Formas de inferência válida e falácias formais
Uma inferência é aproximadamente o mesmo que um argumento ou raciocínio, ou seja, o processo por meio do qual obtemos uma proposição (a conclusão) a partir de outras proposições (as premissas).
O que são formas de inferência válida? Exemplos de formas de inferência válida. O que são falácias formais? Exemplos de falácias formais.
Há inferências válidas e inválidas, pois umas vezes raciocinamos corretamente e outras incorretamente. A validade de muitas inferências depende apenas da sua forma ou estrutura, sendo o conteúdo irrelevante. As formas de inferência válida são aqueles padrões ou “moldes” de raciocínio que nos impedem de chegar a conclusões falsas a partir de premissas verdadeiras. Há inúmeras inferências, acerca dos mais diversos assuntos, que obedecem ao mesmo padrão ou forma. Se a forma for válida, então a inferência será também válida, seja qual for o seu conteúdo.
Eis três inferências diferentes que obedecem à mesma forma:
Se Gerty Cori usava auscultoscópio, então era asclépia.
Mas Gerty Cori não era asclépia.
Logo, Gerty Cori não usava auscultoscópio.
Se o Paulo ficasse zangado, deixava de falar comigo.
Mas ele não deixou de falar comigo.
Logo, o Paulo não ficou zangado.
Se a vida tem sentido, então Deus existe.
Mas Deus não existe.
Logo, a vida não tem sentido.
Assim, se soubermos que algum deles é válido, ficamos a saber que os outros também o serão. Para apurar isso não precisamos sequer de saber quem foi Gerty Cori, assim como não precisamos de saber o que é uma asclépia e um auscultoscópio, ou mesmo de que Paulo estamos a falar e se é verdade ou não que Deus existe. Dado que todos eles partilham a forma lógica
Se A, então B
Não B
Logo, não A
basta verificar que tal forma torna impossível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa, simultaneamente: se as premissas forem verdadeiras, não há como a conclusão ser falsa. Esta é uma forma de inferência válida muito comum e é conhecida pelo nome latino Modus tollens: tome-se uma condicional (Se A, então B); se negarmos a sua consequente (não B), podemos inferir, ou concluir, que a sua antecedente é falsa (não A).
O quadro seguinte apresenta algumas das formas de inferência válida mais comuns.
É preciso ter cuidado para não confundir algumas destas formas com outras parecidas, mas que são inválidas e, portanto, enganadoras. Por parecerem ter formas válidas sem o terem, diz-se que são falácias formais. Há duas falácias formais muito comuns: a falácia da afirmação da consequente e a falácia da negação da antecedente. Eis um exemplo da falácia formal da afirmação da consequente:
Se a Rita estiver em casa, então está a estudar.
Ora, a Rita está a estudar.
Logo, está em casa.
Esta forma não nos impede de ter, simultaneamente, premissas verdadeiras e conclusão falsa, pelo que ela não é de confiança. É uma forma inválida, apesar de parecer válida, por ser parecida à forma Modus ponnens. Contudo, o que se verifica numa das premissas do Modus ponnens é a afirmação da antecedente da condicional que ocorre na outra premissa, ao passo que, na falácia da afirmação da consequente, uma das premissas é a afirmação da consequente da condicional que ocorre na outra premissa.
Para tornar mais clara a invalidade do argumento anterior, atente-se noutro argumento com a mesma forma:
Se Adele for portuguesa, então é europeia. [premissa verdadeira]
Ora, Adele é europeia. [premissa verdadeira]
Logo, Adele é portuguesa. [conclusão falsa]
Outra falácia formal recorrente é a da negação da antecedente, cuja forma se parece com o Modus tollens, como se pode comparar no quadro seguinte:
Eis um exemplo de uma falácia da negação da antecedente:
Se Adele for portuguesa, então é europeia. [premissa verdadeira]
Ora, Adele não é portuguesa. [premissa verdadeira]
Logo, Adele não é europeia. [conclusão falsa]
Em resumo:
- As formas de inferência válida são aqueles padrões de raciocínio em que não é possível chegar a uma conclusão falsa partindo de premissas verdadeiras.
- As falácias formais são todos os argumentos cuja forma é inválida, apesar de parecer válida.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Formas de inferência válida e falácias formais
- Área Pedagógica: Filosofia
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Aires de Almeida
- Produção: RTP
- Ano: 2020