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As academias de artes entre os séculos XVI e XIX

As academias de artes entre os séculos XVI e XIX

Entre a fundação da primeira academia de arte, em 1563, e finais do século XIX, as academias assumiram um papel central no campo da arte tendo como funções o ensino, teorização, exibição e regulação das práticas artísticas, fruto da sua articulação com os aparelhos de poder. Acompanhar a história das academias é também caminhar a par de disputas estéticas que foram informando discursos e práticas artísticas, até à crítica feroz de que serão alvo entre finais do século XIX e inícios do século XX, questionando-se o seu prolongamento de valores clássicos e de um ensino fundado na tradição.

Tendo como funções o ensino, teorização, exibição e regulação das práticas artísticas, as escolhas estéticas das academias impuseram-se como modelo a partir do qual julgar a produção artística. O que foi verificável não só quando às suas opções correspondeu a valorização de dadas práticas, como aconteceu com a afirmação do barroco ou do neoclassicismo, mas também quando simbolizavam o contraponto à novidade, como sucedeu no momento de ascensão das vanguardas históricas. Assim, acompanhar a história das academias é caminhar a par de discussões estéticas que aí tiveram lugar, informando práticas artísticas e discursos sobre arte. 

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Logo na primeira metade do século XVII, há uma oposição na Academia de São Lucas (fundada em Roma em 1577) que pode ser sintetizada a partir da contraposição entre as práticas pictóricas de Pietro da Cortona (1596-1669) e Andrea Sacchi (1599-1661). Aí opunham-se respetivamente uma pintura de história composta por múltiplas personagens e cenas, ainda que sob um mesmo tema, a um princípio organizativo do quadro em que antes de mais se valorizava a clareza e unidade.

O segundo momento, na segunda metade de seiscentos, tem lugar na Academia Real de Pintura e Escultura (criada em Paris em 1648), antagonizando as pinturas de Nicolas Poussin (1594-1665) e Peter-Paul Rubens (1577-1640). O primeiro correspondia à valorização do desenho e à seleção cuidada de elementos naturais como meio de chegada a uma beleza ideal, enquanto o segundo remetia para uma pintura que, pelo uso da cor, revelasse um tratamento expressivo do quadro a partir da pincelada.

Já em inícios do século XIX serão notórias as fricções entre uma prática neoclássica e a afirmação do Romantismo, corporizadas respetivamente por Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867) e Eugéne Delacroix (1798-1863). Disputa que de certo modo retomava a oposição entre Poussin e Rubens, entre a preponderância do desenho e a expressividade do tratamento da cor. Por fim, de meados do século XIX em diante, opõem-se valores académicos às vanguardas emergentes, ainda que esta contraposição nem sempre tenha implicado uma total recusa mútua.

O Romantismo
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A centralidade das academias devia-se igualmente à sua articulação com os aparelhos de poder. Neste sentido, destacaram-se especialmente a Academia de São Lucas e a Academia Real de Pintura e Escultura. No caso da academia romana, o apoio que lhe é concedido por parte do papa Urbano VIII, a partir de 1635, contribuirá para o aprofundamento do seu papel regulador das práticas artísticas em Roma, influenciando todo o mundo católico.

A academia parisiense, cuja génese em 1648 se encontra ligada à afirmação do absolutismo régio durante o reinado de Luís XIV, teve como patrono a partir de 1661 o ministro Jean-Baptiste Colbert, afirmando-se definitivamente no controlo da produção artística em território francês.

É também por estes anos, em 1667, que se iniciam as exposições organizados pela Academia, que passarão à posteridade como os Salões de Paris, tornando-se este um espaço fundamental para o reconhecimento de artistas e práticas, bem como para o desenvolvimento da crítica da arte de meados do século XVIII em diante. Porém, ainda antes da crítica feroz de que as academias serão alvo entre finais do século XIX e inícios do século XX, é talvez na sequência da Revolução Francesa, com a extinção da academia parisiense em 1793 (anos mais tarde refundada e integrada no Instituto de França), que se leva ao limite a tensão entre este modelo institucional e as mutações sociais, políticas, económicas e culturais que vinham tendo lugar.

Ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX foram fundadas diversas academias de artes, casos da Academia de Belas-Artes de Viena (1692), da inglesa Academia Real das Artes (1768) ou da portuguesa Academia Nacional de Belas-Artes (1836). Mas a sua preeminência no mundo da arte foi sucessivamente questionada, sendo relegadas para um segundo plano ao longo do século XX.

As galerias de arte
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Consequência de um entendimento académico da arte que prolongava os preceitos do ideal clássico de beleza, a distinção entre as três belas-artes e artes menores, a hierarquia entre os géneros da pintura ou um ensino em que a cópia dos mestres era ainda fulcral. Simultaneamente, estavam já criadas as condições para a afirmação de circuitos de exposição e de mercado em parte alternativos aos das Academias. Fruto de um longo movimento de fundo, no qual se integra a ascensão das burguesias mercantil e industrial, que foi mostrando também entendimentos do Estado e da cidadania que se contrapunham ao fechamento social e estético da academia.

Síntese

  • Entre a fundação da primeira academia de arte, em 1563, e finais do século XIX, as academias assumiram um papel central no campo da arte tendo como funções o ensino, teorização, exibição e regulação das práticas artísticas.
  • Acompanhar a história das academias entre o século XVII e XIX é também caminhar a par de disputas estéticas que foram informando discursos e práticas artísticas, como as oposições Cortona / Sacchi, Poussin / Rubens ou Ingres / Delacroix.
  • Na passagem do século XIX para o XX questionava-se o seu prolongamento de valores plásticos classicizantes e de um ensino fundado na tradição, que chocava com as mutações políticas, económicas, sociais e culturais deste período.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: As academias de artes entre os séculos XVI e XIX
  • Tipologia: Ensina
  • Autoria: Associação de Professores de História/André Silveira
  • Ano: 2021
  • Imagem: A Grande Odalisca - Jean Dominique Ingres.