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Expansão urbana

Expansão urbana

As cidades são locais de forte concentração da população pelas economias de aglomeração e sinergias criadas em torno da oferta de bens, equipamentos e serviços essenciais à qualidade de vida dos habitantes. Fatores como a acessibilidade, centralidade e qualidade das estruturas edificadas concorrem para elevar a renda locativa e consequente organização do espaço intraurbano. A morfologia da planta urbana testemunha os fatores e fases de crescimento das cidades, pelo que o seu conhecimento é essencial para a definição das políticas urbanas que melhor satisfaçam as necessidades dos seus habitantes.

A nível mundial, as cidades apresentam um conjunto característico de aspetos – população absoluta, equipamentos, estrutura da população ativa – que permitem reconhecê-las enquanto tal. No entanto, quando são comparadas cidades das economias ditas desenvolvidas e das que se encontram em desenvolvimento, a diversidade de realidades torna difícil encontrar uma definição de cidade que seja consensual e, portanto, universal.

Deste modo, existem diversos critérios de definição de cidade: os demográficos, assentes em valores de população absoluta e/ou densidade populacional; os funcionais, que avaliam os setores de atividade económica da população ativa e os mistos, que aliam uma ou mais características de cada grupo. Em Portugal, por exemplo, pela Lei nº11/82, podem obter a categoria de cidade, os núcleos com mais de 8000 eleitores e com um número mínimo de equipamentos coletivos (museu, hospital, escola, bombeiros, entre outros), conjugando-se, desta forma, os dois tipos de critérios.

Em termos globais, a percentagem de população que vive em espaço urbano relativamente à população total – taxa de urbanização – é cada vez maior, levando a uma grande pressão urbanística responsável, numa primeira fase centrípeta, pelo fenómeno de urbanização (densificação do espaço urbano) e, numa fase posterior, de fuga ao centro da cidade, pelo fenómeno de suburbanização (ocupação da área periférica do núcleo urbano).

Este processo torna-se ainda mais complexo e os limites da cidade ainda mais difusos, quando áreas mais periféricas aos subúrbios passam a ficar urbanizadas, mas mantendo alguns aspetos rurais (periurbanização) e quando áreas rurais distantes passam a incorporar alguns elementos urbanos por força dos movimentos pendulares e modo de vida dos seus residentes (rurbanização) – Fig.1.

Fig. 1 – Expansão do perímetro urbano. APROFGEO

As áreas metropolitanas resultam do crescimento e expansão do perímetro urbano de duas ou mais cidades, de tal modo que a ligação entre ambos gera um território urbano contínuo – conurbação (Fig. 2A e 2B). Este processo dá origem a uma malha urbana complexa liderada por uma cidade central da qual dependem para acesso de bens, equipamentos e principais funções, as cidades satélite que estão em seu redor.

A morfologia urbana está fortemente ligada a fatores históricos e culturais que se materializam na respetiva malha urbana que pode ser ortogonal, radioconcêntrica e irregular.

Na planta ortogonal, as ruas são perpendiculares, por vezes resultado de um plano urbanístico de reconstrução de uma área que lhe confere o traçado geométrico (Fig.3A,3B). Na malha radioconcêntrica, existe uma praça central em redor da qual se dispõem as vias circulares intersetadas por radiais que partem da praça central (Fig.4A,4B). Na planta irregular, o traçado das ruas é aleatório, não havendo um critério comum de sentido e largura (Fig.5A,5B).

Pelo facto de o crescimento das cidades ser contínuo ao longo do tempo, é comum coexistirem dois ou mais tipos de planta. Em Lisboa, por exemplo, os bairros históricos mais antigos apresentam um traçado irregular, ao passo que a malha das principais artérias do Terreiro do Paço e Avenidas Novas já é ortogonal.

Um aspeto comum em todas as cidades é que a área central, normalmente a mais antiga e base da expansão do edificado, é, por razões históricas, mais valorizada em virtude da maior acessibilidade. Com efeito, o elevado número de acessos a esse lugar, torna o mesmo atrativo para a implantação das diferentes atividades, aumentando o seu valor fundiário e imobiliário. O aumento da renda locativa é responsável pela diferenciação funcional do espaço intraurbano, na medida em que nem todas as funções conseguem concorrer para ocupar esses lugares centrais.

Em consequência, e à medida que nos afastamos do centro ou baixa – Central Business District (CBD) – o espaço intraurbano é segmentado em áreas onde determinadas funções urbanas são dominantes pela capacidade de suportar os encargos relativos aos valores fundiários praticados no local. Por norma, as funções terciárias, sobretudo, as que oferecem bens raros, localizam-se no centro e apresentam uma área de influência– hinterland – maior, pois a população está disposta a percorrer o seu raio de eficiência, isto é, o limiar máximo da distância para aceder a esses bens. No que diz respeito às funções industrial e residencial, estas são mais características da periferia, apoiadas pela crescente mobilidade e taxa de motorização das famílias (Fig.6).

Fig. 6 – Variação do valor do solo urbano numa cidade monocêntrica. APROFGEO

No processo de expansão urbana, há locais que, não sendo próximos do centro, tornam-se centrais por adquirirem novos espaços de comércio/lazer, arranjos paisagísticos, maior acessibilidade ou qualidade do parque habitacional. Muitas vezes, impulsionados por processos de reabilitação e requalificação urbana, estes processos são acompanhados pela chegada de residentes com um estatuto socioeconómico superior, uma das características do fenómeno de gentrificação. Quando isto sucede, a cidade deixa de ser monocêntrica e passa a ser policêntrica (Fig.7).

Fig. 7 – Variação do valor do solo urbano numa cidade policêntrica. APROFGEO

Sistema urbano e coesão territorial
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Sistema urbano e coesão territorial

Turistificação
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Turistificação

SÍNTESE

  • A nível mundial, as cidades apresentam características muito distintas, sendo difícil uma definição consensual e universal do conceito, aceitando-se vários tipos de critérios: demográficos, funcionais e mistos.
  • A crescente urbanização além do perímetro urbano, a que estão associados fenómenos como a suburbanização, periurbanização e rurbanização, culmina frequentemente na conurbação de duas ou mais cidades, originando as chamadas áreas metropolitanas.
  • A malha urbana testemunha as fases de crescimento das cidades, sendo frequente a coexistência de vários tipos na mesma cidade. Os três tipos mais comuns são: a ortogonal; a radioconcêntrica e a irregular.
  • O espaço intraurbano está organizado em áreas funcionais onde determinadas funções urbanas são dominantes de acordo com a acessibilidade e consequente renda locativa inerentes a cada área.
  • Em resultado de processos de revitalização urbana, é comum emergirem nas cidades novos lugares centrais, para além do CBD, polarizadores da atividade económica e de funções raras, bem como de população com estatuto socioeconómico superior.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: População e Povoamento - . Os espaços organizados pela população / As dinâmicas internas das áreas urbanas / A rede urbana e as relações campo-cidade
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação de Professores de Geografia
  • Ano: 2021
  • Imagem: Paisagem noturna de grande metrópole, Laura Tancredi / Pexels