Conteúdo cedido por : Ordem dos Psicólogos
Psicologia na Escola

Compreender o que sinto

Compreender o que sinto

As emoções fazem parte da natureza humana. Ao longo do dia, experienciamos diferentes emoções, algumas duram apenas segundos, outras influenciam o nosso humor durante todo o dia. A intensidade das emoções depende de cada pessoa e da situação em que está.

É normal experienciarmos emoções mais agradáveis (felicidade, amor, confiança, inspiração, alegria, interesse, gratidão, por exemplo) e menos agradáveis (zanga, ressentimento, medo, vergonha, culpa, tristeza, preocupação, por exemplo). Na verdade, não há “emoções boas” e “emoções más”, mas sim boas e más formas de as expressar.

As emoções dão-nos informação sobre o que estamos a experienciar e ajudam-nos a decidir como devemos reagir. Mas aprender a gerir as emoções depende da nossa capacidade de as aceitar e compreender. Evitar determinadas emoções ou fingir que não as estamos a sentir pode trazer consequências negativas. É mais difícil ultrapassar as emoções negativas e lidar com elas quando não as enfrentamos e tentamos compreender porque nos sentimos de determinada forma.

Desde que somos bebés que temos contacto e reagimos a emoções (por exemplo, fazemos determinadas expressões faciais, rimos ou choramos). No entanto, apesar de conseguirmos sentir e mostrar emoções, quando somos bebés não temos capacidade para dar nome à emoção ou explicar porque nos sentimos de determinada forma.

À medida que crescemos, vamos ficando cada vez mais competentes a compreender as nossas emoções. Em vez de reagir apenas, somos capazes de identificar o que sentimos e colocar isso em palavras. Com o tempo e a prática vamos ficando cada vez melhores a saber o que estamos a sentir e porquê, ou seja, temos cada vez mais consciência emocional.

A consciência emocional significa reconhecer, respeitar e aceitar as nossas emoções. Ajuda-nos a saber o que queremos e o que precisamos (ou não queremos e não precisamos). Ajuda-nos a melhorar as nossas relações com as outras pessoas. Estar consciente das nossas emoções pode ajudar-nos a falar sobre sentimentos de forma mais clara, a evitar ou a resolver conflitos e a ultrapassar sentimentos difíceis e dolorosos.

Como é que podemos aumentar a nossa consciência emocional? Prestando atenção às emoções que vamos sentindo ao longo do dia e atribuindo-lhes um nome (por exemplo, podemos sentir-nos nervosos/as* antes de um exame ou relaxados enquanto ouvimos música) e um grau de intensidade (de 1 a 10 quão intensa está a ser esta emoção para mim?). Para além disso, podemos partilhar as nossas emoções com as pessoas que nos são mais próximas. Praticar “pôr as emoções em palavras” pode tornar-nos mais próximos dos/as nossos/as amigos/as, Mães e Pais ou Professores/as*. Como em quase tudo na vida, a prática faz a perfeição!

E depois? Em situações em que estamos a experienciar uma emoção intensa, como podemos lidar com ela da melhor forma? Gerir as nossas emoções significa escolher como e quando expressar o que sentimos.

Por exemplo, vamos imaginar que tínhamos passado a semana a deixar os trabalhos de casa todos feitos, o estudo organizado e as tarefas em casa realizadas, com o objectivo de irmos acampar com amigos/as. Na sexta-feira, na última hora de aulas, o Professor ou a Professora anuncia que na Segunda-feira vai haver teste. Provavelmente, vamos sentir-nos aborrecidos/as, senão mesmo muito zangados/as e desapontados/as porque teremos mais coisas para estudar que não estavam previstas.

Como reagimos? O que vamos fazer e dizer? Podemos ter vontade de saltar do lugar e gritar ao Professor “Não é justo! Há pessoas que têm planos para o fim-de-semana, sabia?”. Mas sabemos que nos temos de manter calmos/as até a aula acabar e depois partilhar as nossas emoções com um amigo ou uma amiga.

E se não nos conseguirmos controlar e ter calma? Não faz mal, aprendemos. Toda a gente pode melhorar a sua capacidade de gerir as emoções. Todos podemos escolher a forma como reagimos em vez de deixarmos que as emoções tomem conta de nós e nos levem a fazer ou dizer coisas das quais depois nos arrependemos. A nossa reacção influencia o que acontece a seguir, incluindo a forma como as outras pessoas nos respondem e a forma como nos sentimos connosco próprios/as.

É importante identificar e compreender as nossas emoções (consciência emocional) sem nos julgarmos ou culparmos pelo que sentimos. Não ajuda dizer que a forma como nos sentimos é culpa de outra pessoa ou pensar que “não nos devíamos estar a sentir assim”.

Vamos imaginar que os/as nossos/as amigos/as já receberam um convite para a festa de anos do Miguel. Mas nós não. Depois de identificarmos e compreendermos e aceitarmos o que sentimos, como reagimos? Mostramo-nos chateados/as quando estamos com os/as nossos/as amigos/as, à espera que eles perguntem o que se passa connosco? Lançamos um boato sobre a festa, comentando que não queremos ir? Confiamos num amigo ou numa amiga e partilhamos com ele/ela que nos sentimos excluídos? Recordamos que no é o fim do mundo e decidimos esperar sermos convidados/as?

Considerando cada uma das escolhas, qual das hipóteses pode conduzir a um melhor resultado? Podemos sempre escolher a forma como reagimos a uma situação. E a partir do momento em que percebemos isso torna-se mais fácil fazer as escolhas certas.

Parte da tarefa de gerir as nossas emoções é também escolher o nosso humor. Os humores são estados emocionais mais duradouros. E, tal como nas emoções, podemos decidir qual é o melhor humor para cada situação. O nosso humor não é simplesmente uma coisa que nos acontece, podemos influenciá-lo e mudá-lo. Escolher o humor certo pode ajudar-nos a controlar uma situação, por exemplo, a estar motivados/as e concentrados/as numa tarefa, a não desistir. Às vezes, para conseguirmos mudar o nosso humor, basta conseguirmos fazer uma pausa: distrairmo-nos com um jogo durante uns minutos, fazer uma caminhada ou um passeio curto ou apenas concentrarmo-nos unicamente na nossa respiração um pouco.

Saber gerir as nossas emoções é um processo que vamos desenvolvendo e aperfeiçoando ao longo da vida.

No entanto, ao longo da vida, em diversos momentos, as nossas emoções podem tomar conta de nós e parecer impossíveis de gerir. Detectar essas situações e pedir ajuda atempadamente é fundamental para a nossa Saúde Psicológica.

Procura ajuda se identificares em ti próprio/a vários dos sinais abaixo:

  • Sentires-te muito triste ou muito zangado/a, durante bastante tempo:
  • Necessidade de te isolares e te afastares das outras pessoas, que já não te interessam tanto como antes;
  • Dificuldades na escola ou em actividades sociais (por exemplo, descer as notas ou desistir de um desporto);
  • Dificuldades de concentração, de memória ou de pensares claramente, que não consegues explicar;
  • Apatia – perda do desejo de participar em actividades, de fazer coisas, de viver;
  • Sentimento de desconexão – um sentimento vago de estares desconectado/a de ti próprio/a ou das outras pessoas;
  • Ansiedade – sentires-te frequentemente e intensamente ansioso/a, ter mais medos ou suspeitar constantemente de outras pessoas;
  • Mudanças no apetite e no sono – comer e dormir mais ou menos do que antes, ter pesadelos;
  • Mudanças de humor – os teus sentimentos e emoções mudam muito rapidamente;
  • Consumo de álcool ou drogas.

É claro que identificares em ti próprio/a um ou dois destes sinais não significa que tens um problema de Saúde Psicológica. Mas, se experimentares vários ao mesmo tempo e se achares que estás a ter problemas em estudar e em te relacionares com as outras pessoas, então deves pedir ajuda a um/a profissional de Saúde, como o/a Psicólogo/a da escola.

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A Ordem dos Psicólogos tem mais informação em escolasaudavelmente.pt

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Ficha Técnica

  • Título: Compreender o que sinto
  • Área Pedagógica: Psicologia
  • Tipologia: Rubrica
  • Autoria: Ordem dos Psicólogos
  • Ano: 2022
  • Imagem: fotografia de Ivan Samkov, Pexels.
  • *Nota: constituindo a linguagem uma ferramenta para combater as desigualdades sociais, contribuindo para a eliminação de estereótipos e formas de discriminação, a OPP advoga a utilização de uma linguagem inclusiva, enquanto instrumento transformador de atitudes e comportamentos, de promoção do bem-estar, da Saúde Psicológica e da coesão, igualdade e justiça sociais.