A organização política, territorial e económica dos muçulmanos na Península Ibérica
A conquista da península Ibérica deu-se em 711, tornando-se um emirado dependente de Damasco. Em 756 fundou-se o Emirado de Córdova tornando-se esta região independente do Califado dos Abássidas, com capital em Bagdad. Em 929, é fundado o Califado de Córdova da dinastia omíada que dominava a península Ibérica e o norte de África. O Califado manteve-se até 1036, sendo substituído por inúmeros reinos, designados por Taifas, devido às revoltas internas.
No início do século VIII o reino visigodo da Península Ibérica encontrava-se numa situação de profunda crise política e social, sendo assolado por guerras internas, entre os apoiantes do recém-eleito rei Rodrigo e os dos seus opositores.
Neste contexto, o conde cristão Julião, opositor de Rodrigo e governador de Ceuta, pediu auxílio militar ao governador muçulmano do norte de África, Musa Ibn Nusayr. Em resposta a este pedido Musa enviou Tarique, como comandante de um exército muçulmano, que atravessou o estreito de Gibraltar e invadiu a Península Ibérica em 711.
A conquista da Península Ibérica pelos muçulmanos, na sua maioria mouros recentemente convertidos ao islão, não teve grande resistência por parte das populações locais, cansadas das guerras constantes entre a nobreza visigoda. Vencidos na batalha de Guadalete a conquista do resto da península foi relativamente rápida.
Os territórios ocupados pelos muçulmanos na península passam a ser conhecidos como o Al Andaluz. A conversão ao islão da população local foi parcial, ocorrendo sobretudo nas zonas urbanas e no sul do território. Uma parte substancial da população permaneceu cristã, continuando a falar os dialetos locais do latim que, mais tarde, dariam origem às línguas românicas locais.
Após a ocupação assinaram-se acordos, estabelecendo que cristãos e judeus que habitassem territórios sob controlo muçulmano podiam conservar as suas propriedades, mediante o pagamento de um imposto, a jizzia, usufruindo de algumas regalias e direitos. A desigualdade de tratamento levou muitos cristãos a converterem-se ao islão, para usufruírem de direitos e de um maior prestígio social, passando os convertidos a ser designados como muládis.
Os cristãos que mantiveram a sua religião eram designados como moçarabes. Nos territórios mais a sul do Al Andaluz ocorre um renascimento comercial, urbano e cultural, possibilitado pelos contributos muçulmanos e pela convivência destes com as culturas cristã e judaica.
A vida urbana é revitalizada através de rotas comerciais antigas e com a abertura de novos mercados. Nas cidades, a intensa atividade comercial possibilitou um intercâmbio cultural, económico e científico, notáveis.
A evolução política do al Andaluz (711 – 1492) distinguiu-se em três etapas:
- Emirados
Emirado dependente – governado por um governador ou emir, dependente dos califas de Damasco, estabelecendo a capital em Córdova. As lutas entre berberes (provenientes do norte de África) e os árabes, limitou o poder dos emires e facilitou a organização de grupos hispano visigodos no norte da península.
Emirado independente 756-929 – Em 750 o califado omíada de Damasco foi destruído pelos abássidas. Um príncipe omíada, Abderramão, refugiou-se na península, assumindo o poder no al Andaluz. Converteu-o num Emirado independente apesar de ter mantido a subordinação religiosa aos califas abássidas.
- Califado de Córdova (929- 1031)
Abderramão III proclamou-se califa e autonomizou-se face ao califado abássida com a capital em Bagdad aproveitando as debilidades dos mesmos. Deteve o avanço cristão na península, reforçou o poder central, controlou os focos de resistência que persistiam em território muçulmano e controlou o norte de África.
O califado de Córdova era um dos mais importantes estados do ocidente. As lutas internas e o aumento do poder das famílias aristocratas, proporcionaram revoltas palacianas e califas sem autoridade, até que os notáveis de Córdova aboliram o sistema de Califado. A fragmentação territorial deu origem a pequenos reinos independentes, as taifas.
- Os reinos das Taifas
Estes reinos, debilitados com as sucessivas guerras entre eles, acabaram por fazer acordos com os reinos cristãos, enfraquecendo a sua autonomia. Em 1085 Toledo foi conquistada pelos cristãos.
O alarme soou em território muçulmano e o auxílio veio do norte de África, dos almorávidas. Derrotaram Afonso VI de Leão e Castela e submeteram, sob a sua autoridade, as taifas muçulmanas. A constante pressão dos cristãos e o descontentamento dos muçulmanos peninsulares face às imposições dos almorávidas, levou à substituição destes pelos almóadas, oriundos do norte de África. Estabeleceram a sua capital em Sevilha.
Na batalha de Navas de la Tolosa, em 1212 os muçulmanos perderam frente ao exército cristão. A partir desta data o seu poder foi enfraquecendo, dando-se o avanço cristão em territórios da atual Andaluzia. Os monarcas aragoneses conquistaram Valencia e as ilhas Baleares. D. Afonso III, em 1247, conquista definitivamente o Algarve. Aos muçulmanos restou a Taifa granadina, até 1492.
Síntese:
- A organização territorial da península Ibérica sob controle muçulmano distinguiu-se em três etapas: Emirados, Califados e Taifas.
- O território muçulmano caracterizava-se por um dinamismo económico centrado nas zonas urbanas, com uma intensa atividade comercial e monetária.
- A conquista de Toledo em 1185 e a Batalha de Navas de la Tolosa em 1212, enfraqueceram o mundo muçulmano frente aos cristãos.
- Em 1492, com a conquista de Granada, são definitivamente expulsos da península Ibérica.
Ficha Técnica
- Título: Localizar no tempo a ocupação e presença na Península Ibérica da civilização muçulmana. Indicar as características da organização política, territorial e económica da Península Ibérica sob domínio muçulmano.
- Autoria: Associação dos Professores de História/ Marta Torres
- Produção: RTP/ Associação dos Professores de História
- Ano: 2021
- Imagem: Iluminura do "Livro dos Reis" (Séc. X ou XI). New York Public Library/ PICRYL