Jornalismo e participação dos cidadãos
Formação de públicos ativos e críticos em relação à informação
As notícias são essenciais para uma democracia saudável. Ao fornecer informação fidedigna e rigorosa, assente na verificação das fontes e na contextualização dos factos, o jornalismo dá às pessoas o que elas precisam para fazer escolhas sustentadas, tomar decisões, ler criticamente a realidade, participar e intervir civicamente. Por isso mesmo, ajuda a formar cidadãos ativos, uma peça chave para o funcionamento da democracia. E, quanto melhor informados estiverem, melhor podem agir.
Podemos dizer que hoje, mais do que nunca, a “informação” está em todo o lado, a cada minuto. Mas, como diz Jane Singer, professora na Universidade City (Londres), enquanto todos os jornalistas ainda publicam informação, nem todos os que publicam informação são jornalistas. É por isso que hoje, mais do que nunca, o jornalismo – baseado na disciplina da verificação, na credibilidade, na ética e na responsabilidade para com os cidadãos – é cada vez mais necessário.
Para além disso, uma das funções essenciais do jornalismo consiste igualmente em proporcionar fóruns através dos quais várias vozes podem ser ouvidas, pressupondo uma abertura aos seus públicos, que são, em última análise, a sua razão de existir. E, se hoje podemos identificar uma miríade diversificada de veículos participativos através do quais os cidadãos podem dar a sua opinião – na imprensa, na rádio, na televisão e no ambiente digital – a vontade do jornalismo em escutar o que as audiências têm para dizer não é propriamente nova. Na imprensa, secções publicadas regularmente com cartas dos leitores existem desde o início do século XX e constituíram uma forma de encorajar o envolvimento do cidadão comum com os jornais.
Mais recentemente, o desenvolvimento das tecnologias digitais fez com que as audiências passassem a desempenhar um papel cada vez mais importante na comunicação pública. Dos blogues aos comentários online, dos fóruns de discussão aos debates mediados pelas redes sociais, estes novos espaços de debate e de discussão pública permitiram um alargamento exponencial da capacidade de voz ativa dos públicos.
Muitas vezes, são as próprias organizações jornalísticas a incentivar essa participação, não só a nível da opinião ou do comentário sobre assuntos que estão na ordem do dia, mas também no que respeita aos próprios processos de produção jornalística. Quantas vezes não vimos já nos telejornais vídeos amadores a documentar uma catástrofe ou um acidente, em situações em que o jornalista não pode estar presente? É claro que, ao contrário do que acontece nas redes sociais, há aqui, à partida, todo um processo de verificação e de autenticação prévia do material que é enviado pelo público.
Mais participação pode não ser, porém, sinónimo de melhor participação. Num novo ecossistema mediático, é certo que há mais oportunidades de interação com as audiências – mas também há muitos mais riscos. Particularmente no ambiente digital, a desinformação, a agressividade discursiva, a hostilidade direcionada aos jornalistas ou até mesmo os discursos de ódio contra comunidades marginalizadas têm constituído fatores de desgaste (e de preocupação) para as organizações jornalísticas.
Uma ligação mais forte do jornalismo com os seus públicos não passa, pois, nem por ter uma grande quantidade de veículos participativos, nem (muito menos) por olhar para as audiências como números que se podem rentabilizar. O envolvimento dos jornalistas nos espaços que disponibilizam para a participação, a interação e o diálogo com os cidadãos, um melhor conhecimento das suas preocupações, a criação de fóruns onde todos se sintam seguros e confortáveis para partilhar ideias podem ser alguns dos caminhos possíveis para tornar essa aproximação uma realidade.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Formação de públicos ativos e críticos em relação à informação - Jornalismo e participação dos cidadãos
- Área Pedagógica: Ensino para os Media
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Marisa Torres Silva - Associação Literacia para os Media e Jornalismo (ALPMJ)
- Produção: RTP
- Ano: 2021
- Imagem: Foto de Pavel Wolskyi no Pexels