Explicador Explicador

Vazios humanos – Desertos

Vazios humanos – Desertos

A tecnologia permite ultrapassar muitas barreiras físicas, mas nos grandes vazios humanos, as características naturais ainda se sobrepõem à capacidade do ser humano inverter o seu caráter repulsivo. Há lugares no planeta cuja adversidade extrema impede ou torna muito difícil a existência humana, pelo que, sem a intervenção do homem e, portanto, quase naturais, estas paisagens são das mais belas do mundo. Os desertos apresentam-se, no conjunto destes territórios, com características muito próprias e que importa salientar.

Os fatores repulsivos são características de ordem natural (fatores físicos) ou económico-social (decorrentes da forma como os povos se apropriam e transformam os espaços) que fazem de determinadas áreas do planeta lugares inóspitos para viver – os vazios humanos -, onde a densidade populacional é muito baixa ou mesmo nula.

De entre os fatores naturais mais determinantes, destacam-se o clima, o relevo, o tipo de solo e a vegetação, contudo, é de salientar que a influência de cada fator é relativa, pois para além do contributo per si, o mesmo é indissociável do conjunto dos restantes fatores que também exercem pressão naquele lugar e da forma como todos se inter-relacionam. Neste ponto, é difícil isolar um só fator como aquele que condiciona toda a paisagem observada.

No conjunto dos lugares mais repulsivos ao ser humano, são de realçar os desertos, as regiões montanhosas, as grandes florestas e as regiões polares.

Naturalmente, o ser humano é muito suscetível a extremos de temperatura, pelo que valores muito baixos ou muito altos, conjugados com níveis de humidade particularmente baixos, estão na base da existência de grandes vazios humanos, como os desertos quentes e frios (Fig.1).

Fig. 1 – Os grandes desertos do mundo. NASA EARTH OBSERVATORY

Os desertos quentes ocupam vastas áreas atravessadas pelos Trópicos de Câncer e Capricórnio, onde a perpendicularidade dos raios solares, conjugada com movimentos de subsidência do ar na célula de Hadley – altas pressões tropicais – originam, respetivamente, temperaturas elevadas e precipitações quase nulas (Fig.2).

Fig. 2 – A circulação geral da atmosfera na zona intertropical. APROFGEO

Por outro lado, a falta de água e de organismos vivos que suportem estas condições climáticas condicionam fortemente a fertilidade dos solos, na medida em que não permitem a alteração física e química do substrato rochoso e a inclusão de materiais orgânicos provenientes da decomposição de restos de animais e vegetais (húmus).

Em consequência, os solos muito pobres, arenosos ou rochosos comprometem o crescimento da vegetação, impedindo a prática agrícola, imprescindível à sobrevivência do ser humano e fator de implantação das primeiras civilizações. Servem de exemplo, o grande deserto do Saara, no norte de África, ou o grande deserto de Vitória, na Austrália (Fig. 3, 4).

Fig. 3A - Imagem satélite do deserto do Saara, no norte de África. NASA
Fig. 3B - Deserto do Saara (África). NATURFREUND_PICS / PIXABAY

Apesar da influência significativa da circulação geral da atmosfera, há lugares onde a dinâmica global é superada pela dinâmica local, nomeadamente quando junto de áreas costeiras se erguem relevos montanhosos com disposição concordante à linha de costa.

Nestas condições, as massas de ar húmidas do oceano, ao ascenderem por efeito da orografia, libertam a sua humidade – precipitação orográfica – transpondo o relevo já secas. A paisagem torna-se mais árida, formando-se desertos como o Atacama junto à cordilheira dos Andes ou o deserto de Gobi, na China, a seguir aos Himalaias (Fig.5).

Os desertos frios estão associados às regiões polares, onde os raios solares oblíquos e a massa atmosférica atravessada originam, na maior parte do ano, temperaturas médias mensais negativas, em virtude de invernos longos e luminosidade fraca.

As temperaturas baixas, conjugadas com valores baixos de precipitação por efeito das altas pressões polares de origem térmica, dão origem a que o ar seco e frio seja responsável por um solo constituído por terra e rochas permanentemente congelados – permafrost – levando a que o deserto da Antártida (Fig.6) e o deserto do Ártico sejam, por conseguinte, das regiões mais inóspitas do planeta.

Fig. 6 – Deserto polar (Ártico). PXHERE

Sendo o fator climático tão determinante na existência de desertos, é crucial avaliar o impacto das alterações climáticas de origem humana na sua evolução.

Com efeito, o aumento global da temperatura e a crescente escassez de água com o aumento dos períodos de seca, têm levado ao aumento da desertificação dos solos e consequente expansão dos desertos. O deserto do Saara, por exemplo, expande-se no inverno, à medida que a região semiárida do Sahel (a sul do Saara) recua e, no verão, regride, por altura da época de chuvas do Sahel. No entanto, e apesar desta oscilação temporal, estudos apontam para uma expansão global do deserto, desde 1920, em cerca de 10% dos sete milhões de quilómetros quadrados considerados climatologicamente como deserto, o que significa uma área equivalente a oito vezes a área de Portugal continental e ilhas (Fig.7).

Fig. 7 – Expansão do deserto do Saara. UNEP

Paralelamente, o aumento global da temperatura tem provocado o degelo dos glaciares e levado ao desaparecimento em larga escala do permafrost, de que decorre a libertação de grandes quantidades de gases com efeito de estufa (carbono e metano) para a atmosfera, agravando ainda mais os fenómenos de aquecimento e derretimento das calotes polares (Fig.8).

Fig. 8A- Degelo do Ártico (1990-1991). NASA

Fig. 8B- Degelo do Ártico (2020-2021). NASA

Vazios Humanos – Florestas e Montanhas
Explicador

Vazios Humanos – Florestas e Montanhas

Climas Mundiais
Explicador

Climas Mundiais

SÍNTESE

  • Os vazios humanos são lugares ou regiões mais vastas onde fatores desfavoráveis levam a que a densidade populacional seja muito baixa ou quase nula.
  • Os fatores naturais mais importantes são o clima, o relevo, o tipo de solo e a vegetação. Com caráter repulsivo, identificam-se os climas muito quentes ou muito frios, o relevo montanhoso de grande altitude, solos pouco desenvolvidos (arenosos ou rochosos) e uma elevada densidade de vegetação.
  • Os desertos combinam temperaturas, ora muito altas, ora muito baixas, com precipitação reduzida, comprometendo a fertilidade do solo.
  • As alterações climáticas têm sido responsáveis pela desertificação de muitos solos e consequente expansão dos desertos.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Meio Natural - Vazios humanos
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação de Professores de Geografia
  • Ano: 2021
  • Imagem: Vale de Zin, no deserto de Negev (Israel), David Shankbone / Wikipédia