Os Herdeiros do Bairro 6 de Maio
As lembranças dos que habitaram o clandestino Bairro 6 de Maio são a prova de que ele continua a existir mesmo depois de demolida a última casa. Quem olha de fora reconhece miséria e destruição. Os seus, veem tudo o que a memória teima em não querer esquecer. Os documentário reúne um conjunto de testemunhos cujo objetivo é preservar o legado desta comunidade de portugueses cabo-verdianos que, a partir da periferia de Lisboa, demonstram uma partilha de valores fundamentais num país que sentem como seu.
Entre os concelhos de Sintra e da Amadora, após o 25 de Abril, cresceram como cogumelos os bairros clandestinos. Nos anos 90 é determinada a erradicação de barracas nas grandes áreas metropolitanas e, três décadas depois, o Bairro 6 de Maio está praticamente extinto. Em prol de habitações condignas, mas com muita dor das gerações de cabo-verdianos que ali construíram a sua ilha em Portugal. Esta é a história das memórias felizes do gueto crioulo.
O Bairro 6 de Maio nasceu com a vinda dos homens que fugiam à fome e à seca das ilhas de Cabo Verde, alguns ainda antes da Revolução dos Cravos. Eram quase todos recrutados para a construção civil. Tendo acesso a materiais, noite dentro, foram erguendo as suas barracas, que mais tarde seriam “barracas de tijolo”, em terrenos na Damaia. Casas à moda das ilhas nativas, sempre inacabadas, sempre prontas a serem aumentadas à medida que a família crescia.
Numa viagem guiada pelos habitantes do Bairro, ficamos a conhecer a identidade desta comunidade através de uma língua que muitos não compreendem – o crioulo – e de uma cultura que intriga. Esta proximidade à essência ajuda a quebrar preconceitos e medos, permitindo a descoberta e a aceitação das minorias que cada vez mais vão construindo o tecido social das grandes cidades.
Clandestino, o Bairro chegou a ser habitado por 1200 famílias, que eram como uma só. Ali se criaram, em conjunto, gerações em que a mãe de uma criança era a mãe de todas. Onde um funeral era um momento coletivo e não íntimo. No 6 de Maio, os cabo-verdianos viveram como a grande família. A solidariedade, a entreajuda, a comunidade sobrepunha-se ao individual. Com os realojamentos, todos admitem ter casas com mais condições, mas no coração a certeza do que não volta – os dias felizes.
Ficha Técnica
- Título: Os Herdeiros do Bairro
- Tipologia: Documentário
- Produção: Help Images
- Ano: 2019