Ruy de Carvalho, a vida no palco
O Teatro é património da Humanidade por tudo o que representa, agrega e transforma da memória coletiva das civilizações. Em Portugal, ninguém melhor o personifica do que Ruy de Carvalho. Nele, o conhecimento, a experiência e a arte, transfiguram-se no ator completo, aqui, na "Primeira Pessoa".
Estreou-se, aos oito anos, como ardina, e ao longo de uma longa vida vestiu-se de tudo: diabo, cego, mulher, bêbedo. A voz, funda de baixo, também o haveria de destacar no teatro radiofónico, em dobragens e até na ópera, onde foi corista. Excelente aluno do Conservatório, de lá saiu para se apresentar como profissional na Companhia Amélia Rey Colaço e para atravessar dois séculos que o levaram do teatro ao cinema e à televisão, que haveria de o consagrar e popularizar como o ator mais completo da sua geração.
Samuel Beckett define-lhe parte do pensamento sobre a vida. Gil Vicente é uma adoração. Rei Lear, obra-prima de William Shakespeare, elevou-o à categoria de gigante da representação, mas foi o espantalho cego, de José Cardoso Pires, em “O Render dos Heróis” (1965), que lhe proporcionou – diz o próprio -, o melhor momento da carreira. De resto, conviveu e trabalhou com os grandes autores portugueses do século XX, como Miguel Torga e Luís de Sttau Monteiro.
No palco dos valores, Ruy de Carvalho define-se um homem comum que na profissão se guia pela bússola da qualidade. Tem a dignidade como um imperativo na vida e considera ter sempre praticado a liberdade. E não tem dúvidas de que “a arte molda e lima a qualidade espiritual das pessoas”.