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O museu entre os séculos XVIII e XIX

O museu entre os séculos XVIII e XIX

É no século XVIII que se conjugam as condições para que o museu se afirme como um dos polos da vida moderna e contemporânea daí em diante. O museu definir-se-á ao longo de toda a época moderna, com a sedimentação das bases do pensamento científico e do racionalismo, da história e da arqueologia, bem como do advento do estado moderno e das tónicas colocadas no individualismo e na educação. E, no caso dos museus de arte, com a progressiva afirmação da arte como um campo autónomo de trabalho e conhecimento. 

É no século XVIII que se conjugam as condições para que o museu se afirme como um dos polos da vida moderna e contemporânea daí em diante, sendo neste século que se inauguram o Museu do Louvre (Paris, 1793) e o British Museum (Londres, 1753), abrindo também ao público o já existente Museu Capitolino (Roma, 1734).

Assim, a definição do museu enquanto instituição moderna relaciona-se com um movimento que tem lugar desde inícios do Renascimento e decorre ao longo de toda a época moderna, com a sedimentação das bases do pensamento científico e do racionalismo, da história e da arqueologia, bem como do advento do estado moderno e das tónicas colocadas no individualismo e na educação. E, no caso dos museus de arte, com a progressiva afirmação da arte como um campo autónomo de trabalho e conhecimento. A que se deve adicionar, já no século XVIII, a proliferação do ideário e das práticas associadas aos iluministas, entre as quais se pode aqui destacar a Enciclopédia, de que Denis Diderot (1713-1784) foi um dos editores.

A referência à Enciclopédia  e a Diderot não surge por acaso. Para além de ser na Enciclopédia que é publicado um primeiro plano para um museu público de arte em França, através do esforço enciclopedista é possível abordar um dos papéis do museu enquanto instituição a que cabia a salvaguarda e ordenação racional de objetos num mesmo espaço, permitindo assim um estudo do mundo com aspirações a um conhecimento universal.

A História da Arte
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Porém, convirá recordar que, ao contrário da Enciclopédia, uma das especificidades do museu reside na apresentação das suas coleções num contacto de primeira ordem. Isto é, mostrando os objetos originais e, assim, potenciando uma vertente empírica da constituição do conhecimento. Neste sentido, foi talvez o British Museum que melhor pôde materializar inicialmente a noção de museu-enciclopédia na sua aceção mais ampla, apresentando coleções que iam da história natural ao desenho. 

Apesar de especializado em arte, também o Museu do Louvre procurou ao longo do tempo oferecer uma imagem universal da arte, num discurso museológico que levaria à afirmação da qualidade Deste modo, não se pode desligar a sua fundação do andamento da Revolução Francesa, que se iniciara em 1789, por duas razões diferentes, ainda que indissociáveis. Sustentado pela mostra pública da coleção do rei deposto e decapitado, a que foram adicionadas fundamentalmente peças provenientes da Igreja, o Museu do Louvre glorificava a República ao tornar visível a grandeza do passado francês enquanto nação e os seus feitos contemporâneos.

Neste último caso, tanto a nível especificamente artístico, como pela possibilidade que agora conferia aos seus cidadãos de fruir de uma coleção que, apesar de exceções, lhes estivera quase sempre vedada. Era esta uma maneira de demonstrar que aqueles bens eram agora comuns, de todos, para todos e com todos os cidadãos. 

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Com a organização do percurso museológico por épocas, nações e práticas artísticas, o museu – e já não referindo apenas o Louvre – assume-se também enquanto veículo civilizador. Desde início é valorizada a sua função pedagógica, de conhecimento do mundo e do homem por via das artes, assim potenciando a atitude crítica de todos e cada um.

A este propósito aliava-se ainda um conjunto de regras de comportamento, que podiam ir do silêncio a normas de vestuário, que por mimetismo poderiam estender-se à restante esfera pública. Deste modo, no museu realizava-se uma performance dupla, considerando-se aqui performance como uma qualquer ação que dá lugar a uma alteração de significados e, logo, de comportamentos.

Ao percorrer a cronologia, materializada nas paredes do museu, cada cidadão incorporava esse caminho de progresso, do qual o presente, a nação, o Homem e o próprio visitante eram o culminar. E se, deste modo, qualquer visitante se podia rever enquanto parte desse longo movimento histórico, podia simultaneamente encontrar em todos os outros indivíduos esse mesmo caminho, como participantes em comum dos feitos do país e da humanidade. 

Esta putativa abertura a todos os cidadãos, a sua inclusão na narrativa do país e da humanidade, bem como os seus propósitos pedagógicos, fariam do museu a imagem de um espaço democratizante.

Porém, a este ideal correspondia o desajuste de largas fatias da população às regras e a um conhecimento de base que tornasse o museu um espaço inclusivo de facto. Assim, já depois de um momento de expansão ao longo do século XIX e inícios do século XX, em que o número de museus nacionais das mais diversas especialidades aumenta exponencialmente, surgem várias críticas ao modo como aquele ideal se concretizava na prática.

Um ideal de pendor universal claramente ligado às suas origens iluministas, mas que ainda hesitava entre uma vertente enciclopedista ou de maior foco nacional, tornando ainda invisíveis mulheres, povos colonizados ou classes sociais desfavorecidas. 

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Ficha Técnica

  • Título: O museu entre os séculos XVIII e XIX
  • Área Pedagógica: História da Arte
  • Autoria: Associação de Professores de História/André Silveira
  • Ano: 2021
  • Imagem: Desenho do British Museum, Copyright British Museum