“Uma Abelha na Chuva”, de Carlos de Oliveira

Como todos os neorrealistas Carlos de Oliveira não queria apenas escrever o mundo; queria mudá-lo. A pobreza dos camponeses, a mortalidade infantil e a imigração, "tatuaram" a sua consciência social. "Uma abelha na chuva" é o retrato de um país oprimido.

O casamento de Álvaro e Maria dos Prazeres é infeliz, como tantos outros que se eternizavam no Portugal medíocre de Salazar. As fidalguias viviam de aparências, a fingir e a calar para manter o património intacto. Todavia, o romance “Uma abelha na chuva” de 1953, faz o amor nascer entre uma criada e um motorista, à margem das regras sociais. Carlos de Oliveira, o autor, dava um sinal de esperança para o desfazer a seguir, porque sabia que ainda não era chegado o tempo de mudar. O país iria ser governado pela ditadura mais uns anos.

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Nascido na cidade brasileira de Belém do Pará, em 1921, Carlos de Oliveira vem com dois anos viver para Nossa Senhora Das Febres, no norte de Portugal e, mais tarde, vai estudar para Coimbra, onde se destaca “entre aqueles que não aceitam que a literatura viva debaixo de um regime ditatorial de um país oprimido”. Dentro de si tem os camponeses pobres da sua aldeia, as histórias de desigualdades, os números impensáveis da mortalidade infantil e a crescente onda de imigração. São estes anos em Febres que, como diz um dia, tatuaram nele uma consciência social.

Quer na prosa como na poesia, o autor inscreve essa marca que faz dele um dos pioneiros do neorrealismo em Portugal ao lado de Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes e Mário Dionísio. Como poeta e ficcionista, Carlos de Oliveira publica dezenas de livros; obras marcantes como “Descida aos infernos”, “Micro paisagem”, “Finisterra: paisagem e povoamento” e este “Uma abelha da Chuva”, de que trata o documentário que aqui trazemos, ilustrado com imagens da sua adaptação cinematográfica por Fernando Lopes.

Perseguido por uma ideia de perfeição materializada na estética do texto despojado, o autor reescreveu quase todos os livros publicados; o que é supérfluo desaparece nas emendas que faz ao longo dos anos. Carlos de Oliveira vai depurando as palavras, até 1981, ano da sua morte.

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Ficha Técnica

  • Título: Grandes Livros - "Uma Abelha na Chuva" de Carlos de Oliveira
  • Tipologia: Documentário
  • Produção: Companhia de Ideias
  • Ano: 2010