A atribulada vida de Luís de Camões

Manejava a pena e a espada com igual destreza. Poeta e soldado, Luís Vaz não era como os outros autores do seu tempo. Tinha, aliás, tudo para ser inimitável. Aventuras e amores, dissabores e pesados castigos acumulam-se ao longo desta curta existência. Da cosmopolita Lisboa do século XVI partiu, desterrado, para o Oriente. Navegou nos mares de Vasco da Gama e fez a viagem da sua vida. Dela regressou mais pobre ainda, mas com uma obra de valor incalculável. Vamos segui-lo nestas e noutras histórias com a biógrafa Isabel Rio Novo.

Panorâmica de Lisboa no século XVI

Nos anos da juventude, Luís de Camões estava na cidade onde tudo acontecia. Lisboa podia não ser o centro geográfico do mundo, mas o mundo passava pela capital do reino que governava um império ultramarino. Servia como montra de todos os lugares por onde andavam os navegadores portugueses. Ali se misturavam culturas, etnias, luxos e exotismos difíceis de imaginar e impossíveis de ignorar.  

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Este ambiente multicultural e cosmopolita talvez tenha despertado no jovem um certo ímpeto aventureiro, uma vontade de viajar e de repetir, como soldado, os feitos da História coletiva. Antes, porém, havia de dar largas a outras aventuras. Ou a desventuras.  

Frequentador de salões palacianos e de estabelecimentos mal-afamados, Camões convivia com todo o tipo de gente e arranjava problemas com as autoridades. Boémio, erudito, sedutor, impulsivo, o escudeiro talentoso que escrevia versos e cartas a troco de dinheiro, não resistia a uma boa escaramuça. Deve ter sido por isso, ou, talvez, por amores ilícitos que vai combater nos mares de Ceuta, de onde volta com um olho perdido, desvenda Isabel Rio Novo, que sobre ele escreveu uma nova biografia.  

Retrato de Luís de Camões na Cadeia do Tronco

Depois deste episódio trágico que o deixa desfigurado, Camões continuará intempestivo, sem vintém e a envolver-se em desacatos. Até que um desembainhar de espada contra um fidalgo o conduz à cadeia do Tronco e a uma segunda parte do seu destino. Consegue o perdão real a troco de uma espécie de exílio forçado, no Oriente. O itinerário começa no Restelo, na ocidental praia lusitana, e vai cruzar os mares outrora navegados por Vasco da Gama.  

Belém e praia do Restelo, século XVI

Nesses longos anos em que serviu como soldado e provedor dos defuntos, em que perseguiu sonhos e prosseguiu rebelde, Luís Vaz inicia e termina o poema que dá voz a um povo. Regressado a Lisboa, doente e na miséria, alcança a glória de ver o primeiro exemplar do seu manuscrito impresso na oficina António Gonçalves, em 1572. É a obra épica do poeta que, na assentada de um verso resumia a existência a erros seus, má fortuna e amores ardentes. Uma vida, acrescenta-se neste “Visita Guiada”, também ela com dimensão épica. 

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Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada - A Atribulada Vida de Luís de Camões
  • Tipologia: Programa de Cultura Geral
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2024