O sermão do padre António Vieira no dia da Epifania
Do púlpito da capela dos jesuítas fez o Padre António Vieira um sermão que comoveu as gentes mais nobres e tementes a Deus que habitavam a Lisboa de 1662. As palavras eram do pregador, do missionário, do político e do sonhador de um reino universal de Cristo em defesa dos seus amados índios. Acabara de chegar do outro lado do mundo, expulso do Maranhão pelos colonos portugueses que odiavam a sua voz ativa. A este sermão da Epifania outros se seguiram em São Roque. Os que o queriam ouvir "mandavam lançar um tapete de madrugada" para guardar lugar na igreja.
O Novo Mundo era estranho à capital do império. De lá vinha ouro, mas Lisboa desconhecia que o brilho do metal se pagava com inumanidade. À riqueza e ao poder, o homem branco sacrificava a vida dos índios, subtraindo-lhes dignidade e direitos, como se animais fossem. António Vieira, o pregador da palavra de Deus, toma para si este Brasil como terra de missão sagrada e defende nos sertões do Maranhão os povos indígenas, que carinhosamente o reconhecem como padre grande ou paiaçu. Crítico dos colonos e das suas práticas cruéis, é por eles expulso em 1661.
Outra vez o vemos a atravessar o mar atlântico para continuar nos púlpitos da Igreja de São Roque este justo combate. Na presença de Luísa de Gusmão, a rainha-regente, da corte e do clero, a voz do missionário jesuíta une dois lugares distantes num discurso comovente, fazendo dos índios personagens principais de uma das cenas míticas da Bíblia, a adoração dos Reis Magos. O sermão da Epifania revela, uma vez mais, o génio deste humanista da Europa de seiscentos, que inspirou reis e escandalizou a Inquisição.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Visita Guiada - Igreja de São Roque
- Tipologia: Extrato de Programa Cultural
- Autoria: Paula Moura Pinheiro
- Produção: RTP
- Ano: 2016