A Cruz de Sancho I

A cruz que o segundo rei de Portugal mandou fazer depois da sua morte tem ouro, safiras, granadas e pérolas. A peça - uma criação artística ousada e sofisticada - saiu em procissões, limpou os ares da peste e sobreviveu quase intacta a 800 anos de história.

Esta cruz, peça de joalharia de rara beleza, aparece pela primeira vez referida no testamento de D. Sancho I, e toma hoje lugar de destaque entre os milhares de tesouros do Museu de Arte Antiga, em Lisboa.

O monarca, receoso da morte, preocupado com a paz da alma, divide os bens terrenos pela Igreja (apesar da longa relação conflituosa com o poder eclesiástico), pelos herdeiros legítimos e ainda beneficia os filhos bastardos. No documento de 1210 consta ainda outro desejo seu: “dou a minha copa de ouro para que façam dela uma cruz”. E assim se faz a cruz, em ouro real, pedras preciosas, decorada com elementos característicos do românico embora o recorte das hastes anuncie já o gótico, corrente estética que virá a seguir.

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Segundo reza a história, D. Sancho quis que a cruz fosse relicário de um fragmento do Santo Lenho de Cristo, objeto que herdara de Afonso Henriques, que sempre o acompanhara em vida e agora, também, por sua vontade, na morte. Será esse o destino imediato da peça doada ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra: guardar as sepulturas do filho e do pai, o primeiro rei de Portugal.

D. Sancho, o segundo rei da dinastia Afonsina, herdou em 1185, um trono que precisava de afirmar e alargar fronteiras salvaguardando a independência do reino. Com apoio militar dos cruzados, que seguiam viagem para a Terra Santa, realizou importantes mas fugazes conquistas no sul e logo se intitulou “Rei de Portugal, de Silves e do Algarve”. O monarca, porém, não seria recordado pelos fracos feitos militares, mas pelas políticas de organização da administração pública e de distribuição de terras abandonadas para fixar novos moradores. Morreu em 1211 e a história deu-lhe o cognome de Povoador.

D. Sancho I, o primeiro rei dos Algarves
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A Cruz de D. Sancho ou Cruz Processional – por ser levada em procissão -, chegou a ser penhorada por um bispo para pagar os estudos do filho, porém foi resgatada a tempo. Aqui a temos mais de 800 anos depois, peça sofisticada e “surpreendentemente moderna” para a época nas palavras do historiador de Arte Anísio Franco, a dar testemunho dos tempos dos primeiros reis de Portugal.

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Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada - Museu de Arte Antiga, Lisboa
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP2
  • Ano: 2014