Usar a teoria da Tectónica de Placas para analisar dados de vulcanismo em Portugal e no planeta Terra.
A perigosidade de uma erupção vulcânica depende de vários fatores e há uma relação direta entre o tipo de limites tectónicos e o tipo de atividade vulcânica neles registada. É possível prevenir e diminuir os riscos. Vejamos como, neste explicador!
A esmagadora maioria das ocorrências sísmicas e vulcânicas está concentrada nos limites de placas tectónicas, verificando-se uma sobreposição evidente entre sismicidade e vulcanismo e as fronteiras de placa.
A região vulgarmente conhecida como “anel de fogo do Pacífico”, associada às zonas de subducção que circundam aquele oceano, e a “cintura mediterrânica”, que se estende desde o arquipélago dos Açores, atravessando o Mediterrâneo e prolongando-se para a Ásia, correspondem a regiões da Terra onde as ocorrências sísmica e vulcânica estão particularmente presentes.
As ocorrências vulcânicas estão essencialmente associadas aos limites convergentes e destrutivos (zonas de subducção) e aos limites divergentes e construtivos (dorsais oceânicas e riftes intracontinentais). Além destes enquadramentos, há que considerar o vulcanismo intraplaca/hot spot. A origem e composição dos magmas/lavas condiciona diretamente os tipos de erupção vulcânica determinando, assim, o risco a que estão sujeitas as populações que vivem nessas regiões.
O vulcanismo associado a zonas de subducção gera erupções predominantemente explosivas, enquanto que no vulcanismo ligado aos riftes e aos hot spots predominam erupções efusivas. Deste modo, a perigosidade vulcânica, e o risco associado, a que as populações estão sujeitas varia significativamente entre os dois conjuntos de regiões. Assim, a perigosidade de uma erupção vulcânica depende de aspetos como:
- composição química das lavas (teor em sílica) e temperatura de erupção, que condicionam a viscosidade das lavas, e o conteúdo em gases que contribui para a explosividade.
As lavas menos ricas em sílica (basálticas) e mais quentes, e por isso mais fluidas, produzem atividade predominantemente efusiva com emissão de escoadas de lavas bastante móveis; de perigosidade mais reduzida, podem causar a destruição de edifícios e infraestruturas, de campos de cultivo, provocar incêndios e o corte de vias de comunicação.
As lavas mais ricas em sílica (riolíticas) e menos quentes, e por isso mais viscosas, produzem atividade predominantemente explosiva, podendo gerar nuvens ardentes e torrentes de lama (“lahares”), por exemplo. As nuvens eruptivas formadas nas erupções do Monte Santa Helena (EUA, 1990) e do Monte Unzen (Japão, 1991), e os lahares desencadeados pela erupção do vulcão Nevado del Ruiz (Colômbia, 1985), tiveram efeitos catastróficos nos ecossistemas, em construções e, no caso do Nevado del Ruiz, em perda de vidas humanas.
- características do relevo – particularmente o declive do terreno, condicionando a velocidade de avanço das escoadas de lava, de lahares e de nuvens ardentes, por exemplo.
- condições climáticas da região – regiões frias/glaciares potenciam o carácter explosivo das erupções, devido à fusão de massas de gelo ou neve provocada pelas erupções. A formação de lahares depende diretamente das condições climáticas (água resultante da fusão de gelos ou de precipitação elevada).
- densidade populacional da região – quanto maior a densidade, maior será a dificuldade de evacuação da população em caso de necessidade, com impacto no número de vítimas, por exemplo. O grau de destruição causado pela erupção vulcânica será também Um exemplo que ilustra esta relação é a erupção histórica do Vesúvio, no ano 79 AD, que originou a destruição da cidade romana de Pompeia, com milhares de vítimas mortais. Note-se que só há risco se houver população.
A prevenção e a mitigação (redução do impacto) dos perigos resultantes das manifestações vulcânicas são de diferentes níveis. Desde logo, o ordenamento do território em zonas de risco vulcânico é fundamental, podendo passar pela proibição da construção em determinados locais, onde a população não esteja ainda instalada. Por outro lado, a evacuação das populações em situações limite deve ser tida em conta. As medidas que podem ser tomadas passam, nomeadamente, pela identificação dos sistemas vulcânicos ativos e do tipo e dimensão das manifestações que podem produzir.
A previsão vulcânica é realizada através da utilização de diferentes técnicas (geofísicas, geoquímicas e geodésicas), incidindo na monitorização das ocorrências sísmicas, em resultado da movimentação do magma, na deteção de deformações da superfície topográfica, na deteção de variações no volume e composição química dos gases libertados e das águas de nascentes, bem como a deteção de variações nas suas temperaturas.
Em Portugal, o vulcanismo ativo está limitado aos arquipélagos das regiões autónomas. As ilhas do arquipélago dos Açores, fruto do seu enquadramento tectónico, numa região de contacto entre as placas Norte Americana, Eurasiática e Africana, apresentam vulcanismo e tectónica ativos (sismicidade). A perigosidade vulcânica nesta região está associada à existência de vulcões ativos (centrais e fissurais) responsáveis pela edificação das próprias ilhas. Registam-se erupções vulcânicas associadas a diferentes tipos de magma (de composição básica e intermédia) e de ambiente (erupções subaéreas e submarinas). Na ilha da Madeira, estudos geológicos recentes indicam que o vulcanismo não se encontra extinto, embora a probabilidade de ocorrência de uma erupção não seja tão elevada como nos Açores.
Em resumo:
- existe uma relação direta entre o tipo de limites tectónicos (convergentes e divergentes) e o tipo de atividade vulcânica neles registada;
- a perigosidade de uma erupção vulcânica depende de fatores como as características das lavas, as características do relevo, as condições climáticas da região e o risco imposto por essa perigosidade depende da densidade populacional;
- a prevenção ou mitigação dos riscos vulcânicos pode ser feita a diversos níveis, desde o estabelecimento de estruturas de monitorização vulcânica às questões de ordenamento do território e estabelecimento de planos de contingência para cenários vulcânicos distintos;
- o vulcanismo ativo em Portugal está limitado ao arquipélago dos Açores e à ilha da Madeira.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Usar a teoria da Tectónica de Placas para analisar dados de vulcanismo em Portugal e no planeta Terra, relacionando-a com a prevenção de riscos geológicos.
- Área Pedagógica: Geologia
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Adão Mendes - Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia (APPBG)
- Ano: 2020
- Agradecimento: Professor Doutor José Madeira (FCUL) .
- Imagem: fotografia de, Nataliya Vaitkevich, Pexels.