A crise das democracias e o surgimento dos fascismos
As democracias liberais saíram desacreditadas da Grande Depressão. As instituições e mecanismos democráticos pareciam impotentes perante a crise económica e social que se instalou de forma duradoura. Foram várias as soluções extremistas que chegaram ao poder na Europa ao longo da década de 1930. Apesar das especificidades nacionais de cada um dos regimes fascistas, partilhavam um conjunto de caraterísticas comuns.
O pós-guerra ficou marcado por uma intensa crise económica e social. No final da década de 20, o mundo era uma vez mais atingido por uma recessão. As duas conjunturas de crise económica foram fatores importantes para compreender o triunfo de Mussolini em Itália e de Hitler na Alemanha. No entanto, não foram o único fator.
O impacto da recessão na Grã-Bretanha ou nos EUA foi devastador, mas o movimento fascista não chegou ao poder. Nos países onde as soluções autoritárias triunfaram os problemas sociais e económicos tiveram de se aliar a outros motivos, nomeadamente ao descrédito dos regimes demoliberais.
A democracia estava intrinsecamente associada ao liberalismo económico. Assim, quando a situação se tornou catastrófica, com níveis de desemprego elevados, a população perdeu a confiança nas instituições democráticas e nos seus representantes. O fracasso do liberalismo económico vai ser um argumento usado pelos movimentos fascistas e comunistas para atacarem a democracia.
(Os fascismos) reivindicavam o direito “total” sobre os indivíduos, criando quase uma “religião” de grupo, à qual associaram uma liturgia própria, com desfiles, paradas, saudações e uniformes.
No período de entre-guerras, a base eleitoral e a representação parlamentar dos partidos de extrema-direita e dos partidos comunistas aumentou. Face a estas forças centrífugas, o sistema político fragmentou-se e as sociedades polarizaram-se.
Isto explica por que motivo, nas eleições os partidos fascistas e comunistas aumentaram o número de votos, enquanto os partidos do centro perderam eleitorado. Face à perceção da ameaça socialista, do sentimento de insegurança e de desordem, o fascismo exerceu uma enorme atração.
A “Marcha sobre Roma” de Mussolini funcionou mesmo como um modelo, seguido por outros países, tanto na Europa como em todo o mundo.
Os princípios ideológicos do(s) fascismo(s)
Apesar dos diversos regimes fascistas terem características próprias, alguns princípios ideológicos foram comuns a todos. Um dos principais elementos é o nacionalismo radical.
No caso alemão, foi a derrota e as imposições do Tratado de Versalhes que alimentaram esse nacionalismo. No que diz respeito à Itália, o ressentimento resultou da perceção de uma vitória mutilada.
Estas soluções extremistas foram igualmente uma reação face a supostas ameaças ao território, à segurança coletiva e à unidade nacional. O comunismo era considerado uma das principais ameaças. Os regimes fascistas eram, por isso, antissocialistas e anti-comunistas, propondo-se pôr fim à agitação interna e restaurar a ordem. Exaltavam a grandeza da nação, os valores da comunidade nacional e apregoavam a unidade em torno de um líder carismático, que a propaganda afirmava representar os interesses do povo.
Perante a crise, o fascismo responsabilizou as instituições e os mecanismos da democracia, como os parlamentos, pela fraqueza e pela incapacidade de responderem aos problemas económicos e sociais. Acusavam a democracia de promover a divisão e, em oposição, veiculavam um discurso de unidade nacional. Estes regimes eram, portanto, antiparlamentares e antiliberais e pretendiam instaurar ditaduras de partido único.
Como consequência do seu nacionalismo exacerbado, defendiam um modelo económico que aspirava à autarcia. Defendiam igualmente a organização político-económico corporativista, reivindicavam a necessidade de construir grandes impérios e eram militaristas.
Rejeitavam todas as liberdades que pudessem pôr em causa essa unidade e a autoridade ilimitada do poder. Por isso eliminaram, ou limitaram, as formas de representação política, as liberdade pessoais e assumiram o controlo dos meios de comunicação.
Por outro lado promoveram o culto da violência e da força, criando estados policiais. Uma vez no poder implementaram mecanismos de repressão e de perseguição da oposição e das minorias, através da instauração polícias políticas e, em alguns casos, campos de concentração.
Reivindicavam o direito “total” sobre os indivíduos, criando quase uma “religião” de grupo, à qual associaram uma liturgia própria, com desfiles, paradas, saudações e uniformes. A mobilização total do indivíduo era concretizada através de organizações de enquadramento da sociedade e do partido único.
Síntese
- As duas conjunturas de crise económica foram fatores importantes para compreender o triunfo de Mussolini em Itália e de Hitler na Alemanha.
- Quando a situação se tornou catastrófica, com níveis de desemprego elevados, a população perdeu a confiança nas instituições democráticas e nos seus representantes.
- Face à perceção da ameaça socialista e do sentimento de insegurança e de desordem, o fascismo exerceu uma enorme atração.
- Apesar de os diversos regimes que surgiram terem características próprias, alguns princípios ideológicos foram comuns a todos.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Relacionar as consequências da Grande Depressão com o crescente descrédito dos regimes demoliberais, salientando os momentos de crise económica e social como conjunturas favoráveis ao crescimento dos adeptos de propostas extremistas. Caracterizar os princípios ideológicos comuns ao(s) fascismo(s), nomeadamente o nacionalismo, o antiliberalismo e antissocialismo, a autarcia como modelo económico as organizações e formas de enquadramento de massas e de repressão desenvolvidos por estes regimes. As opções totalitárias: os fascismos, teoria e práticas: uma nova ordem nacionalista, antiliberal e antissocialista; elites e enquadramento das massas; o culto da força e da violência e a negação dos direitos humanos; a autarcia como modelo económico. A irradiação do fascismo no mundo.
- Tipologia: Explicadores
- Autoria: Associação dos Professores de História/ Cláudia Ninhos
- Ano: 2021
- Imagem: Mussolini na marcha sobre Roma em 1922