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Do Ultimato ao fim da Monarquia

Como o Ultimato fez crescer o Partido Republicano

Como o Ultimato fez crescer o Partido Republicano

A cedência de D. Carlos face às exigências do Ultimato Inglês de 1890 ampliou o descrédito da monarquia e o crescimento do Partido Republicano, que intensificou a sua propaganda. As consequências económico-sociais da crise financeira, o impasse político do rotativismo, a ditadura de João Franco e o regicídio foram outros fatores que contribuíram para a queda da Monarquia Constitucional.

O Ultimato Inglês de 11 de janeiro de 1890 marcou o fim das pretensões imperialistas de Portugal sobre o domínio dos territórios africanos entre Angola a Moçambique, apresentadas no Mapa cor-de-rosa na Conferência de Berlim (1884-85). Essas pretensões chocaram com as britânicas que pretendia construir uma ligação ferroviária entre o Cairo e a Cidade do Cabo.

O “Mapa Cor-de-Rosa” e o “Ultimato Inglês”
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Como Portugal não conseguia cumprir o princípio de ocupação efetiva dos territórios com colonos decidido na Conferência a Inglaterra exigiu a retirada imediata das tropas portuguesas aí estacionadas sob pena de corte de relações diplomáticas e uso de força armada. A cedência do rei D. Carlos provocou o descontentamento popular e aumentou o descrédito da instituição monárquica, o que foi explorado pelo Partido Republicano que levou a cabo uma intensa campanha de propaganda contra a monarquia (e contra os britânicos).

No entanto, o rei D. Carlos teria dificuldade em proceder de outra forma porque não só não tinha população para colonizar, como enfrentava uma grave crise económico-financeira, resultante da crise mundial de 1890, que em Portugal tomou proporções maiores devido à balança comercial negativa, aos empréstimos internacionais (com juros elevados) e à redução das remessas dos emigrantes.

A escassez de moeda associada à fragilidade da indústria e à predominância de uma agricultura pouco modernizada (apesar das melhorias técnicas registadas nalguns setores de produção) deixou Portugal em situação de quase bancarrota mais do que uma vez nos anos seguintes. A crise económica provocou a estagnação da produção e o aumento das falências e do desemprego, bem como da desconfiança do operariado (e do campesinato) face às medidas dos governos da monarquia constitucional, que pareciam mais preocupados em defender os interesses da grande burguesia industrial e financeira. Se os operários se queixavam dos baixos salários que não permitia acompanhar a inflação, a pequena e média burguesia queixava-se do aumento de impostos, fatores que agravavam as suas condições de vida.

A promessa de que a implantação da República resolveria os problemas do país fez crescer o Partido Republicano, aumentando a massa de apoiantes entre os intelectuais, operários e militares dos meios citadinos. De facto, a primeira tentativa de derrube da monarquia foi um levantamento militar, no Porto, a 31 de janeiro de 1890.

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As promessas do Partido Republicano fizeram-no eleger deputados para as Cortes, tendo estes usado a tribuna da Câmara dos Deputados para exigir a queda da monarquia difundindo cada vez mais a defesa da democracia em contexto republicano. Os discursos republicanos punham em causa o rotativismo entre os partidos Regenerador e Progressista e inflamaram-se ainda mais com o escândalo político dos adiantamentos à casa real para fazer face a despesas com roupas, joias ou automóveis num país em crise económica.

A ideologia republicana foi ainda difundida na imprensa, em comícios e em cerimónias de evocação patriota, sendo também defendida em organizações secretas como a Maçonaria e a Carbonária.

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O clima de divergência política nas Cortes chegou a um estado tal que, em 1906, o rei aceitou a proposta de João Franco para a sua dissolução e instituição de uma ditadura. Tal atitude exacerbou a reação, quer do Partido Republicano, quer dos partidos mais conservadores, tendo a tensão política atingido o auge em 1 de fevereiro de 1908 com o regicídio, em Lisboa, do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro, D. Luís Filipe. Este ato, levado a cabo por Manuel Buíça e Alfredo Costa (elementos da Carbonária) não teve como consequência imediata a queda da monarquia.

D. Manuel II foi aclamado rei e manteve a monarquia constitucional, mas apesar da reabertura das Cortes não conseguiu fazer face ao descontentamento político e social.

Síntese:

  • O Ultimato Inglês delimitou as pretensões imperialistas de Portugal em África, reduziu a popularidade da monarquia e fez crescer o apoio ao Partido Republicano.
  • O Partido Republicano, através dos deputados eleitos, denunciava as Cortes os problemas do país e apontava a democracia em contexto republicano como solução.
  • O endividamento externo, a crise económica e financeira, o aumento de impostos, a questão dos adiantamentos à casa real e a ditadura de João Franco constituíram outros fatores de descrédito da Monarquia Constitucional.
  • O regicídio evidenciou bem o descontentamento com a monarquia e a impreparação política de D. Manuel II acabou por conduzir à sua queda em 5 de outubro de 1910.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Relacionar o Ultimato Inglês de 1890 com o aumento do descrédito da instituição monárquica e com o crescimento do Partido Republicano. Identificar outros fatores que contribuíram para a queda da Monarquia Constitucional, destacando a ditadura de João Franco e o regicídio de 1908
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/ Mariana Lagarto
  • Ano: 2021
  • Imagem: O rei D. Carlos e João Franco em 1907, Arquivo Municipal de Lisboa