Um cálice com mil anos

Serviu mesa nobre, foi peça sagrada da eucaristia, agora é um dos tesouros guardados no museu da Sé de Braga. O cálice de S. Geraldo tem mil anos e continua sem rival na história da ourivesaria produzida em solo português no século X, antes da reconquista.

Na base do cálice está a inscrição que nos dá a pista certa para esta história. Lá permanecem os nomes dos seus encomendadores: D. Mendo Gonçalves e D. Toda, sua mulher, os condes que governavam a terra de Portucale, um território ou estado feudal que pela sua importância, tinha sido destacado do reino da Galiza e entregue a um “dux“.

O título foi passando de pais para filhos, o que terá ajudado a manter a província unida durante décadas e porventura a fortalecer movimentos de tendências autonómicas. Porém, a independência só virá a concretizar-se com a reconquista cristã liderada por um seu tetraneto, determinado e aguerrido, construtor do trono português, D. Afonso Henriques.

D. Afonso Henriques e a transformação do condado em reino
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D. Afonso Henriques e a transformação do condado em reino

Voltemos a Mendo Gonçalves. Neto de Mumadona Dias, fundadora do castelo de S. Mamede, futuro berço da cidade de Guimarães, o duque envolve-se em várias batalhas para conter a ofensiva árabe e restaurar cidades que tinham caído sob o poder dos invasores, como foi o caso de Coimbra, que reconquistou ao lado de Fernando Magno, rei de Leão.

Apesar das lutas, das diferenças culturais e religiosas, o repovoamento das terras tomadas pelos muçulmanos, consegue muitas vezes um convívio pacífico, moderado pelos  moçárabes, o que permite uma assimilação do conhecimento e da arte característicos da civilização islâmica. O cálice, encomendado por D. Mendo para beber às refeições, é exemplo da coabitação que existia no condado de Portucale, 150 anos antes da formação do novo reino.

A peça de requintada ourivesaria, faz a síntese das duas culturas, conjugando de forma harmoniosa elementos vegetalistas, animais e frisos geométricos. Mais tarde, o cálice em prata dourada é levado pelo arcebispo S. Geraldo para a Sé de Braga, templo destruído no período suevo e visigótico e que voltaria a ser erguido a partir de 1070. Nos séculos seguintes a imponente catedral é alvo de muitas alterações e acrescentos feitos ao estilo de cada época.

Podemos conhecer melhor os traços deste lugar histórico e do seu museu, onde estão guardadas peças únicas como o Cálice e a Patena de S. Geraldo, numa visita guiada com a jornalista Paula Moura Pinheiro e a historiadora de Arte, Joana Ramôa Melo.

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Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada - Sé de Braga
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP2
  • Ano: 2014