O período entre as guerras
A guerra civil de Espanha
Em julho de 1936 teve início um golpe militar contra o governo republicano, legitimamente eleito. Eclodiu primeiro em Marrocos e estendeu-se depois às guarnições militares de toda a Espanha, conduzindo a uma guerra civil que durou três anos. Esta guerra foi uma manifestação do intenso confronto ideológico que marcou a década de 1930 e que opôs o fascismo, o comunismo e a democracia liberal.
A Espanha enfrentou um conflito que opôs, durante três anos, dois grupos armados opostos que lutaram pelo controlo do Estado.
De um lado, o bloco dos republicanos, designados de “vermelhos” ou “comunistas” pelos inimigos. Era constituído pelas forças políticas de esquerda, que defendiam o governo da Segunda República.
No campo político oposto estavam os insurgentes, os “fascistas”, segundo os seus inimigos. Eram militares que se tinham sublevado contra o governo republicano e que contavam com o apoio dos grupos de direita contrarrevolucionários e antirrepublicanos. O conflito dividiu o país e dividiu as famílias entre os que apoiavam os rebeldes e os que se mantinham fiéis ao governo republicano. O uso da violência extrema foi generalizado.
O conflito internacionaliza-se
Esta foi também uma guerra internacional, que teve uma enorme projeção no estrangeiro. Foi um episódio determinante da crise europeia da década de 30, no qual interferiram vários países estrangeiros, que procuravam influenciar o seu desfecho. A intervenção estrangeira no conflito foi determinante para o resultado final, fazendo a balança pender para o lado dos insurgentes.
O ditador português acreditava que o futuro do regime também estava em jogo e que o desfecho do conflito no país vizinho poderia pôr em causa a sobrevivência do Estado Novo
A Alemanha nazi e a Itália fascista apoiaram a facção do general Francisco Franco, fornecendo aviões para transportarem militares de Marrocos e das Canárias para Espanha. A Alemanha enviou ainda armamento e uma divisão especial, a Legião Condor, que testou o seu mais moderno armamento durante a guerra. A própria Itália enviou cerca de 40 mil homens. Foram experimentadas táticas militares, que seriam depois utilizadas entre 1939 e 1945. O conflito permitiu ainda a aproximação entre a Itália e a Alemanha.
A Grã-Bretanha e a França optaram pela não intervenção, uma posição que decorria da política de apaziguamento de ambos os países face ao expansionismo alemão na Europa.
Deixaram assim os republicados privados de uma importante fonte de financiamento e de material de guerra. Os republicanos contaram com o apoio militar e diplomático da União Soviética e do México, mas este não foi suficiente para ultrapassar o desequilíbrio de forças. Mais de 30 mil voluntários estrangeiros foram para Espanha lutar ao lado dos republicanos. Organizados em Brigadas Internacionais, pelo Comintern, sacrificaram as suas próprias vidas para salvar a República.
Uma guerra civil marcada pela violência
A internacionalização do conflito, com as grandes potências a intervirem e a apoiarem uma das fações, contribuiu para que a Guerra Civil de Espanha se tornasse numa espécie de antecâmara da Segunda Guerra Mundial. A guerra ficou marcada pelo uso generalizado da violência pelos dois campos em confronto.
Várias cidades foram alvo de bombardeamentos. Em Guernica, em abril de 1937, cerca de 30 aviões alemães bombardearam a cidade e o pintor Pablo Picasso imortalizou este episódio histórico no seu famoso quadro “Guernica”, exposto pela primeira vez na Exposição Mundial de Paris de 1937.
Paulatinamente, os nacionalistas conseguiram conquistar as várias regiões de Espanha e derrotar os republicanos, levando a cabo execuções sumárias das populações. As forças de Franco terão sido responsáveis pela morte de 200 mil pessoas. Milhares foram enterrados em valas comuns, sem que as suas famílias soubessem o seu paradeiro.
A Catalunha caiu no início de 1939 e cerca de 500 mil pessoas atravessaram os Pirinéus, procurando refúgio em França. A 1 de abril, Franco anunciou o fim da guerra. A chacina continuaria depois do final do conflito. Cerca de 20 000 republicanos terão sido executados nos meses seguintes.
A participação portuguesa
Também Portugal se posicionou perante o conflito que assolava a Espanha. António de Oliveira Salazar deu apoio logístico, informativo, diplomático e material aos sublevados. Fê-lo discretamente, por temer a reação que esse apoio poderia provocar junto da Grã-Bretanha.
O ditador português acreditava que o futuro do regime também estava em jogo e que o desfecho do conflito no país vizinho poderia pôr em causa a sobrevivência do Estado Novo, caso os republicanos saíssem vitoriosos. Por isso, o regime permitiu que os insurretos circulassem em Portugal e forneceu-lhes mantimentos, armas e munições.
Os aviões alemães puderam fazer escala no país e passaram por território nacional munições e armas que se destinavam aos nacionalistas. Salazar permitiu também o recrutamento de voluntários nacionais para combaterem ao lado dos nacionalistas, os chamados “Viriatos”, e enviou especialistas militares. O país conduziu ainda propaganda “anticomunista” na imprensa e na rádio portuguesa.
Síntese:
- A Espanha enfrentou um conflito que opôs, durante três anos, dois grupos armados opostos que lutaram pelo controlo do Estado.
- O conflito dividiu o país e dividiu as famílias entre os que apoiavam os rebeldes e os que se mantinham fiéis ao governo republicano.
- A internacionalização do conflito, com as grandes potências a intervirem e a apoiarem uma das fações, contribuiu para que a Guerra Civil de Espanha se tornasse numa espécie de antecâmara da Segunda Guerra Mundial.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: As hesitações face à Guerra Civil de Espanha. Integrar a guerra civil espanhola (1936-1939) no contexto dos confrontos ideológicos da década de 30 do século XX. A Guerra Civil de Espanha como antecâmara da II Guerra. A participação portuguesa no conflito.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/ Cláudia Ninhos
- Ano: 2021
- Imagem: Forças franquistas festejam a conquista de Barcelona, 1939