Douro abaixo, Douro acima: a aventura dos rabelos

Estes barcos de ar frágil faziam verdadeiras odisseias nas águas perigosas do Douro. Manobrados por bravos homens, os rabelos existiam para transportar vinho à barra do Porto. Hoje, são embarcações de turismo. Símbolos do passado e do presente de um rio.

O Douro de outros tempos, muito antes de aparecerem as barragens, era um rio difícil de navegar, de correntes fortes e rápidas capazes de afundar um barco em menos de nada. Os homens que a ele se faziam, confiavam na experiência para passar os estreitos e os desfiladeiros perigosos. Cada viagem era uma aventura espreitada pela morte e pelo risco de naufrágio. Disso sabiam os marinheiros, mas o néctar produzido na região exigia que assim fosse. O rio era caminho único para transportar o vinho, cada vez mais apreciado. E o seu comércio terá começado há cerca de oito séculos em modestas embarcações capazes de carregar algumas pipas.

A partir do século XVI, em plena expansão portuguesa, o aumento da procura reforçou as ligações entre a zona produtora e a foz e as embarcações foram sendo adaptadas às novas necessidades. Herdeiros deste passado, os rabelos já navegavam o rio em 1756, ano da primeira demarcação das vinhas do Alto Douro, decretada pelo Marquês de Pombal.

Embora pareçam frágeis, os rabelos têm uma construção complexa, pensada para resistir às águas traiçoeiras, com carga pesada de várias toneladas e uma tripulação até 12 homens. Para os conduzir era necessário conhecer as manhas do rio, ter técnica, perícia e coragem nas manobras da espadela, o enorme leme. Nos pontos mais complicados tinham de ser arrastados por grossas cordas, puxadas de terra por homens ou por juntas de bois. Com esforço e medo, fizeram-se durante séculos longas e penosas viagens que enchiam de velas brancas a paisagem do Douro.

A chegada do comboio e, mais tarde, dos camiões cisterna, ditaram o fim destas travessias. Os  poucos rabelos que sobreviveram deslizam agora as altivas velas quadrangulares em passeios turísticos pelas ribeiras do Porto, de Gaia e da Régua. Testemunhos desse passado, fazem parte da identidade do rio e continuam a ser senhores do Douro.

Uma das últimas grandes viagens dos rabelos foi filmada pela RTP, em 1960. Douro abaixo, acompanhamos a faina fluvial destes bravos homens que, ao longo da travessia, pediam proteção divina aos santos esculpidos nas margens para chegarem vivos ao destino.

 

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Ficha Técnica

  • Título: Os Barcos Rabelo
  • Tipologia: Documentário
  • Produção: RTP
  • Ano: 1960
  • Realização: Adriano Nazareth