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Poesia Trovadoresca

Imagem de Poesia Trovadoresca

A poesia trovadoresca subdivide-se em três géneros: as cantigas de amigo, nas quais fala a donzela; as cantigas de amor, nas quais fala o trovador; as cantigas de escárnio e maldizer, poemas satíricos de crítica mais generalizada (escárnio) ou de crítica a alguém identificado (maldizer).

Resumo

Poesia Trovadoresca é uma designação que compreende a produção poética que teve lugar entre os finais do século XII e os meados do século XIV, na Península Ibérica. Encontra-se reunida em três coletâneas, o Cancioneiro da Vaticana, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Ajuda, que compilam cerca de 1680 composições poéticas escritas em galaico-português. Entre os poetas mais famosos, encontram-se o rei D. Dinis e Afonso X de Leão e Castela, seu avô materno.

No contexto da poesia trovadoresca é importante referir os agentes que se encontram diretamente ligados à sua produção e divulgação. A figura central é o trovador, figura de origem nobre (podendo até ser rei), que é o autor das composições poéticas. O jogral, outra figura fundamental, assumia o papel de divulgação dos poemas (de que, em alguns casos, também era autor), fazendo-se acompanhar de música. Ao contrário do trovador, o jogral agia com o intuito de ser pago pelos seus serviços. Com um papel semelhante ao jogral encontramos o segrel, que se distinguia daquele pela sua origem nobre (era considerado por alguns como um jogral de corte). Por fim, a jogralesa era uma mulher que acompanhava o trovador, cantando ou dançando.

A poesia que encontramos nos cancioneiros subdivide-se em três géneros: cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer.

Cantigas de amigo caracterizam-se por darem voz a uma figura feminina (embora o autor seja o trovador). Esta é uma donzela solteira, oriunda de um meio rural, que expressa os seus sentimentos amorosos pelo amigo (designação que recebe o namorado ou pretendente). Num espaço campesino, muitas vezes em local aberto, a voz feminina revela uma variedade de sentimentos relacionados com o amigo: da alegria causada pelo regresso próximo deste último, à tristeza pela sua partida; da ansiedade por ter oportunidade de ver e ser vista, à frustração pela descoberta de uma mentira do amigo. Deste universo, fazem ainda parte as confidentes (as amigas, a mãe ou até a natureza).

Cantigas de amor, a voz do “eu” poético é masculina. Estas associam-se a um ambiente de corte no qual o trovador faz o seu elogia cortês louvando as qualidades da mulher amada, a sua “senhor”, de acordo com o código do amor cortês, importado das cortes da Provença. Nestas composições há também lugar para a expressão do sofrimento amoroso, a coita de amor, provocada pelo desprezo a que o vota a senhor. O desgosto amoroso pode ser tão intenso que leva o poeta a desejar a própria morte. Este é um sentimento marcado pelo convencionalismo da descrição das qualidades da mulher, aspeto que indicia o artificialismo destas composições, no que se afastam claramente da maior espontaneidade das cantigas de amigo.

Cantigas de escárnio e maldizer incluem-se no género satírico e expressam uma crítica direta, com identificação da pessoa visada, no caso das de maldizer, ou um julgamento mais subtil que não identifica nenhuma figura em particular, no caso das de escárnio. Muitas são as áreas visadas pela ação censória ou maledicente destas cantigas: comportamentos quotidianos, defeitos conhecidos, opções políticas, relações amorosas e até a paródia do amor cortês.

Temática e texto

“Ai flores, ai flores do verde pino”, de D. Dinis

Esta cantiga de autoria de D. Dinis será uma das mais conhecidas da lírica trovadoresca. É reveladora da simplicidade e singeleza dos sentimentos que caracterizam as jovens apaixonadas que encontramos neste género de composições.

A cantiga estrutura-se em dois momentos, apresentando um diálogo entre a menina e as flores de pinheiro. Na primeira parte, aquela pergunta às flores de verde pino se sabem novidades do seu amigo, tomando a natureza como confidente dos seus sentimentos de dúvida e ansiedade causados pelo facto de o amado ter faltado ao encontro combinado. Na segunda parte, a natureza personificada responde à donzela, sossegando-a ao revelar-lhe que o seu amigo está vivo e de boa saúde e que estará com ela antes de o prazo combinado terminar.

“Como morreu quem nunca bem”, de Paio Soares de Taveirós

Cantiga de amor elaborada segundo o modelo provençal, que trata de forma retórica o tema da coita amorosa, associado a uma dama que se refere de forma impessoal.

Nesta cantiga, o trovador expressa a intensidade do sofrimento amoroso, que o leva gradualmente à morte. Esta morte é um dos estereótipos do amor cortês que está associado não correspondência amorosa da senhor, que, neste caso, ignorou o amor do trovador, preferindo casar com outro homem. Por esta razão, o “eu” poético sentiu-se enlouquecer e perdeu a capacidade de ser feliz.

“Ai dona fea, fostes-vos queixar”, de João Garcia de Guilhade

Cantiga de escárnio (ou seja, sátira que não revela o alvo da crítica) que constitui uma paródia ao louvor cortês da mulher. Ao contrário do que acontece nas cantigas de amor, nas quais o trovador descreve a perfeição física e moral da sua senhor, nesta composição, embora o poeta diga que vai louvar a mulher, a sua intenção é irónica, pois apenas lhe endereça críticas sarcásticas que a descrevem como feia, velha e louca.


Bibliografia Sumária

Poesia e Prosa Medievais. Seleção, introdução e notas por Maria Ema Tarracha Ferreira. Lisboa: Ulisseia, s.d.

Cantigas Medievais Galego-portuguesas, in https://cantigas.fcsh.unl.pt/index.as

Sumário

  • O amor singelo nas cantigas de amigo.
  • O amor estereotipado nas cantigas de amor.
  • Episódios do quotidiano nas cantigas de escárnio e maldizer.
  • Factos históricos nas cantigas de escárnio e maldizer.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Poesia Trovadoresca
  • Área Pedagógica: Português - Educação Literária
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Carla Marques/ Associação de Professores de Português (APP)
  • Ano: 2021