Antero de Quental, a missão revolucionária da poesia
Poeta e pensador do século XIX, Antero de Quental foi uma lenda em Coimbra. Mestre do soneto, defensor da modernidade, o escritor fez parte de uma das mais ricas gerações de intelectuais portugueses. Conheçamos a voz insular do académico revolucionário.
Tem na sua natureza o mar das ilhas atlânticas dos Açores, o azul da bonança que, num instante, se levanta em ondas agitadas. Antero de Quental (1842-1891) é esse espírito inquieto que vive entre “o sentimento e a razão, a sensibilidade e a vontade, o temperamento e a inteligência.”
Cedo começa a escrever sonetos, influenciado, confessa, por Alexandre Herculano. As heranças literárias da família fidalga de São Miguel, onde nasceu, especialmente do avô, poeta, íntimo de Bocage, também terão nele a sua influência. Do pai, combatente liberal que em 1832 participa nos conflitos entre D. Pedro e D. Miguel, herda o espírito lutador.
A Geração de Coimbra
Quando estudante na cidade das capas negras, a popularidade do jovem assume contornos de lenda. Eça de Queirós recorda: “Deslumbrado, toquei o cotovelo de um camarada, que murmurou, por entre os lábios abertos de gosto e pasmo. – É o Antero! (…) Nesse tempo ele era em Coimbra, e nos domínios da inteligência, o Príncipe da Mocidade.(…)”
Antero envolve-se nas lutas académicas. O espírito revolucionário do jovem estudante de Direito fortalece nas leituras do novo ideário europeu que chegam com Proudhon, Hegel, Darwin, Goethe, Balzac. É desta altura a polémica conhecida por “Questão Coimbrã”, desencadeada pela carta que escreve intitulada “Bom Senso e Bom Gosto” contra Antero Feliciano de Castilho e o romantismo dos velhos mestres.
O grupo de Coimbra, a base da Geração de 70, a que pertenciam Eça de Queirós , Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Teófilo Braga, Manuel de Arriaga, entre outros, irá depois reencontrar-se em Lisboa.
O grande impulsionador do grupo do Cenáculo, como mais tarde é denominado, é uma vez mais, Antero de Quental, que entretanto tivera a sua experiência operária de tipógrafo em Paris e regressara como “apóstolo do socialismo”. Todos querem mudar Portugal e acreditam que a literatura tem esse poder.
Em 1871 nascem as “Conferências do Casino” que servem a Antero para apresentar “As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”; os ataques que faz ao estado do país são tão violentos que as conferências são proibidas. A partir daqui desenvolve uma intensa atividade política, defende um federalismo europeu e é um dos cofundadores do Partido Socialista.
O poeta de “Raios de Extinta Luz” e “Odes Modernas”, autor prolífico também de ensaios filosóficos, vive, a partir de 1873, atormentado por uma doença que o deixa debilitado no corpo e na alma. Isola-se em Vila do Conde. Acabará por se suicidar aos 49 anos com um tiro na cabeça, sentado num banco de jardim na ilha onde nasceu.
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Ficha Técnica
- Título: "Antero de Quental"
- Tipologia: Reportagem
- Autoria: Helena Balsa
- Produção: RTP
- Ano: 1991