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Tese e argumento

Tese e argumento

O que é uma tese? O que é um argumento? E que relação há entre ambos? Os filósofos procuram respostas para certo tipo de problemas. Essas respostas são as suas teorias.

As teorias incluem duas partes interdependentes: a posição, ou tese, que o seu autor defende acerca desse problema; e o conjunto de razões, ou argumentos, que ele usa para defender essa posição.

A tese pode ser resumida numa frase. A defesa da tese, por sua vez, é a apresentação dos argumentos que visam sustentá-la. É, então, da maior importância identificar corretamente a tese em causa e quais os argumentos, pelo menos os principais, que visam apoiá-la.

As frases seguintes exprimem teses filosóficas:

  1. É sempre errado mentir.
  2. A beleza não existe nas coisas, mas apenas nos olhos de quem as vê.
  3. Todas as desigualdades são injustas.

As frases seguintes exprimem teses que não são filosóficas:

  1. Há seres extraterrestres inteligentes.
  2. O antigo primeiro-ministro Sá Carneiro morreu vítima de um atentado.
  3. Os dinossauros extinguiram-se devido à colisão de um asteróide com a Terra.

Eis agora frases que não exprimem qualquer tese:

  1. A água é constituída por hidrogénio e oxigénio.
  2. Platão foi um filósofo grego.
  3. Todas as aves voam.

Por que razão as seis primeiras frases exprimem teses e as três últimas não? Porque estas, diferentemente daquelas, não visam responder a problemas em aberto. Problema em aberto são aqueles para os quais não se dispõe de uma solução consensual. Quando a resposta a um problema se torna consensual, deixa de haver discussão e a questão fica encerrada. É precisamente isso que ocorre em relação ao conteúdo das frases 7, 8 e 9. Mesmo a frase 9, que é falsa, exprime uma ideia indisputavelmente falsa — não é objeto de discussão que se trata de uma falsidade.

O facto de as frases 4, 5 e 6 exprimirem teses, mostra que as questões em aberto não são um exclusivo da filosofia: os próprios especialistas das áreas em causa divergem acerca da verdade de tais afirmações. Pode ser que um dia se encontrem provas suficientemente fortes num dado sentido e as disputas terminem. Mas isso dificilmente sucederá a propósito das teses filosóficas expressas pelas frases 1, 2 e 3. Assim, à falta de provas definitivas de que uma dada tese é verdadeira, o melhor que se pode fazer para a defender é argumentar o melhor possível a seu favor. Quem não esteja de acordo e considere que a tese é falsa, resta-lhe argumentar contra ela.

Mas o que é um argumento? Um argumento é precisamente uma tentativa de defender uma ideia com base noutras ideias. À ideia que se quer provar chama-se «conclusão» e às ideias em que nos baseamos chama-se «premissas». Assim, a tese é a conclusão que queremos provar ou defender, e as razões em que nos apoiamos são as premissas. Ao conjunto de premissas e conclusão chamamos «argumento».

É importante referir que a conclusão não é o que surge no fim, mas apenas aquilo que se pretende mostrar, e que muitas vezes surge no início. No argumento seguinte, a conclusão (em negrito) surge no ínício:

Nem toda a arte é bela, pois no Museu de Serralves há obras de arte que não são belas.

Por sua vez, no argumento seguinte, a conclusão (em negrito) surge entre duas premissas:

A origem da vida inteligente depende da reunião de uma quantidade enorme de fatores. Por isso não há vida inteligente fora da Terra, dado que reunião desses fatores é praticamente irrepetível. 

Um argumento pode ter uma ou mais premissas, como se vê, mas apenas uma conclusão. Por isso, nem sempre é tarefa simples identificar um ou vários argumentos numa conversa ou num texto argumentativo, exigindo algum trabalho de interpretação. Há, contudo, expressões que são indicadoras de conclusão, como «logo», «portanto», «por isso», ou «daí que». E também há expressões indicadoras de premissa, como «porque», «pois», «dado que» ou «uma vez que».

Um último aspeto a reter é que, ao passo que as teses são verdadeiras ou falsas, os argumentos são válidos ou inválidos, corretos ou incorretos. Estes nunca são verdadeiros nem falsos e as teses nunca são, em sentido rigoroso, válidas nem inválidas.

Tipos de argumentos
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Em resumo:

  • Uma tese é uma proposta de solução para uma questão em aberto.
  • As teses são verdadeiras ou falsas.
  • Defender uma tese é apresentar argumentos a seu favor.
  • Um argumento é uma tentativa de defender uma ideia com base noutras ideias.
  • A ideia que se procura defender é a conclusão (a tese) e as ideias das quais se parte são as premissas.
  • Um argumento pode ter uma ou mais premissas, mas apenas uma conclusão.
  • Num argumento, as expressões «logo», «portanto» ou «por isso» são indicadoras de conclusão, ao passo que as expressões «porque», «pois» «dado que» são indicadoras de premissas.
  • Ao passo que as teses são verdadeiras ou falsas, os argumentos são válidos ou inválidos.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Tese e argumento
  • Área Pedagógica: Filosofia
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Aires de Almeida
  • Produção: RTP
  • Ano: 2020
  • Imagem: Foto de cottonbro no Pexels