Padre António Vieira: uma lição de liberdade

As ideias que defendeu e as causas que combateu fazem de Padre António Vieira uma espécie de revolucionário português do século XVII. Numa época marcada pelo absolutismo, o pregador jesuíta mais famoso de sempre não hesitou em defender os oprimidos, em denunciar injustiças e atacar poderes dominantes. Nem mesmo o Santo Ofício escapou às suas críticas. A coragem e a liberdade são marcas da longa vida deste homem invulgar, modelado pela formação na Companhia de Jesus e pela estética barroca.

Nos muitos papéis que desempenhou no “teatro do mundo”, Padre António Vieira mostrou-se um homem desassombrado, capaz de desafiar o poder apesar de depender de quem o tinha. Mal foi ordenado, em 1634, levantou a voz contra a ganância e a corrupção que minavam a Baía, capital do Brasil, onde vivia desde os seis anos de idade. Essa tenacidade nunca mais o largou. Mobilizado na construção de uma sociedade nova, fraterna e justa, Vieira denunciou, contestou e criticou; ganhou e perdeu causas.

Conhecedor da realidade, o humanista cristão atravessou praticamente todo o século XVII atento aos problemas políticos, económicos, sociais e religiosos, com propostas reformistas avançadas para a mentalidade da época. Como a defesa dos direitos humanos dos índios ou o fim da discriminação que existia entre cristãos-novos e cristãos-velhos. Determinado em afrontar interesses e privilégios da nobreza e da própria Igreja, o pregador cujos sermões faziam lotar a Capela de S. Roque, em Lisboa, não temeu inimigos nem mesmo o Santo Ofício que atacou por causa dos bens confiscados previamente aos arguidos.

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No que pregou e no que escreveu, Padre António Vieira estava à frente do seu tempo, no entanto, ao contrário do que se possa pensar, a liberdade na ação e no pensamento era não só fruto da sua “prodigiosa inteligência” como da formação nos colégios dos jesuítas onde aprendera a obediência mas também a cultivar um espírito inventivo, um “instinto de luta” e a “eficiência da palavra”, salienta José Pedro Paiva, professor do Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O que este académico aqui nos diz é que Vieira (1608-1697) é um pensador que viveu num século dominado pela estética barroca que desafiava o artista a expressar-se livremente, sem regras. O único modelo que convinha a este homem universal.

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Ficha Técnica

  • Título: Câmara Clara - Padre António Vieira
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2008