A revolução do sistema de transportes
O caminho de ferro iniciou o ciclo do grande progresso dos transportes. A Inglaterra foi, mais uma vez, a pioneira neste capítulo com o desenvolvimento da indústria metalúrgica e siderúrgica. As linhas férreas expandiram-se a toda a Europa e aos outros continentes. As novas tecnologias adaptaram-se também à navegação. A revolução dos transportes acelerou as trocas e estimulou o crescimento dos mercados nacionais.
A industrialização permitiu um rápido crescimento dos meios de comunicação. Em meados do século XIX essa realidade era já percetível e bem visível na maior rapidez de circulação devido ao uso da máquina a vapor, não só nos caminhos-de-ferro como também nos barcos.
O comboio tornou-se o mais importante meio de transporte da centúria de oitocentos. O desenvolvimento da locomotiva de George Stephenson, por volta de 1815, permitiu a construção da primeira linha férrea, entre 1826 e 1830, entre Liverpool e Manchester. Rapidamente este meio de transporte se divulgou por toda a Europa e também nos Estados Unidos, contribuindo para acelerar a industrialização e o crescimento económico.
Com este novo meio de transporte muito beneficiou a indústria metalúrgica e siderúrgica, pois o aço permitiu aumentar a resistência dos carris, a capacidade dos vagões e acelerou a construção de pontes e túneis que levavam o caminho de ferro através de vales e montanhas. As mercadorias percorriam distâncias consideráveis aproximando os mercados e aumentando o consumo. As redes ferroviárias atingiram dimensões consideráveis num curto espaço de tempo.
Naturalmente, os ingleses iniciaram este processo e até 1870 tinham a maior quilometragem de linhas férreas, 24.500 quilómetros. Numa fase inicial a linhas de caminho de ferro construíram-se mais intensamente na Europa ocidental: Inglaterra, França, Alemanha e Bélgica. Só depois de 1850 se expandiu para a Europa de leste e mediterrânica e no último terço do século XIX já estava em todos os continentes, constituindo o meio por excelência para o rápido transporte de mercadorias e de passageiros.
A Inglaterra é claramente a grande potência industrial do século XIX, foi a pioneira em todas estas inovações. A sua indústria era fortemente mecanizada, tinha uma grande produção têxtil e bens de equipamentos que eram rapidamente transportados para o mercado nacional e escoados até aos portos através da rede de canais e, a partir de meados de século XIX, pela densa rede de caminhos de ferro.
A acumulação de capitais aumentou o seu poderio económico, com os empresários ingleses a investirem em todo o mundo. Para além dos investimentos ingleses, não nos podemos esquecer da vasta experiência técnica adquirida que foi exportada para o continente europeu, nomeadamente na construção de linhas férreas. Em 1851 realizou-se em Londres uma exposição universal no Palácio de Cristal, onde a Inglaterra mostrou a sua grande superioridade no domínio da tecnologia industrial.
O caminho de ferro teve um grande impacto na economia: os preços dos fretes baixaram; aumentaram os contactos e as trocas comerciais, económicas e culturais; promoveu a abertura das economias e o alargamento da concorrência; uma rápida colonização da América; a criação de novas profissões e maior mobilização de mão de obra. Por toda a Europa se investiu em caminhos de ferro tendo sido criadas várias companhias ligadas a este setor com investimentos avultados em vários países.
Outro setor que se desenvolveu fortemente foi a navegação. A partir de 1830 começou-se a generalizar o uso da hélice com o barco a vapor que permitiu uma maior rapidez no transporte de mercadorias e de pessoas. Progressivamente os veleiros foram sendo substituídos. A partir de 1860 a tonelagem dos barcos aumentou o que permitiu aumentar o número de passageiros a bordo, sobretudo de emigrantes com destino ao novo mundo. Em 1869 foi aberto o canal do Suez o que permitiu a ligação entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho. A Ásia e a Europa ficaram mais próximas.
Com o rápido desenvolvimento dos transportes, ao longo do século XIX, o comércio mundial cresceu desmesuradamente. O mundo começou a unificar a sua economia, todas as regiões se interligavam e os produtos circulavam por todo o mundo, desde o chá da China ao café das plantações africanas ou americanas, às ovelhas da Austrália, passando pelo ouro da Califórnia, tudo se transacionava percorrendo distâncias antes impensáveis.
Perante este cenário, os países mais industrializados cada vez mais dependiam da circulação de matérias primas, de alimentos e da colocação dos seus produtos nos vários mercados à escala mundial. Desta forma, o desenvolvimento do mercado internacional, verificado ao longo do século XIX, exigiu novas práticas económicas que favoreceram o dinamismo das trocas comerciais, que sem a revolução nos transportes teria sido impossível de alcançar.
Síntese:
- A industrialização estimulou a revolução dos transportes que por sua vez promoveu a metalurgia e a siderurgia.
- A maior capacidade de circulação de pessoas e bens acelerou a produção e o crescimento dos mercados nacionais.
- A Inglaterra dominou este processo, construindo canais, estradas e caminhos-de-ferro ao mesmo tempo que desenvolveu o comércio mundial.
Temas
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Identificar as principais características da segunda fase da industrialização (“Idade do caminho-de-ferro”), salientando a hegemonia inglesa e o crucial desenvolvimento dos transportes. Relacionar a revolução dos transportes (terrestres e marítimos) com o crescimento dos mercados nacionais e a aceleração das trocas.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/Nuno Pousinho
- Ano: 2021
- Imagem: Locomotiva a vapor "Borussia" 1858, Digital museum/ PICRYL