O Povo Que Ainda Canta
Cante, a voz do Alentejo
O Cante é caraterístico da vida antiga vida nos campos alentejanos. Homens e mulheres, em separado, num canto lento sem acompanhamento instrumental que hoje se mantém vivo como expressão da memória de um povo e da dureza do trabalho.
“Mondadeira alentejana vai mondando e vai cantando cantigas aos seus amores.” Na monda, na ceifa, para ajudar a passar o tempo ou para fazer esquecer a fome, entre mulheres e entre homens, o cante tem raízes profundas e mantem-se até hoje com um fulgor e imponência crescentes. Ter sido reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade, em 2014, relançou a sua difusão e fez disparar o número de grupos corais.
Neste episódio da série “Povo que Ainda Canta”, mais do que de conversas ou entrevistas, é através das paisagens do Baixo Alentejo e das letras das modas que mergulhamos nas origens desta tradição musical tão enraizada quanto viva. A ligação telúrica ao Alentejo está presente de forma transgeracional. Para os seus praticantes, o Cante incorpora um sentimento de identidade e de pertença.
O Cante Alentejano, segundo a definição classificada pela UNESCO, define-se por um “repertório constituído por melodias e poesia oral (modas), e é executado sem instrumentos musicais. Os grupos de Cante reúnem até trinta cantadores que se dividem em três papéis: o “ponto” inicia a moda, seguido pelo “alto”, duplica a melodia uma terceira ou uma décima acima, muitas vezes adicionando ornamentos. Todo o grupo coral se junta em seguida, cantando os versos restantes em terceiras paralelas. O alto é a voz orientadora, que se ouve acima do grupo em toda a música. Existe um vasto repertório de poesia tradicional, bem como versos contemporâneos.”