A escrita e o alargamento das fontes para os historiadores
O aparecimento da escrita delimitou cronologicamente a História da Humanidade num antes - Pré-História -, e num depois - História. Num contexto de periodização clássico, o aparecimento da escrita foi um dos marcos mais importantes no estádio de desenvolvimento civilizacional. O aparecimento da escrita alargou consideravelmente as fontes disponíveis para a compreensão do passado, perpetuando as mensagens de civilizações há muito desaparecidas.
O Neolítico implicou alterações sociais, económicas políticas e culturais profundas, que alteraram definitivamente o modo de vida das populações das regiões da Suméria, do Egito, do Vale do Indo e da China. Em diferentes períodos e fases de desenvolvimento civilizacionais distintas, assistiu-se, por volta do 4.º e 3.º milénio a. C., ao que designamos por revolução urbana. O crescimento dos aldeamentos levou ao aparecimento das primeiras cidades.
Foram necessários sistemas de organização e administração distintos resultando em alterações no modo de comunicar e de registar. De acordo com os historiadores, o conhecimento e a manutenção detalhada de registos, elementos que implicaram diretamente a invenção da escrita, estão associados à agricultura e à pastorícia, pela necessidade de registar os excedentes agrícolas e as cabeças de gado.
O aparecimento de templos, palácios, mercados implicaram inúmeras atividades e funções que tinham de ser regulamentadas, geridas e contabilizadas. Nestas comunidades alargadas, a necessidade de administrar os palácios e templos exigiu o aparecimento das primeiras formas de escrita e do cálculo. Regulamentavam-se os direitos, os deveres, repartiam-se os trabalhos e indicavam-se os impostos a cobrar, quem defende, quais as oferendas a dar ao templo, qual o imposto a pagar (em cabeças de gado, quantidade de cereais, ou outros).
Terá sido através de sinais que o registo se realizou, indicando o produto recebido ou armazenado, e os excedentes contabilizados. Por volta do quarto milénio, na Suméria, as autoridades começaram por usar símbolos padrão – substituindo um pictograma associado ao animal ou cereal, para representar os produtos e mercadorias, em tábuas de argila (barro), de madeira, ou osso e marfim, utilizando um estilete com uma palheta pontiaguda, cortada em forma de cunha.
O nome desta escrita, cuneiforme, está associado aos sinais em forma de cunha que, deriva do latim “cuneus” que significa cunha. As primeiras utilizações de sinais de escrita serviram para registar questões práticas e imediatas, como contas comerciais, contratos, inscrições em túmulos e mensagens.
Praticamente ao mesmo tempo surgiu no Egito outra forma de escrita, que vulgarmente designamos de escrita hieroglífica. Para além da sua utilização prática desempenhou uma função decorativa nas paredes dos túmulos, palácios e templos. Evoluiu para uma escrita hierática e, posteriormente, escrita demótica, simplificando-se e tornando-se mais acessível de utilizar.
O acesso à escrita não se destinava a toda a população. Surgiu um novo grupo social privilegiado, os escribas. Dominavam a escrita e tinham conhecimento do cálculo. Mediam os campos, calculavam impostos, redigiam leis, recrutavam e armavam soldados, vigiavam as obras públicas e mantinham o registo dos tesouros reais e dos templos.
Outro povo, os fenícios, de origem semita, habitavam na costa oriental do Mediterrâneo, correspondendo ao que é hoje o Líbano. Há cerca de 3 mil anos a sua principal atividade, o comércio marítimo, levou-os a contactar com distintos povos e culturas. O registo das transações comerciais e a elaboração de contratos obrigou-os a encontrar um sistema de registo funcional simples e eficaz, fácil para quem o aprendia e usava.
Substituindo a escrita silábica egípcia, abandonaram os pictogramas e ideogramas, convencionando 22 sinais fonéticos, com os quais se podia construir uma variável de palavras extensíssima. Surgiu assim o alfabeto fenício, uma escrita fonética, composta por 22 consoantes, cada uma correspondendo a um som.
O aparecimento do alfabeto foi um dos grandes progressos no sistema de escrita. As ideias não são representadas por desenhos ou sinais. Os sinais (ou letras) representam, na prática, um som da língua que se fala. Este alfabeto foi adaptado e divulgado pelos gregos que acrescentaram novas letras e transformaram algumas consoantes fenícias em vogais. Posteriormente os romanos adaptaram este alfabeto que chegou aos nossos dias.
Os suportes de escrita eram fundamentais para conservar o que se desenhava ou escrevia. Para eternizar as mensagens, os povos tentaram encontrar suportes de escrita duráveis, tanto de origem mineral, vegetal ou animal. No primeiro grupo encontramos produtos como argila, granito, mármore, basalto, cobre, estanho, bronze, prata, ouro. No segundo materiais como o papel, o papiro ou a madeira e no último osso, marfim e pergaminho, entre outros.
As técnicas de registo e de redação foram fundamentais para a administração, governo e desenvolvimento das atividades económicas das civilizações. Na atualidade, revelaram-se cruciais para o conhecimento e compreensão do passado.
Síntese
- Pensa-se que o sistema de escrita surgiu associado à prática da agricultura e da pastorícia.
- As técnicas de registo e de redação revelaram-se cruciais para o conhecimento e compreensão do passado.
- A utilização do alfabeto facilitou o acesso à escrita e a sua utilização.
Ficha Técnica
- Título: Mostrar a importância do papel da escrita enquanto marco de periodização clássica (passagem da “Pré-História” à “História”) e no alargamento do tipo de fontes disponíveis para os historiadores.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação de Professores de História/ Marta Torres
- Produção: RTP/ Associação de Professores de História
- Ano: 2021
- Imagem: Placa com escrita fenícia. Autor desconhecido