Explicador Explicador
1ª República

Efeitos sociais e económicos da I Guerra Mundial

Efeitos sociais e económicos da I Guerra Mundial

Portugal entrou na 1ª Guerra Mundial para a República ser reconhecida, defender as colónias africanas e devido à aliança com Inglaterra. No entanto, a sucessão de governos a favor e contra a guerra repercutiu-se no apoio ao CEP e na situação económico-financeira e social, que se agudizou porque não se obtiveram as reparações esperadas para fazer face às despesas e danos da guerra.

A entrada de Portugal na 1.ª Guerra, em 1916, foi suscitada pela necessidade de reconhecimento do regime republicano, pela defesa das colónias de Angola e Moçambique, ameaçadas pela Alemanha, e pela pressão diplomática britânica para Portugal apresar os barcos alemães estacionados nos portos portugueses. No contexto da secular aliança militar entre Portugal e Inglaterra, esta pedia ainda a cedência de armamento, o que Portugal só fez mediante o envio de homens (o Corpo Expedicionário Português – CEP) para as trincheiras na frente de batalha europeia.

No entanto, a participação na 1.ª Guerra não foi consensual, nem entre republicanos, nem entre a oposição monárquico-religiosa, agravando-se as lutas partidárias e a fragmentação de partidos (passou a ser «normal» que deputados eleitos por um partido, decidissem abandoná-lo e exercessem funções legislativas por um outro).

Formação do governo da “União Sagrada” em Portugal
Veja Também

Formação do governo da “União Sagrada” em Portugal

No final da 1.ª Guerra Afonso Costa representou Portugal nas negociações de paz, em Versalhes, mas as esperadas reparações saldaram-se mais pelo reconhecimento da integridade territorial das colónias do que pelos montantes financeiros de indemnização recebidos, o que agravou a crise económico-financeira e social.

Os gastos de formação das tropas e do seu envio para as colónias africanas e para a Flandres destruíram o equilíbrio financeiro conseguido pouco antes do início da guerra e foram suportados pela dívida pública interna e externa, obrigando a novos empréstimos ao estrangeiro, ao aumento de impostos e à desvalorização da moeda através da emissão de notas de banco.

Durante a guerra e no imediato pós-guerra reduziram-se a maior parte das exportações, sobretudo de vinho e cortiça ou de têxteis para as colónias e faltavam matérias-primas, maquinarias e capital estrangeiro, o que não obstou a que alguns setores, como o conserveiro, tivessem aumentado a produção e exportação, mesmo enfrentando as dificuldades no setor dos transportes e das comunicações devido à falta de investimento e às greves.

Num país onde a principal atividade económica continuava a ser a agricultura, importavam-se cereais, porque a modernização era dificultada por uma estrutura muito parcelada da propriedade, pela pobreza dos solos, mas também pela falta de iniciativa de muitos proprietários ou pelo absentismo, no caso dos patrões agrícolas no sul do país.

O aumento do custo de vida na I Guerra Mundial
Veja Também

O aumento do custo de vida na I Guerra Mundial

A recuperação do mercado internacional, no início dos anos 20, agravou ainda mais a crise económica em Portugal devido à concorrência às exportações portuguesas. Aumentaram as falências e o desemprego e escasseou a produção também devido à redução do horário de trabalho aprovada na 1.ª República. O açambarcamento de produtos, vendidos a preços exorbitantes, foi praticado por vários comerciantes.

A insuficiência da produção, o aumento da dívida pública, as práticas de corrupção e de desvalorização da moeda estimularam uma inflação galopante, apenas ultrapassada pelas da Áustria e da Alemanha. Por isso, alguns dos detentores de capital em Portugal preferiam colocar o seu capital no estrangeiro ou apostar na especulação financeira.

A crise económica e financeira só se atenua entre 1924-25, quando a Europa beneficia do crédito americano para a recuperação económica.

Esta crise não foi vivida da mesma forma por todos: ao lado de alguns, poucos, que gozaram uma vida de luxo gastando os rendimentos do capital em vez de o investirem, encontravam-se as classes médias e alguns elementos da grande burguesia depauperados com o aumento de impostos e da inflação. Mas as piores condições de vida eram as das massas populares, cujo poder de compra desceu drasticamente devido à subida de preços de géneros alimentícios, em particular do pão, que o governo deixou de o subsidiar, como fazia durante a guerra.

Apesar do racionamento de bens, os tumultos e as greves passaram a ser frequentes, afetando a produção e o setor de transportes e das comunicações. A resposta policial fragilizava ainda mais os governos, que se sucediam, ampliando a sensação de insegurança social.

Cadernos da I Grande Guerra
Veja Também

Cadernos da I Grande Guerra

Síntese:

  • Portugal manteve as colónias, mas as reparações financeiras não resolveram o défice, recorrendo-se a empréstimos externos, ao aumento de impostos e à desvalorização da moeda.
  • A instabilidade política agravou-se durante e no pós-guerra em que se sucederam os governos devido às cisões entre republicanos, monárquicos e católicos.
  • A crise económico-financeira piorou com as dificuldades de produção e de exportações, havendo falências, desemprego e o aumento dos preços devido ao açambarcamento.
  • A inflação galopante piorou as condições de vida, sobretudo do operariado e classes médias, havendo quem tivesse vivido luxuosamente com os ganhos da especulação.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Explicar os efeitos da 1ª Guerra na situação política, económico-financeira e social.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/ Mariana Lagarto
  • Ano: 2021
  • Imagem: Detalhe de cartoon sobre o aumento do custo d vida, Ilustração Portugueza - 8/11/1920