrorista. Bush (filho) argumentava que era preferível derrotar os terroristas no Iraque que enfrentar novos ataques nos EUA. A morte de Hussein e a inexistência do dito arsenal provocou o descrédito internacional dos EUA e alterou o equilíbrio de forças religiosas no mundo árabe, dando maior protagonismo ao Irão (de maioria chiita e seguidor da Sharia), surgindo nessa altura o autoproclamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (o EIIL ou DAESH, que veio a crescer exponencialmente com a guerra na Síria).

“Al-Qaeda” em português
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Os atentados terroristas continuaram a suceder-se pondo em causa a segurança de civis, em locais como uma sede da ONU (Bagdad, 2003), transportes públicos (Madrid,2004; Londres, 2005; Moscovo, 2010), centros comerciais (Bali 2005), hotéis (Jacarta, 2009).

A morte de bin Laden em 2 de maio de 2011, no Paquistão, não pôs fim ao terrorismo, tendo-se assistido ao uso das redes sociais por alguns grupos terroristas para recrutar novos elementos.

A violência dos ataques de 2015, em Garissa e Paris, levou a que os EUA, com Barack Obama na presidência, e a UE apostassem no reforço da cooperação internacional na área do contraterrorismo, participando alguns estados na guerra contra o DAESH. Ainda assim os ataques terroristas continuam a suceder em vários pontos do globo.

Síntese:

  • O integrismo islâmico defende uma interpretação radical dos princípios do Corão e a aplicação da Sharia a nível mundial.
  • O integrismo islâmico usa práticas terroristas para espalhar o pânico entre a população civil e pôr em causa a hegemonia americana.
  • Os EUA, inadvertidamente, provocaram o recrudescimento do terrorismo religioso: no rescaldo da 1ª Guerra do Golfo surgiu a AL-Qaeda e da 2ª Guerra o DAESH.
  • A ONU tem vindo a tomar medidas para concertar uma ação internacional contra o terrorismo global.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Apontar as características específicas do terrorismo global associado ao integrismo islâmico.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/ Mariana Lagarto
  • Ano: 2021
  • Imagem: Propaganda do Estado Islâmico (DAESH/ ISIS)