José Cardoso Pires: prosa sem adjetivos

Considerado sobretudo como um romancista, José Cardoso Pires (1925-1988), natural de Castelo Branco, mas com a vida toda feita em Lisboa e algumas breves passagens pelo estrangeiro, percorre todos os géneros literários: escreve contos, peças de teatro, ensaios, crónicas e faz tradução. Começou no jornalismo em 1949, ano em que publica o primeiro livro “Os Caminheiros e Outros Contos”, uma edição de autor financiada por amigos, como Alves Redol e Alexandre O´Neill. Para trás deixa o curso de Matemáticas, do qual desistira por falta de vocação, e uma provável carreira na Marinha, terminada em expulsão por indisciplina.

Na carreira de escritor mantém o espírito marinheiro, sem rumo definido por estilos ou estéticas vigentes;  cada obra é uma nova terra a descobrir, em isolamento completo : “escrever é duro, é muito trabalho, mas o que se escreve sem esforço ninguém lerá com gosto”, diz numa entrevista.

Veja Também

José Cardoso Pires, o escritor diante das suas memórias

Embora nos primeiros contos estabeleça uma relação com o neorrealismo, mais pelo ideário de resistência ao regime fascista do que por um modelo de literatura, e receba influências do conto norte-americano personificado em Ernest Hemingway, Cardoso Pires cultiva uma narrativa cinematográfica, em prosa seca, sem adjetivos. Mestre dos diálogos, faz retratos certeiros da sociedade portuguesa, antes e depois do 25 de Abril.

No fim da vida, deixa-nos “De Profundis Valsa Lenta”, uma viagem “à memória da não memória”, a única narrativa autobiográfica em que relata o acidente vascular cerebral que o atingiu em 1995. Em quase 50 anos de carreira literária, a obra de José Cardoso Pires é traduzida para várias línguas e adaptada ao teatro e cinema. Nesta peça, a escritora Inês Pedrosa recorda “o homem que se entregava à vida”.