Neorrealismo na arte portuguesa
Na pintura, na literatura, no cinema, o Neorrealismo é um agente provocador mas com sentido ético e humanitário. O movimento, oposto do idealismo, serve para denunciar e intervir, mostrar a realidade sem filtros. Chegou a Portugal no início dos anos 40.
O Neorrealismo começou a ganhar forma no período entre as duas grandes guerras mundiais. Na Europa e nas Américas, os artistas focam-se no homem comum, querem saber como vivem operários e camponeses, escrutinar as injustiças, analisar o modelo social vigente, sem lirismos ou idealismos. Na pintura o traço é rude, nalguns casos a tender para o modernismo; a literatura depurada, seca e descritiva, enquanto o registo cinematográfico se faz numa aproximação à objetividade da reportagem.
Em Portugal foram muitos os cultivadores deste movimento que afrontava o regime fascista e era amplamente divulgado em revistas específicas como a Seara Nova. Os murais mexicanos, as obras de Jorge Amado ou Manuel da Bandeira, o cinema italiano, chegaram para despertar a consciência do mundo à volta, abordando temas sociais intocáveis até então. “A ambição era de criar uma arte nova”, diz neste documentário Mário Dionísio, escritor e artista plástico, que recorda também a dificuldade dos artistas em expor os trabalhos, perseguidos muitos pela polícia da ditadura.
Um dos quadros mais simbólicos produzido nesse período pertence a Júlio Pomar, o “Almoço do Trolha”, pintura-manifesto que ilustra este artigo e que mostra uma família operária, duas figuras sombrias e cansadas, apenas no rosto do filho incide a luz da esperança, o futuro que os pobres, principalmente eles, queriam que fosse melhor.
Da mesma perseguição da PIDE foram vítimas autores de romances, entendidos como demasiado realistas pela censura: alguns foram presos e as obras proibidas. Os primeiros romancistas a ensaiarem as letras na análise social foram Alves Redol com “Gaibéus” (autor que estava na lista negra da polícia do estado), e Ferreira de Castro com “Emigrantes e “A Selva”. Na época, houve escritores que fizeram experiências na sétima arte, um contributo sublinhado por José Matos Cruz, crítico de cinema, no trabalho produzido pela RTP, em 1983.
Ficha Técnica
- Título: Portugal Contemporâneo - A Arte Possível
- Tipologia: Extrato de Documentário Cultural
- Produção: RTP
- Ano: 1983