José Saramago: levantado do chão, elevado ao Nobel

"Quem, com parábolas sustidas pela imaginação, compaixão e ironia, continuamente nos permite, outra vez, apreender uma realidade ilusória." Assim justificou a Academia Sueca o único Prémio Nobel da Literatura atribuído a um autor português: José Saramago.

Em Dezembro de 1998, José Saramago evocava os avós, o analfabetismo e a terra dura, mas generosa nos ensinamentos, ao receber o Prémio Nobel da Literatura. Foi o primeiro e, até agora, único a contemplar um autor português, mas o nome de Saramago, se não o estava já, firmou-se universalmente desde então. Neste artigo reveja parte do discurso do escritor português e escute alguns trabalhos da Antena 1 sobre o assunto. Entre eles, o noticiário em que é anunciada a sua vitória.

O Nobel da Literatura confirmado

 

Nada se mantém igual quando o nome de José Saramago é anunciado pela Academia Real Sueca. As notícias nacionais perdem relevância, o curso da História mudou. E a primeira reação, de contentamento absoluto, é a do homem que o editou e publicou. José Saramago soube depois.

Literatura laureada, um trabalho árduo

 

Para José Saramago, e de modo coerente com o que se pode observar do percurso laboral que teve, o trabalho representa a quase totalidade do esforço perante a vida, a tentativa de produção de algo, mesmo que seja literatura laureada, implica empenho esforçado, laborioso. A inspiração não explica nada, escrever é um trabalho e o que conta, afinal, é a obra feita.

Sem sociedade, o que seria do artista?

 

José Saramago define o artista face à sociedade, pacificando-o em normalidade, que não forçosamente conformidade ou aceitação. E é esse íntimo estado conflituoso que deve ser transposta para a obra, para fora da vida. Sem sociedade, diz Saramago, aquela obra em específico não existiria. Logo, há uma relação de serviço do artista na sua obra perante a sociedade. A procura, a tentativa de nos enfrentarmos a nós mesmos olhando o todo que somos.

A impossibilidade de que nascem os livros de Saramago

 

Saramago enumera, desde que escreveu “Memorial do Convento” até à última das obras que produziu, a repetição do facto de todos os seus livros partirem de uma impossibilidade, algo que não se verificaria na realidade. Quem consegue ver através da pele das pessoas ? Onde alguma vez será credível que toda a Humanidade cegue? Alguém, algum dia, encontrará uma réplica circunstancial perfeita de si próprio? Contudo, Saramago não deixa de relevar que, apesar do ponto de partida ser fantasista, a fantasia desaparece por completo ao longo do romance. “Tudo o que vem depois, tem que ver com o mundo real.”

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Ficha Técnica

  • Título: José Saramago
  • Tipologia: Extrato de Programa
  • Autoria: RTP - RDP
  • Produção: RTP-RDP
  • Ano: 1998