Pepetela, o guerrilheiro escritor

Dos companheiros de guerrilha recebeu o pseudónimo que o acompanha na tradução do mundo em histórias que vivem dentro dos livros. Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos ficou Pepetela, um dos maiores escritores que Angola tem.

No princípio acreditava que a literatura podia mudar o mundo. Uma ilusão que entretanto perdeu, mas que o levou a escrever com o sentido de ser publicado, de fazer chegar as suas histórias a muitos outros e de lhes ir mudando o mundo, acrescentando-lhes sonhos e conhecimento. Sim, porque a prosa deste escritor, nascido em Angola em 1941, começou por ser tecida em frases curtas, com uma linguagem simples, para que os alunos tivessem mais alguma coisa para ler além dos manuais escolares. E para que os guerrilheiros tivessem livros para ler nos intervalos dos combates.

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Assim nasceu “As aventuras de Ngunga”, um conjunto de textos didáticos que virou romance. A personagem é um menino órfão, que acredita na liberdade, que quer lutar com o MPLA, e que tenta encontrar homens que não pensem apenas neles. Utopia do escritor, tantas vezes narrador da história de Angola, do passado e do presente, da luta pela independência, do racismo, das desigualdades e da corrupção. Nestes livros, em que constrói muito da identidade nacional do seu país, a formação em sociologia feita na Argélia pesa no realismo da análise social.

Pepetela, nome que vem do quimbundo para traduzir o Pestana que tem no apelido, sempre se imaginou escritor. Porque diz que escrever o ajuda a pensar melhor o que vê.  Nesta entrevista confessa que o livro só começa a valer a pena quando a própria história o surpreende. E o segredo pode bem estar no ritmo da primeira frase que o leva a querer descobrir a música das palavras. Com ironia à mistura. Comprova-o Jaime Bunda, a versão africana do espião britânico James Bond.

Os seus primeiros livros foram escritos no mato, durante o combate pela libertação de Angola, em que participou ativamente. O militar passou depois a político, porém esta não era a carreira que queria e, ao fim de seis anos, abandonou o cargo de vice-ministro da Educação para se dedicar ao ensino e à escrita que começara cedo, influenciado pela prosa do brasileiro Jorge Amado.

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O autor de “Mayombe”, “A Geração da Utopia”, “Yaka”, “Os Predadores” ou o “Cão e os Calus”, Pepetela é um dos mais importantes escritores da lusofonia, distinguido com o Prémio Camões, em 1997. Aqui o temos como narrador da sua história.

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Ficha Técnica

  • Título: Mar de Letras
  • Tipologia: Entrevista
  • Produção: Panavídeo/ RTP África
  • Ano: 2014