Novas Cartas Portuguesas: uma leitura obrigatória
Este é o livro que desafiou a autoridade moral do regime nos anos 70. Destruído pela censura, passou a ser objeto de leituras clandestinas. Um dos exemplares foi ter às mãos de uma menina de 11 anos, que o devorou. E guardou para sempre.
O livro que Inês Pedrosa encontrou escondido na gaveta do pai, e que se transformou na obra da sua vida, é por muitos considerado o texto revolucionário do feminismo português do século XX. Manifesto contra todas as formas de opressão, reivindicativo dos direitos humanos, de conteúdo subversivo, político, mas também literário, transformou-se num símbolo contra a ditadura. A publicação em 1972 das Novas Cartas Portuguesas pôs em causa tradições, com efeitos sísmicos na sociedade.
O início de tudo foi o pensamento conjunto de três mulheres, amigas e escritoras, que decidiram abdicar da sua identidade cultural para fazer uma obra que afrontasse o domínio masculino e tocasse em temas proibidos. Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno produziram uma obra única, também pela forma narrativa inovadora que juntava poesia, romance, ensaio, conto e carta.
Foi pelo conteúdo, considerado “pornográfico e atentatório da moral pública”, que as três Marias foram levadas a julgamento. Só não foram presas porque entretanto aconteceu a Revolução de Abril. O livro, aclamado no estrangeiro, ficou esquecido em Portugal até a professora Ana Luísa Amaral fazer em 2011 uma edição anotada para as novas gerações descobrirem.
A escritora Inês Pedrosa recorda, nesta peça, o impacto que as Novas Cartas tiveram na sua vida: “foi quando me apercebi que era com o corpo que se começava a escrever (…) “e que senti sensações eróticas e senti desejo”. Um desassossego que recomenda.
Ficha Técnica
- Título: Ler+ ler melhor - Novas Cartas Portuguesas
- Tipologia: Extrato de Magazine Cultural
- Produção: Filbox produções
- Ano: 2011