A casa que fez Sophia sonhar uma baleia
Antes de escrever, coisa que faz precocemente a partir dos doze anos, Sophia observa e escuta o mundo nos jardins da quinta dos Andresen. A infância em "território fabuloso" deixa memórias que habitam poemas e contos infantis. Desses universos oníricos mergulhou uma baleia no átrio "desmedidamente grande" da casa dos avós, agora Galeria da Biodiversidade. Recordamos a poeta numa entrevista à filha primogénita, Maria Andresen.
“Tudo na casa era desmedidamente grande” escreveu Sophia sobre o lugar real da infância a que tantas vezes voltou em prosa e poesia. A quinta do Campo Alegre, onde funciona agora o Jardim Botânico do Porto e a Galeria da Biodiversidade foi, para a bisneta do dinamarquês Jan Hendrik, um reino de jardins encantados, um tempo vital de aventuras, dos primeiros contactos deslumbrados com as coisas belas da natureza.
As experiências da menina que aos três anos é ensinada a recitar a Nau Catrineta vão atravessar os contos infantis, primeiro apenas destinados aos seus cinco filhos, contados quando estes estavam doentes, como aqui recorda a primogénita Maria Andresen. Mas o seu “território fabuloso” ficou gravado em papel, em livros que têm passado de geração em geração.
A primeira história a ser publicada, “O Rapaz de Bronze” (1956), é inspirada nos jardins do palacete de cor vermelha onde o clã se reunia para festejar o Natal. No conto “A Saga”, nas “Histórias da Terra e do Mar” (1984), a poeta descreve-o como sendo um espaço onde as crianças andavam de bicicleta nos quartos, e no átrio “se poderia armar o esqueleto da baleia”. Finalmente o enorme mamífero que dera à costa em 1937 e que “repousava, empacotado em numerosos volumes, nas caves da Faculdade de Ciências (…)” cumpre o sonho de Sophia, suspenso à entrada da casa onde outrora brincou.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Página 2 - Centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen
- Tipologia: Entrevista com Maria Andresen de Sousa Tavares
- Autoria: Sandra Sousa
- Produção: RTP
- Ano: 2018