Aldeias do Xisto, combater o despovoamento na serra da Lousã

Pequenas povoações com casas revestidas a xisto, perderam quase todos os seus habitantes na segunda metade do século XX. Os que resistiram, atravessaram em solidão os dias na montanha. O tempo parou. Até outros chegarem e redescobrirem a vida no interior.

Estamos no interior da região centro do país, em território serrano, onde a paisagem das encostas é salpicada por manchas de casarios erguidos em xisto, verdadeiros monumentos de uma arquitetura popular ancestral. Só na serra da Lousã contam-se 12 povoações, algumas construídas em socalcos, reservando a escassa planura dos solos à agricultura.

Por aqui, como em tantas outras aldeias do país, a vida era áspera e limitada à imperiosa necessidade da subsistência. O que se tirava da terra vendia-se também nas feiras, mas não bastava para matar frio e fome. Na década de setenta, os habitantes que chegaram a ser às centenas, começaram a sonhar a possibilidade de outros confortos, para eles e para os filhos. Aos poucos foram partindo, uns para o estrangeiro, outros migraram para terras do litoral, onde o trabalho tem salário, onde há escolas, hospitais, onde existe um futuro diferente. As aldeias esvaziaram-se de gentes, ficaram as casas à espera de ser ruína.

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Anos passaram e mais foram passando, a solidão tomou conta dos lugares, como a tia Helena, nascida e criada no Talasnal, recorda na reportagem da RTP. Até que os antigos caminhos voltaram a ser trilhados por quem os soube ver e valorizar.

Num decidido combate à desertificação, nasceu no ano 2000 um plano financiado pela União Europeia para requalificar este património histórico e cultural. Recuperaram-se casas, preservando o traçado original, renovaram-se artes e ofícios tradicionais como a tecelagem, fizeram-se hortas biológicas. As aldeias renasceram com o turismo mas também com portugueses e estrangeiros cansados da confusão das cidades e que ali decidiram viver o ano inteiro. Como a alemã Kerstin Thomas, residente da Cerdeira há mais de 25 anos, a artista plástica responsável pela iniciativa anual de arte contemporânea “Elementos à Solta”, encontrou ali uma terra genuína, ideal para criar dois filhos.

São estas novas gentes que aquecem a terra da tia Helena, com cheiros a lenha e a pão a sair das chaminés das casas habitadas. É tempo de visitarmos duas destas aldeias do xisto, património cultural e arquitetónico, lugares com memória e tradição que sublinham e projetam a identidade portuguesa.

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Ficha Técnica

  • Título: Em Reportagem - " O Regresso à Serra"
  • Tipologia: Reportagem
  • Autoria: Jorge Almeida
  • Produção: RTP
  • Ano: 2007