Protagonistas e obras do Renascimento europeu
O humanismo dos séculos XV e XVI define-se a partir do trabalho dos humanistas, cujo estudo de fontes da Antiguidade Clássica, como a estatuária, pintura, arquitectura ou textos e tratados de autores clássicos, ajudou ao desenvolvimento de novas ideias e técnicas em diversas áreas. As artes do Renascimento recorreram a modelos clássicos, procurando um sentido de harmonia e proporção entre os elementos que integram as suas obras, conferindo-lhes equilíbrio e unidade.
A ideia de um humanismo europeu dos séculos XV e XVI deve-se ao trabalho de um conjunto de homens que se dedicavam aos studia humanitatis, isto é, a campos do saber que caracterizavam o ser humano. A sua circulação pela Europa e o enorme conjunto de obras produzidas por estes humanistas explica a persistência do seu pensamento ao longo dos séculos. Entre estas obras podem incluir-se tratados sobre diversos temas, bem como poesia, pintura, escultura ou arquitetura.
De entre os humanistas pode destacar-se Nicolau Maquiavel (1469-1527), usualmente referido pela sua obra O Príncipe, publicada postumamente em 1532, onde expõe um modo de pensar a governação dos estados a partir de dados concretos e não de situações ideais. Aqui encontram-se bases não só do que será o estado moderno, mas também a relação com um pensamento tinha na observação, quantificação e categorização ferramentas fundamentais.
Outro autor importante foi Erasmo de Roterdão (1466-1536). Teólogo e filósofo, em o Elogio da Loucura, de 1509, defende uma vida cristã que deve encontrar a virtude na leitura direta dos ensinamentos de Cristo, no pensamento individual sobre estes e no autoconhecimento enquanto homem. Erasmo de Roterdão dedica o Elogio da Loucura a Tomás Moro (1478-1535), autor de Utopia, de 1516.
Neste livro, o inglês descreve a sociedade de um lugar por si imaginado, apelando por essa via à tolerância e à disciplina em nome de uma liberdade que se sustentava também na igualdade entre os homens.
No que diz respeito às ciências, destaca-se Nicolau Copérnico (1473-1543), que propõe em Da revolução das Esferas Celestes, publicado em 1543, a teoria heliocêntrica. Esta não era uma hipótese totalmente desconhecida, mas ao comprovar geometricamente a sua proposta, coloca a Terra sob um mesmo domínio científico do restante universo.
Ainda neste campo, importa salientar o trabalho de Pedro Nunes (1502-1578), autor de diversos trabalhos que tiveram uma influência decisiva na matemática, mas também na cartografia. Entre estes, O Tratado da Esfera, de 1537, avança a noção de loxódromo, resolvendo o problema da projeção de uma linha recta sobre uma superfície curva, o que terá consequências na cartografia e na navegação em longas distâncias.
Por fim, na área da botânica e da medicina, deve referir-se o trabalho de Garcia de Orta (1501-1568), Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, publicado em 1563, em que o português descreve plantas medicinais indianas, destacando as suas origens e capacidades terapêuticas.
Entre os humanistas contavam-se também artistas como Leonardo da Vinci (1452-1519), nomeadamente no que concerne a estudos de botânica, matemática, geometria ou anatomia. Ou Filippo Bruneleschi (1377-1446), ao desenvolver a perspetiva matemática por volta de 1416, e Donato Bramante (1444-1514), que recupera o sentido de unidade entre as partes das ordens clássicas na arquitetura.
Tal como os restantes humanistas, os artistas do Renascimento trabalharam sobre fontes da Antiguidade Clássica, observando estatuária, pintura e arquitetura ou lendo textos e tratados de autores clássicos, definindo uma linguagem clássica da arquitetura e expandindo os géneros da pintura, que tratam agora temas como o retrato, a natureza-morta, as paisagens ou cenas de género.
Estes artistas entendiam que o seu trabalho era, antes de mais, intelectual. Neste contexto, surge a definição das três artes liberais – a pintura, a escultura e a arquitetura – unidas por um meio de estudo comum, o desenho. Para a afirmação das artes liberais foi igualmente decisivo o trabalho por encomenda ou o mecenato.
Tanto a pintura, como a escultura ou a arquitetura do Renascimento recorrem a modelos clássicos, procurando um sentido de harmonia e proporção entre os elementos que integram as suas obras, conferindo-lhes equilíbrio e unidade. Na pintura ou na escultura é possível identificar no tratamento do corpo humano, da fauna e da flora um naturalismo que demonstra uma preocupação de rigor quase científico. A organização racional dos elementos que compõem o quadro, pelo recurso à perspetiva matemática, ou a modelação dos volumes da figura humana ajudavam ao equilíbrio e naturalismo da representação.
Na arquitetura, a influência da Antiguidade Clássica é notória no recurso às ordens clássicas e aos seus elementos, recuperando-se igualmente o frontão, o arco de volta perfeita, a abóbada de berço ou a cúpula. Estes elementos arquitetónicos, cuja base era a de figuras geométricas regulares, como o triângulo, o círculo ou quadrado, ajudava a um sentido de harmonia e unidade, em que a horizontalidade dos edifícios e a simetria das fachadas era animada pelo jogo entre linhas e volumes.
Síntese
- O humanismo dos séculos XV e XVI define-se a partir do trabalho dos humanistas em diversas áreas.
- O estudo de fontes da Antiguidade Clássica ajudou ao desenvolvimento de novas ideias e técnicas.
- As artes do Renascimento recorreram a modelos clássicos conferindo-lhes equilíbrio e unidade.
Ficha Técnica
- Título: Identificar alguns dos principais representantes do humanismo europeu e as obras mais relevantes. Caraterizar a arte do Renascimento nas suas principais expressões (arquitetura, pintura e escultura).
- Autoria: dAssociação dos Professores de História/André Silveira
- Produção: RTP/ Associação dos Professores de História
- Ano: 2021
- Imagem: Estudo de proporções de uma cabeça, Leonardo Da Vinci.