Mobilidade da População: consequências
A mobilidade é um atributo intrínseco do ser humano. Desde o Homo erectus que o planeta tem assistido a migrações humanas que atravessam regiões e continentes, motivadas por razões muito diversas. Mas foi há cerca de 80 mil anos, numa grande migração, a partir do coração de África, que se deu a “colonização” do resto do planeta pelos humanos modernos. Com a necessidade do Homem se deslocar entre lugares, estabeleceram-se rotas que marcaram a vida das regiões, alterando a vida dos lugares atravessados. Quando o número de pessoas que se desloca é muito elevado, os movimentos migratórios afetam indelevelmente as áreas de partida, mas também têm repercussões sociais, económicas, demográficas e ambientais nas áreas de destino.
Desde 2009, mais de 55% da população mundial, equivalente a mais de 7,6 mil milhões de pessoas, habita em cidades, estimando-se que ascenda a 66%, em 2050. Em 2030, 41 megalópoles no mundo terão uma população superior a 10 milhões de habitantes. Estes números mostram que as cidades estão submetidas à pressão da migração, com uma procura cada vez maior por emprego, habitação, infraestruturas e serviços, ou seja, por melhor qualidade de vida.
Em Portugal (Fig.1), o êxodo rural ocorrido nas décadas de 60 e 70, contribuiu para o despovoamento do interior do país, de onde a população mais jovem e em idade ativa saiu em direção ao litoral, mas também em direção ao estrangeiro, cruzando fronteiras e fixando-se em países como a França, Alemanha e Luxemburgo, pela falta de perspetivas de futuro e pelo regime ditatorial acrescido do risco de mobilização para a guerra colonial em África.
Graças à elevada emigração, Portugal registou um saldo migratório negativo (número de emigrantes superior ao número de imigrantes) que se manteve até final da década de 80, apenas interrompido em meados da década de 70 pela queda do regime ditatorial e consequente regresso de milhares de portugueses que viviam nas ex-colónias.
Nos anos 90, mercê de uma melhoria das condições de vida, sobretudo, após a entrada de Portugal na União Europeia (1986) e acesso aos fundos estruturais, Portugal passou a ser procurado por um grande contingente de imigrantes, principalmente oriundos do Brasil e Europa de Leste, o que tornou o saldo migratório positivo (número de imigrantes superior ao número de emigrantes) – Fig.2.
Em virtude do êxodo rural e emigração, desde então, o interior do país tem vindo a assistir a um despovoamento com decréscimo acentuado da população residente, mas também a um envelhecimento que tem hipotecado o desenvolvimento dessas regiões.
Por oposição, acentua-se a litoralização, com a população rural a concentrar-se, principalmente, nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, impulsionando as atividades económicas e a atratividade da região litoral, mas colocando em causa a capacidade de carga humana e o frágil equilíbrio ambiental desta em virtude da sobreocupação do espaço e da pressão sobre os recursos naturais.
O crescimento das grandes cidades, em Portugal e no mundo, deu-se por expansão do centro para a periferia, ocupando o espaço rural periférico, num processo conhecido como a suburbanização. Neste processo, os meios de transporte desempenharam um papel muito importante pois permitiram fazer a ligação entre as áreas residenciais mais afastadas e as áreas centrais de maior concentração de atividades económicas.
O comboio e o automóvel permitem que entre os locais de residência e de trabalho se desenhem diariamente fluxos populacionais denominados de movimentos pendulares, de caráter temporário, pois repetem-se a cada dia, gerando um dos principais problemas das grandes cidades – os congestionamentos de tráfego (Fig.3).
Os movimentos migratórios de longa duração, como a emigração, podem ter várias repercussões, não só no país de destino, mas também no país de origem da população.
Em muitas ocasiões, as pessoas migram em massa, o que reduz consideravelmente o quantitativo populacional do seu país, sobretudo de jovens, promovendo o envelhecimento e a diminuição da taxa de natalidade, mas em contrapartida, reduzindo o desemprego.
No país de acolhimento, os emigrantes aceitam empregos que a população desse país não está disposta a preencher por serem pouco qualificados e mal remunerados. Depois de se estabelecerem, por norma, enviam as poupanças para o seu país de origem, ajudando os familiares, contudo, muitas vezes, estas remessas não são suficientes para que os mesmos saiam da pobreza em pouco tempo.
Por um lado, o envio das remessas e os investimentos dinamizam a economia local, mas por outro, com a saída de jovens em idade ativa, perdem-se as possibilidades de consumo e de empreendedorismo que dinamizem a atividade económica das áreas de partida.
Os imigrantes têm as suas próprias tradições, língua e religião, que podem ser substancialmente diferentes das da sociedade que os acolhe. Estas diferenças podem enriquecer culturalmente a sociedade de acolhimento, tornando-se mais aberta e plural à medida que nela coexistem diferentes povos e culturas. Contudo, não é menos frequente o surgimento de movimentos xenófobos de locais que consideram os estrangeiros como um prejuízo para a sociedade por serem perigosos e contaminarem a sua própria cultura.
SÍNTESE
- Os movimentos migratórios ou os simples fluxos populacionais decorrem da necessidade do ser humano se deslocar entre diferentes regiões, motivado por fatores tão diversos como a procura de emprego e melhores condições de vida, a fuga a catástrofes naturais ou a deslocação diária de casa para o trabalho e no percurso inverso.
- As migrações podem ser internas ou internacionais, consoante a população se desloque apenas dentro do país, como no caso do êxodo rural ou dos movimentos pendulares, ou atravesse fronteiras, como a emigração.
- Quanto maior for o número de pessoas que participam nos fluxos migratórios, maiores serão os impactes económicos, demográficos, sociais e ambientais nas áreas de origem e destino dos respetivos fluxos.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: População e Povoamento - A população utilizadora de recursos e organizadora de espaços / A distribuição da população
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação de Professores de Geografia
- Ano: 2021
- Imagem: Imagem de passaportes - documento necessário à mobilidade, PXHERE